Como a cooperação internacional pode ajudar a alavancar a bioeconomia no Brasil?
quarta-feira, setembro 21, 2022
O crescimento de uma visão econômica mais sustentável e inclusiva a partir dos insumos da biodiversidade é boa notícia para os brasileiros. Nosso país tem grande potencial de crescimento nessa área, pois abriga uma enorme diversidade de vida em todos os seus biomas, com destaque para a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Vários países têm investido no fomento a cadeias de valor que conservam a biodiversidade e restauram ecossistemas nativos por aqui. Além das possibilidades de ganho financeiro, o interesse de fora vem da clareza de que preservar a natureza brasileira é vital para a sobrevivência da humanidade no planeta.
Não existe solução única, porque estamos falando de uma variedade de produtos e contextos tão grandes quanto o nosso território. No entanto, precisamos divulgar o que já vem acontecendo porque, apesar de ser um desafio complexo, muitas comunidades já executam, com sucesso, iniciativas que preservam e geram emprego e renda para quem vive e conhece aquele ecossistema. Esses projetos precisam de investimento para conseguirem ganhar escala e é aí que a cooperação internacional entra, suportando e impulsionando esse desenvolvimento. Um dos destaques da programação da última edição da Conexão Pelo Clima, a maior feira de negócios da área no Brasil, foi um painel sobre o assunto, que discutiu as estratégias internacionais para alavancar a bioeconomia no Brasil.
“Precisamos de todos os atores juntos, incluindo os setores privado, público, organizações locais, sociedade civil e comunicação, para fazer acontecer”, afirma Juliana Tinoco, da Partnerships for Forests (P4F), programa do governo britânico que, há 4 anos na América Latina, implementa e apoia soluções que combatem o desmatamento e melhoram os meios de subsistência investindo em florestas e uso sustentável da terra. O programa, que também opera em países da África Central, do Leste e Oeste e no Sudeste Asiático, está lançando o filme “Parceiros da Floresta”, que rodou os três continentes evidenciando casos de parcerias que geram soluções com benefícios compartilhados.
Para o diretor de Clima, Energia e Baixo Carbono da Embaixada do Reino Unido no Brasil, Richard Ridout, o relógio está girando e não podemos perder mais tempo. “Há anos tentamos convencer o mundo de que a mudança climática é real. E aqui estamos”, lamentou, lembrando das temperaturas extremas que seu país enfrentou nesse verão. “A busca por prosperidade deve fazer parte do conceito de bioeconomia, mas não vamos conseguir isso se não protegermos a natureza, independente de quão sofisticados forem nossos meios”, destacou. Para ele, trata-se de uma negociação que vai além das fronteiras entre países.
Segundo Richard Ridout, os investidores do Reino Unido estão procurando projetos no Brasil porque sabem que é uma boa ideia dar escala a boas soluções, tornando-as mais sofisticadas. “Acredito que temos centenas, se não milhares de Bill Gates e Steve Jobs vivendo na floresta amazônica agora. Precisamos, de alguma forma, facilitar o trabalho dessas pessoas”, completou.
Todas as principais potências econômicas do mundo têm planos em andamento para parar totalmente de emitir gases de efeito estufa em um futuro próximo e a bioeconomia pode contribuir significativamente para que eles alcancem esse objetivo.
E também para gerar empregos e negócios. “Nós acreditamos que é perfeitamente possível conciliar crescimento econômico e proteção ambiental e queremos ser parte dessa solução e apoiar iniciativas que funcionam”, afirmou o Chefe da Cooperação da Delegação da União Europeia no Brasil, Stefan Agne. Ele lembrou que o Reino Unido já vem apoiando a área há vários anos e, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto de Pesquisas pela Amazônia (IPAM), tem projetos que apoiam comunidades indígenas e tradicionais, ajudando, por exemplo, a recuperar pastagens degradadas.
Para Stefan Agne, não é preciso “reinventar a roda”, pois o Brasil tem, além de muita capacidade, boas iniciativas em andamento. “Nosso objetivo é fortalecê-las, tanto com capital, quanto com o conhecimento que a Europa já tem sobre a área e outras parcerias”. A Delegação da União Europeia no Brasil está, neste momento, à procura de outros setores para apoiar, numa busca por fortalecer laços com governos locais, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa, empresas e investidores. “Queremos fazer a diferença no chão”, citou o líder, lembrando um projeto em parceria com o Sebrae do Pará, que visa capacitar fazendeiros para que eles possam fazer melhores planos de negócios e identificar oportunidades em seus territórios.
Entre os países europeus, a Alemanha tem um dos maiores programas de investimento em bioeconomia no Brasil. “Estamos vivendo uma transformação da economia, baseada no respeito e uso sustentável da diversidade biológica e cultural”, afirma André Lamerding-Berdau, diretor do Programa Biosfera na Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ). Segundo ele, a Alemanha tem implementado vários projetos internacionais para a sustentabilidade e, no Brasil, a prioridade é a conservação da Amazônia e uso sustentável de recursos naturais, numa aproximação inclusiva com iniciativas já em andamento no território. Atualmente, há parcerias nos estados do Acre, Amazonas, Amapá e Pará, em projetos que visam melhorar o valor agregado de produtos como cacau, açaí e castanha do Brasil.
O governo americano é outro que aposta no Brasil para minimizar a crise do clima e desenvolve programas aqui há décadas. E eles não veem o agronegócio, a indústria e o setor privado como inimigos. Pelo contrário. Para o Conselheiro Ambiental da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Glenn Fedzer, esses atores são importantes parceiros. “Mas precisamos reconhecer que qualquer solução precisa, necessariamente, incluir as pessoas”, destaca. “Todos precisam ser parte da conversa ou nossas soluções não serão viáveis", completa.
As empresas brasileiras também precisam e podem fazer mais. Os Estados Unidos fazem parte da coalizão First Movers Coalition junto de mais 25 parceiros que saíram da COP26 com o compromisso de trabalhar coletivamente para encontrar melhores alternativas para lidar com a mudança do clima criando novos mercados para tecnologias limpas. Segundo Glenn, nenhuma empresa da América do Sul faz parte do grupo, mas eles querem colocar empresas brasileiras no jogo. “Nós estamos disponibilizando US$ 36 milhões para financiar projetos nessa área. Se você quer uma parte desse dinheiro, avise”.
Apesar de as mudanças climáticas serem um problema global, os programas internacionais não acreditam que a saída seja. “Pelo contrário, ela envolve milhares de soluções locais e é isso que queremos apoiar”, explica Glenn Fedzer. “Por isso temos que trabalhar em parcerias, cada ator fazendo a sua parte”. O Brasil pode e que a gente precisa fazer mais. Mas, como também destacou Glenn: “não podemos fazer isso sozinhos, nem separados cada um no seu país”.
Fonte: Um só Planeta
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