Ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do BC pedem responsabilidade ambiental na retomada
quarta-feira, julho 15, 2020
Uma série de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central lançaram carta ontem, terça-feira, com um apelo pela retomada da economia com responsabilidade social e ambiental, num momento em que investidores globais têm feito exigências quanto a contenção de desmatamentos para seguirem colocando recursos no país.
O grupo “Convergência pelo Brasil”, que reúne integrantes de governos de diferentes espectros ideológicos, defende que critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera sejam integrados à gestão de política econômica.
Nesse sentido, a carta pede apoio à economia de baixo carbono, citando a produção de energia eólica e de biodiesel como iniciativas positivas, além da necessidade de eliminação dos subsídios a combustíveis fósseis.
A carta também coloca como desafio o fim do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, argumentando que para além dos danos ambientais e climáticos, o desmatamento também acarreta impacto reputacional para o país.
Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, que ocupou a cadeira no governo de Itamar Franco e também de Fernando Henrique Cardoso, o país vive hoje um retrocesso na política ambiental.
Em coletiva virtual de imprensa, ele avaliou que o momento é de controle e limitação dos danos ambientais, com necessidade de pressão da sociedade para tanto. Loyola também ponderou que governos estaduais e municipais podem ter papel importante para ajudar a mitigar a falta de política ambiental do governo federal.
“Recado mais importante é para todo mundo acordar e entender que isso não é jogo de roubar montinho, é um ganha ganha. Estamos num caminho errado e é tolice insistir nessa direção”, afirmou o ex-presidente do BC Armínio Fraga, que se disse pessimista, mas esperançoso “ainda”.
Já o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, que atuou na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, avaliou ser notável que empresas brasileiras estejam manifestando seu compromisso e interesse com a questão climática por entenderem que esse é um aspecto fundamental do negócio.
Ele afirmou que uma sinalização contundente na direção da responsabilidade social e ambiental pode ter “retorno muito grande” não só por parte do investidor estrangeiro, como também do investidor doméstico.
“Ele tendo confiança que esse é o caminho, isso abre portas para gente voltar a crescer, trazer (de volta) o nosso investimento que está em níveis históricos mais baixos que se possa imaginar. A gente precisa provavelmente aumentar 2, 3, 4 pontos percentuais do PIB em investimento, que é uma tarefa enorme”, disse Levy.
Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco, avaliou que o presidente Jair Bolsonaro recebeu o apoio maciço de grileiros, desmatadores e mineradores ilegais e que há postura de cumplicidade por parte do governo.
“Eu acho muito difícil depois de tudo que tem acontecido manter alguma ilusão sobre a posição deste governo”, afirmou ele.
“É claro que começa a se esboçar uma reação por causa dos danos que isso já está a causar no exterior, mas até agora é uma operação puramente de relações públicas”, completou, reforçando que o índice de desmatamento segue muito alto.
“O máximo que se pode desejar ou esperar na base de uma pressão crescente e contínua é o que os americanos chamam de limitar os danos. Porque se não houver isso, esse governo até o fim do seu mandato fará ainda destruições mais irreversíveis”, disse Ricupero.
Também assinam a carta Alexandre Tombini, Eduardo Guardia, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Krause, Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Moreira, Nelson Barbosa, Pedro Malan, Persio Arida e Zélia Cardoso de Mello.
Na véspera, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu cooperação internacional na área ambiental, afirmando que o Brasil precisa de apoio e compreensão no seu esforço de fiscalizar a preservação dos seus recursos naturais.
Em discurso na sessão de abertura de cúpula ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com países da América Latina e Caribe, Guedes disse que o Brasil é um dos países que melhor defendem seus recursos naturais e sabe respeitar o meio-ambiente e os povos indígenas, mas argumentou que o território é grande e que o governo precisa de apoio para atuar “da melhor forma possível”.
Fonte: Reuters
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