De milho a cana, empresas apostam no ‘plástico verde’
quarta-feira, fevereiro 26, 2020
De acordo
com a European Bioplastics, associação das empresas do setor, os plásticos
feitos a partir de fontes renováveis respondem por apenas 1% da produção global
de plásticos, de 359 milhões de toneladas. Mas uma série de iniciativas deve
incrementar essa fatia, inclusive no Brasil.
— Há um esforço de toda a indústria
em criar novos plásticos, mais leves e mais fáceis de serem reciclados, a
partir de fontes renováveis. Essas soluções ainda são muito novas e muitas
ainda estão em fase inicial. Mas são extremante importantes para o futuro –
disse José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira da Indústria do
Plástico (Abiplast).
No Brasil, a Braskem, maior
produtora de resinas da América Latina, vem investindo no desenvolvimento de
plásticos a partir da cana-de-açúcar. A companhia tem uma unidade no Rio Grande
do Sul voltada para esse tipo de plástico, que consumiu investimentos de US$
290 milhões.
A empresa se prepara para atingir
a produção de 10 mil toneladas por ano de uma resina a partir do etanol
(chamada de Eva), que tem aplicação para diversos setores, como o de calçados e
automotivo, entre outros. E estuda ampliar suas operações.
— A gente imagina que a demanda
pelo plástico verde vai crescer mais rápido do que a do plástico de origem
fóssil (a partir do petróleo), e a gente avalia oportunidade de novos investimentos
— disse Edison Terra, vice-presidente da Unidade de Olefinas e Poliolefinas da
Braskem na América do Sul.
Segundo ele, há uma demanda
crescente no mercado por esse tipo de produto, e a companhia tem analisado
novas alternativas possíveis de investimento, mas ainda não foi tomada qualquer
decisão nesse sentido.
— Trabalhamos em diferentes
opções de aumento de capacidade da produção do plástico verde. Estamos sempre
atentos a oportunidades de negócios sustentáveis — afirmou Terra, destacando
que a companhia vem desenvolvendo pesquisas para buscar outras fontes renováveis.
Na ponta dessa cadeia, a
indústria vem adotando com rapidez as inovações. É o caso da Copapa, uma
fabricante de papel higiênico que usa plástico feito a partir do milho.
Fernando Pinheiro, diretor executivo da Copapa, lembra que, ao iniciar uma série
de mudanças sustentáveis em sua linha de produção, buscou novas opções para o
plástico usado nas embalagens do papel higiênico.
Após estudar alternativas, passou
a usar uma resina a partir do milho, que é importada da Alemanha. A troca faz
parte dos R$ 10 milhões que a companhia investiu em pesquisa e desenvolvimento.
— O plástico ganhou uma fama de
vilão no mundo todo. Hoje, a dificuldade é buscar os fornecedores certos.
Apesar de termos um custo maior com o plástico feito de milho, reduzimos a
margem de lucro para que o produto fosse acessível – disse Pinheiro, cuja
unidade fabril fica em Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro.
Kate Melges, especialista na
campanha de plástico do Greenpeace nos Estados Unidos, critica a busca pelo
plástico verde. Ela diz que mudar de plástico descartável para papel,
bioplástico ou até materiais compostáveis não é solução.
— Isso é apenas uma lavagem verde
usada por multinacionais para manter viva a cultura descartável. E com apenas
9% do plástico produzido realmente reciclado no mundo, sabemos que esse também
não é o caminho a seguir — afirmou Kate.
Para ela, não se pode considerar
o plástico de base biológica recurso renovável:
— Não é renovável, pois há
pressões do uso da terra e de emissões e processos agrícolas. O plástico de
base biológica representa cerca de 1% do plástico do mundo. E a maioria do
mercado não é 100% (de fonte renovável), mas, sim, uma combinação de material
com origem em combustível fóssil e não fóssil.
Além da busca de mais fontes
renováveis, outra área de atuação da indústria é a reciclagem do plástico. O
Brasil tem hoje um índice de reciclagem de 26%, percentual bem abaixo do de
países da Europa,como Portugal, Espanha e Alemanha, cuja taxa oscila entre 40%
e 50%.
Edison Terra, vice-presidente da
Unidade de Olefinas e Poliolefinas da Braskem na América do Sul, destaca as
iniciativas que visam ao reaproveitamento do plástico. Segundo ele, outra
frente de trabalho é conseguir produzir novamente uma resina plástica com
qualidade a partir da reciclagem dos materiais usados.
— Temos trabalhado de forma
conjunta com toda a cadeia petroquímica para encontrar soluções para os resíduos
de plásticos, porque é um problema que não dá para ignorar — explicou Terra.
Hoje, no Brasil, a reciclagem de
plástico ainda é pequena: cerca de um quarto de todo o material descartado é
reaproveitado, dizem a Braskem e a associação do setor.
— Estamos investindo no
desenvolvimento de tecnologias no campo da reciclagem química, e o nosso foco é
transformar plásticos pós-consumo, como sacolinhas de mercado e filmes de
embalagens de salgadinhos e biscoitos, novamente em produtos químicos que podem
ser utilizados em diversas cadeias de valor — destacou Terra.
A SC Jonhson, fabricante de
produtos como Off e Raid, selou uma parceria com a canadense Plastic Bank, que
recolhe e recicla garrafas e sacos que chegam aos mares.
A organização, que acabou de
abrir três centros de coleta no Rio, vai inaugurar seis novas unidades entre
fevereiro e maio deste ano.
David Katz, presidente da empresa
e idealizador da iniciativa, diz que os novos locais ainda não foram definidos.
— Pretendemos estar em áreas
vulneráveis socialmente, perto da região da Baía de Guanabara. O Rio é a nossa
primeira cidade escolhida fora da Ásia — afirmou.
A Plastic Bank paga pelo plástico
que recebe de catadores. Segundo o Sindicato Independente de Recicladores do
Rio de Janeiro, existem cerca de 300 mil catadores independentes que dependem
da coleta de materiais recicláveis nas ruas.
O que o centro de coleta faz é
revender esse plástico a empresas. A SC Jonhson, por exemplo, vai lançar neste
ano uma garrafa 100% reciclada para uma de suas marcas.
— Construir uma infraestrutura
que interrompa o ciclo desses resíduos antes que terminem no oceano é
fundamental — disse Fisk Johnson, presidente do Conselho de Administração e
presidente executivo da SC Johnson.(R. O. e B. R.)
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