Alta do petróleo abre espaço para carros movidos a eletricidade e gás
segunda-feira, fevereiro 24, 2020
Diante da escalada do preço
dos combustíveis, é urgente buscar alternativas à gasolina e ao diesel. As perspectivas
são promissoras, com veículos elétricos, abertura do mercado de gás natural, o programa Renovabio, que incentiva o
uso de biocombustíveis, e o
desenvolvimento do biogás. Contudo, ainda falta infraestrutura para garantir a oferta
na ponta, ou seja, levar esses combustíveis ao tanque dos carros dos
brasileiros.
A secretária de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Renata Isfer, explica que o governo quer ampliar a
diversidade na matriz, para que o próprio mercado defina qual tecnologia será
mais viável. “Temos opções de carro
elétrico, etanol, veículos a gás. Quanto mais, melhor. Os
combustíveis competem entre si. Isso é bom para o consumidor”, diz.
Como os carros elétricos ainda são caros, a
participação deles na frota é inexpressiva. Dos mais de 40 milhões de veículos
que circulam no país, apenas 20 mil são híbridos/elétricos, segundo a
Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A questão da bateria, que dura apenas
cinco anos, e não é de descarte simples, por ser altamente poluente, também
trava o desenvolvimento do setor.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vem ajudando a estimular o mercado,
regulamentando a instalação e o uso de eletropostos para
veículos elétricos. Em todo o país, há 63 estações de recarga. “Uma chamada de
P&D deve movimentar R$ 463,8 milhões em 30 projetos de instalação de
centenas de eletropostos. Além disso, os veículos elétricos plug-in podem ser
recarregados nas residências”, informa a Aneel.
Energia do lixo
O biogás é o combustível do futuro, mas num
horizonte ainda distante. Produzido de resíduos e rejeitos, é altamente sustentável. “Daqui a 10 anos, estaremos em outra
realidade, com combustível feito do lixo”, diz Renata. De acordo com a
Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), o potencial de produção no Brasil
chega a 50,4 bilhões de metros cúbicos (m³) por ano, volume suficiente para
suprir 70% da demanda de diesel no país.
Enquanto o biogás não se desenvolve plenamente, uma
alternativa mais viável é aumentar a participação do gás natural veicular (GNV) e do gás natural liquefeito (GNL), com o Novo Mercado do Gás. Segundo números
da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), até 2030, o Brasil deve quase
triplicar a produção líquida de gás natural, saindo dos atuais 59 milhões para
147 milhões de m³/dia.
Hoje, no entanto, o mercado de gás do Brasil é
incipiente diante do potencial que tem, sobretudo com o pré-sal. “Isso porque a Petrobras é o principal
agente do início ao fim da cadeia: produtora de gás, única proprietária de
infraestrutura e maior consumidora, porque detém termelétricas. Por mais que se
tenha aberto o mercado em 1997, os incentivos não foram suficientes para outros
concorrentes entrarem”, explica a secretária do MME. “É aí que entra o Novo
Mercado. Uma das frentes é acabar com o monopólio da Petrobras”, diz.
Segundo
Renata, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a petroleira
celebraram um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) e a estatal vai vender sua
participação nas transportadoras, sendo que a Transportadora Associada de Gás
(TAG) já foi vendida, assim como a TGB, ex-subsidiária de operação do gasoduto.
“Um projeto de lei vai permitir o compartilhamento das estruturas da Petrobras.
Houve correção da tributação e incentivo aos estados para aprimorarem os
regulamentos às distribuidoras de gás, que são estaduais”, enumera.
Integrar o setor de
gás com o elétrico e o industrial para aumentar a demanda também poderá
desenvolver o mercado. Com essas medidas, o governo espera ampliar a
participação do gás também como combustível de carros. A oferta, hoje, depende
da região, porque, para transportar gás, é preciso duto, ou convertê-lo em GNL
para colocar no tanque do caminhão. “No Rio de Janeiro, todos os táxis e carros
de motoristas de aplicativos têm GNV. Em Brasília, há pouco, porque o custo de
trazer o gás para o centro do país é mais alto, e o preço deixa de ser
competitivo”, justifica.
Atualmente, 1.570
postos comercializam GNV no país. Existem 14 unidade de processamento de gás
natural, que podem converter gás em líquido, e há três terminais de GNL — na
Baía de Guanabara (RJ), em Conde (BA) e em Pecém (CE) —, um em fase de testes
em Coqueiros (SE), outro em construção no Porto do Açu (RJ) e um projeto para
Barcarena (PA). “Mas existem iniciativas muito interessantes em andamento. A
Golar, empresa de transporte de GNL, fez um memorando de entendimento com a BR
Distribuidora, que vai fornecer a infraestrutura de abastecimento nos seus
postos”, revela.
De olho no
crescimento do mercado do gás, a Scania Latin America anuncia o início da
produção local e inédita de caminhões movidos a GNV e GNL. De acordo com Gustavo
Bonini, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da empresa, a
decisão de apostar em combustíveis alternativos foi tomada considerando o gás
do pré-sal e o biogás do agronegócio. “O governo está falando muito no gás, um
choque de energia como alternativa ao diesel. A Scania está apostando nisso”,
conta.
Produto sustentável
Mais sustentável do
que os carros elétricos, movidos à eletricidade — que pode ser gerada de fontes
não renováveis, e cujas baterias são poluentes —, os biocombustíveis ajudam a
capturar CO² no processo de crescimento das plantas que dão origem ao produto.
Hoje, 31% de todo o combustível consumido no Brasil é biocombustível. Com o
Renovabio, que entrou em vigor em dezembro do ano passado, a expectativa é
chegar a 39% em 2029. Isso inclui as misturas de 27% de etanol na gasolina e de
12% de biodiesel no diesel. Em 2023, serão 15%, o chamado B15. “O aumento é
gradativo, de um ponto percentual ao ano, para os produtores se adequarem à
demanda”, assinala a secretária do MME, Renata Isfer.
O biodiesel pode ser
produzido a partir de soja, mamona, macaúba, gorduras vegetais e até sebo de gado. Com o
Renovabio, as empresas que emitem CO² terão que comprar certificados, chamados
Cbios, para compensar. Com isso, a expectativa é aumentar o consumo de
biocombustíveis. “O etanol já
é competitivo. Quando tiver mais competição e incentivo para gerar mais etanol,
a tendência é baixar o preço. Como parte da gasolina é etanol, o litro do
derivado também pode baratear na ponta para o consumidor”, estima.
O
diretor-superintendente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis
(Aprobio), Júlio Minelli, explica que, mesmo que a previsão seja chegar ao B15
em 2023, a legislação já permite que as distribuidoras adquiram e misturem mais
biodiesel. “O setor espera chegar ao B20, ganhando um ponto percentual até
2028. Sabemos que os motores não dão problema. Em alguns países, há utilização
de 100% de biocombustíveis.”
O dirigente diz que,
em Curitiba, há ônibus que rodam com 100% de biodiesel. “Em relação ao B7
(diesel com 7% de biocombustível), o consumo foi de 6,5% a mais, pequena
diferença”, destaca. “As montadoras estão aprimorando a tecnologia. A partir de
2023, usarão novos equipamentos para restringir a poluição e rodar com maior
quantidade biodiesel”, revela.
Fonte: Correio Braziliense
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