Pandemia pode acelerar uso de bioenergia
sexta-feira, julho 10, 2020
As mudanças provocadas na sociedade por conta da pandemia do coronavírus deverão gerar transformações permanentes e poderão acelerar a adoção da bioenergia. Essa foi a principal conclusão de especialistas, ao final do webinar Biomass and Sustainability — realizado pela Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), como parte do programa de pesquisa da Fundação, em Bioenergia (Bioen).
Bioenergia é o nome dado à energia obtida por meio da biomassa (matéria orgânica produzida pelos seres vivos e utilizada para geração energética). Essa energia resultante pode ser utilizada na produção de calor, eletricidade e combustíveis.
A biomassa, por sua vez, é uma fonte de energia renovável que gera poucos poluentes, sendo, portanto, uma boa alternativa para as fontes de energia convencionais, as quais dominam a matriz energética mundial.
“A pandemia do novo coronavírus impôs rápidas mudanças que talvez se tornem permanentes. Mudanças no comportamento da sociedade, do perfil de gastos, das prioridades políticas e mesmo do funcionamento da economia”, disse à Agência Fapesp, Marco Antonio Zago, presidente do Conselho Superior da Fundação, na abertura do webinar.
“No fim desse período agudo, talvez o resultado seja acelerar e concentrar, em um período de tempo muito curto, mudanças globais que já estão ocorrendo. Uma dessas tendências é a substituição das fontes não renováveis de energia por alternativas como a bioenergia”, avaliou.
Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp, ressaltou que o programa de bioenergia da Fundação é um sucesso não apenas pelos dez anos de existência e cerca de 400 projetos, além de mais de 200 empresas financiadas. Segundo Mello, a iniciativa é bem-sucedida por gerar conhecimento que contribui para o desenvolvimento da área, mas também pelos resultados na implementação do uso da bioenergia.
“Sabe-se das discussões entre Nikola Tesla e Thomas Edison sobre a forma que a energia poderia ser mais bem armazenada e transmitida para os consumidores. Essa é uma mostra de que nem sempre a melhor solução vence. Sempre há um aspecto de quão bem posicionado estão os diferentes atores. Esse evento contribui para que as melhores soluções prevaleçam”, salientou.
Unicamp trabalha por avanços
Um dos programas de utilização de bionergia em desenvolvimento na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), por exemplo, é a criação de um Laboratório de Biocombustíveis Avançados de Segunda Geração (A2G).
A missão do laboratório A2G é desenvolver e permitir a implantação de tecnologias disruptivas de segunda geração para a produção sustentável de bioetanol a partir de cana-de-açúcar e cana-energia a um custo muito menor do que a tecnologia atual. Todos os esforços no domínio da sustentabilidade considerarão o impacto e os custos da implantação da bioenergia com a intenção de alcançar resultados ambientais e sociais benéficos.
Saiba mais
As principais fontes para produção de bioenergia provêm de matérias-primas renováveis, como:
Madeira
Produtos agrícolas (milho, cereais)
Dejetos orgânicos (serragem, lixo orgânico)
Bagaço da cana-de-açúcar
Vegetais e frutas.
Componente é essencial na matriz energética do País
A tradição do cultivo da cana-de-açúcar contribui para que o Brasil tenha uma matriz energética com mais de 40% de renováveis
Glaucia Mendes Souza, coordenadora do Bioen, lembrou que o programa de bioenergia da Fundação começou em 2009 e hoje a bioenergia tem sido, cada vez mais, vista como um componente essencial da matriz energética brasileira, que já tem 42% de fontes renováveis. “A bioenergia tem de ser expandida de forma a mitigar as mudanças climáticas e permitir o desenvolvimento sustentável. É a única opção disponível para a substituição de combustíveis fósseis para muitos setores da economia”, disse à Agência Fapesp.
A pesquisadora lembrou que não há outro país no mundo além do Brasil com uma população maior que 6 milhões de habitantes que tenha uma matriz energética com mais de 40% de renováveis. Um dos componentes-chave que contribuíram para tal cenário foi a longa tradição de produzir açúcar no Interior, mas também a capacidade de produzir hidroeletricidade e, mais recentemente, etanol, eletricidade a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar e biodiesel.
“Outro componente-chave é a forte pesquisa no tema. O Brasil é o líder em publicações nesse campo, então somos muito gratos à robusta comunidade de cientistas que tem trabalhado nesse assunto por tantos anos”, explicou.
De acordo com Souza, um importante resultado do Bioen foi aumentar a articulação entre pesquisadores em estudos transdisciplinares, o que impactou diretamente a qualidade de políticas públicas geradas no setor. Ela citou as pesquisas que deram origem ao primeiro motor flex desenvolvido no Brasil, em 2003, além dos avanços em genômica que permitiram que, no fim do ano passado, fosse publicado o genoma mais completo até então de um cultivar comercial de cana-de-açúcar.
Fonte: Correio Popular
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