Rios aéreos ou rios voadores são imensas massas de vapor de água que circulam invisíveis na atmosfera, propelidos pelos ventos. A umidade contida nesses rios precipita na forma de chuva quando encontra condições meteorológicas propícias, como uma frente fria, por exemplo.
O principal rio voador do Brasil tem origem na franja equatorial do oceano Atlântico (nordeste brasileiro), viaja para oeste rumo à Região Norte movido pelos ventos elísios e aumenta significativamente de volume ao incorporar a umidade da evapotranspiração da floresta amazônica. Parte dessa umidade cai como chuva sobre a mata tropical, que depois retorna à atmosfera como vapor de agua, dando início a um novo ciclo hídrico. Outra parte segue até encontrar a barreira da Cordilheira dos Andes, desde onde escorrega rumo ao sul do Brasil, promovendo chuvas nas regiões Centro Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina. Sem essa umidade, o centro-sul brasileiro seria alguma coisa parecida a um deserto. A Região Nordeste, apesar de ser o berço do rio aéreo amazônico, pouco se beneficia do mesmo.
Estima-se em 200 milhões de litros/segundo o volume de vapor de água que evapora da floresta amazônica e é transportada pelos rios aéreos da região. Esse volume de água, embora invisível, pode ter a mesma ordem de grandeza da vazão do rio Amazonas. Sem o acidente geográfico representado pela Cordilheira dos Andes, essa umidade seria conduzida para outros países ou para o mar, prejudicando o Brasil, que seria um país diferente; certamente pior. A floresta amazônica, possivelmente, não existiria sem a presença do enorme paredão de 4 km de altura da Cordilheira, que devolve a umidade para o interior do Brasil, inibindo a formação de desertos em nosso território.
Embora o rio aéreo amazônico seja o maior do Brasil, há duas dezenas de outras correntezas aéreas carregadas de vapor de água que cruzam o espaço aéreo brasileiro, a uma altura não superior a três km e responsáveis por chuvas que caem em diferentes pontos do território nacional. O próprio Rio Amazonas é resultado das precipitações da umidade contida nos rios aéreos que transitam sobre a região.
Parte da umidade do rio aéreo amazônico que chega à Cordilheira dos Andes não é rebatida de volta ao continente, mas congelada no topo dessas montanhas, dando início aos inúmeros afluentes do Rio Amazonas, a partir do seu degelo.
Os rios aéreos não são um privilégio do Brasil. Eles respondem pela maioria das precipitações pluviométricas que ocorrem pelo mundo. O clima brasileiro é muito dependente dos rios aéreos formados a partir da evapotranspiração da grande floresta tropical. Se o Brasil não tem desertos, ao contrário da maioria dos países de dimensões continentais como o nosso, devemos ao enorme volume de vapor de água que transita sobre nosso território, proveniente da floresta amazônica.
A floresta amazônica é um patrimônio brasileiro que precisa ser preservado. Se bem possa parecer um desperdício deixar esta imensa reserva intocada, ela rende bilhões de dólares anuais em benefícios indiretos.
Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa
Fonte: AgroLink
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