Bahia, Goiás e Minas Gerais batem recordes de desmatamento no Cerrado
quinta-feira, março 16, 2023
Novos dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), divulgados nesta quarta-feira (15), revelam que a área desmatada desse bioma na Bahia, em Minas Gerais e Goiás bateu recordes históricos em fevereiro.
O SAD Cerrado é uma ferramenta que monitora o desmatamento no bioma, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em parceria com a rede MapBiomas e com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
O mês passado teve o maior índice de desmatamento por hectare na Bahia, Minas Gerais e Goiás desde que o sistema iniciou o monitoramento. Esses estados representam metade do total de área desmatada em fevereiro.
O número de hectares derrubados no Cerrado foi também o maior registrado nos últimos seis meses. A devastação no bioma quase dobrou em comparação ao mesmo período de 2022.
O aumento da destruição do Cerrado ocorre após uma queda registrada em janeiro, que não durou muito. Em fevereiro, o desmate foi de 86,8 mil hectares de vegetação nativa em todo o bioma — um aumento de 86,4% em relação ao mês anterior, quando 46,5 mil hectares foram derrubados.
“É preciso analisar com cautela a motivação por trás dessas grandes áreas desmatadas, principalmente por ser um período com alta cobertura de nuvens que normalmente resulta em uma subestimação da área desmatada”, avalia Tarsila Andrade, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) que atua no SAD Cerrado, em comunicado.
Desmatamento por estado
Em fevereiro, o Cerrado teve 22.187 hectares desmatados na Bahia. Isso corresponde a um aumento preocupante de 227% em relação ao mesmo mês em 2022, quando houve um desmate de 6.778 hectares.
Já em Minas Gerais foram derrubados 10.007 hectares, um aumento de 82,5%, ou 4.517 hectares, em relação a 2022. Por sua vez, em Goiás, 10.849 hectares de vegetação nativa foram abaixo, acréscimo de 69% em relação ao ano passado, quando foram desmatados 6.421 hectares.
Os municípios baianos São Desidério, Correntina, Barreiras, Jaborandi e Cocos foram os líderes no desmatamento. Juntos, eles somam 16% de todo o Cerrado desmatado no primeiro bimestre de 2023.
Segundo Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM, o desmatamento atinge uma área estratégica do bioma. “As áreas remanescentes de vegetação nativa no oeste baiano têm um papel-chave na manutenção da biodiversidade na região, pois servem como habitats importantes para espécies endêmicas e ameaçadas, como o arapaçu-de-wagler e a arara azul grande”, diz.
O problema na região atingiu, em maior parte, áreas extensas com alertas maiores do que 50 hectares desmatados. Esses se concentram, principalmente, em propriedades privadas — cerca de 15,6 mil hectares ou 98,3%.
Considerando todo o Cerrado, a tendência foi parecida: 90,5% da área desmatada em fevereiro foi em áreas privadas. Além disso, em mais da metade (53,6%) da área destruída, alertas foram maiores que 50 hectares.
A partir de dados do MapBiomas, os pesquisadores notaram que 74,1% do desmatamento ocorre em áreas de formação savânica, que tem sido alvo da expansão agrícola nas últimas duas décadas, principalmente para a soja.
Os impactos, segundo o SAD Cerrado, podem ser severos para a biodiversidade por esses novos desmatamentos serem fronteiriços e concentrarem grandes focos em áreas de expansão agrícola onde já havia pouca preservação.
A questão também prejudica a formação de corredores ecológicos que conectam remanescentes e contribuem para a ameaça de espécies e isolamento de áreas protegidas. Para consultar relatórios de alertas de janeiro de 2023 e do ano de 2022, acesse este link. No painel interativo, é possível selecionar estado, município, categoria fundiária e o intervalo temporal.
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