Amazônia: antídoto contra o desmatamento envolve valorizar a sociobiodiversidade da floresta
terça-feira, setembro 06, 2022
A Amazônia ocupa uma posição global de destaque em termos de biodiversidade e é foco indispensável dos esforços globais para a mitigação das mudanças climáticas. Parte das ações para preservar o bioma, essencial para o equilíbrio da vida no Planeta, passa por desbravar caminhos para promover uma economia próspera e inclusiva na floresta.
Por isso, valorizar a atuação de cooperativas, associações, povos tradicionais, comunidades e agricultores familiares que buscam se integrar de forma sustentável aos mercados regional, nacional e até internacional é um caminho urgente para impulsionar a transformação ambiental e social na floresta e estimular um olhar mais preocupado com o futuro da humanidade e diverso.
Fortalecer, adaptar e criar modelos e instrumentos para a gestão orientada voltada ao mercado verde e a promoção de cadeias de produtos sustentáveis da socio biodiversidade na região Amazônica foi a tônica da live especial promovida nesta segunda-feira (5) pelo Um Só Planeta, na data em que se comemora o Dia da Amazônia. O debate contou com a participação de Álisson Maranho, diretor técnico da ONG SOS Amazônia; André Luiz Vianna, diretor técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM); e Bianca Darksi Silva, pesquisadora na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamiraúa e co-fundadora da Rede Conexões Amazônicas.
Para os especialistas, promover desenvolvimento a partir da conservação do bioma passa pela valorização da socio biodiversidade. Assim, é possível aumentar a renda de cidadãos, comunidades tradicionais e agricultores familiares, integrando as cadeias de produtos florestais não madeireiros da Região Amazônica em mercados dinâmicos e diversificados – o que ajuda a agregar valor à floresta tropical para os povos e comunidades tradicionais e encorajá-los a fazer o melhor para preservar os recursos florestais.
"A socio biodiversidade tem uma atuação muito focada em desenvolver o potencial de produtos da floresta para que as pessoas também prosperem. Esse termo representa a relação das pessoas associada a como se utiliza os produtos da biodiversidade. Tem essa relação de todos os elementos da diversidade biológica relacionados a cultivos tradicionais e o uso desses recursos na cadeia produtiva", define Maranho.
Os especialistas ponderaram que promover esse tipo de atuação depende de assessoria técnica e uma política que apoie o diálogo, em um esforço para adaptar os instrumentos existentes à realidade da Amazônia e, assim, melhorar a qualidade e a eficácia dos serviços para organizações e cooperativas de produtores – unindo a população à preservação da floresta.
"A gente pensa muito em diversidade associada à biodiversidade que exclui o ser humano, mas esse conceito social [da socio biodiversidade] traz o foco, a visão da conexão. E a gente pode também trabalhar para ter uma vida mais sustentável e conectada. Nós não estamos separados da natureza", define Bianca.
Contudo, os desafios para o desenvolvimento dessas cadeias de valor são muitos: é preciso garantir maior investimento em infraestrutura, em tecnologia, empoderamento das comunidades, desenvolvimento de habilidades e conhecimento, boas práticas de produção, cooperativismo, e relação com o mercado consumidor mais qualificado e justo.
"Na Amazônia, as cadeias de produtos ainda estão muito ligadas às matérias-primas. Estudos têm demonstrado que nas cadeias do açaí, por exemplo, 90% do valor agregado fica fora do país. Então exportamos matéria-prima para que vire produtos farmacêuticos e outros itens com valor agregado muito grande fora do país", diz André Vianna, defendo a importância do país investir em estruturas de beneficiamento internas que gerem um produto de valor agregado maior.
"Temos também um grande desafio de logística, envolvendo alto custo e um trabalho muito grande. Em produtos como a madeira, o maior custo é a parte logística. Então precisamos trabalhar isso, e é importante que exista investimento: tecnológico, em ciência, e de assessoria técnica, em gestão, porque empreendimento comunitários têm uma dificuldade em liderar um negócio", acrescenta Vianna.
Conforme Álisson Maranho, da ONG SOS Amazônia, organizações sociais locais possuem potencial de desenvolvimento econômico e especialmente de inclusão social, de gênero e de fixação do jovem em suas comunidades. "Procuramos associar a produção com famílias que estão fazendo trabalho de preservação, e nisso adicionamos quase o dobro do valor em cima por pagamento de serviço ambiental. Viabilizar esses negócios é um caminho superimportante, mas ainda temos uma série de obstáculos para superar, como a dificuldade de acesso a crédito, por exemplo", pontua.
Explicando que a falta de preservação da floresta, além do desastre ambiental, também está diretamente relacionada a indicadores ruins de desenvolvimento humano, André Luiz, do IDESAM, chama atenção para o simbolismo do "território" na Floresta Amazônia. "Vemos a importância do elemento cultural e a questão do território, uma vez que as populações tradicionais são muito ligadas ao seu território", comenta.
Dessa forma, prossegue, apoiar a socio biodiversidade fortalece o combate ao desmatamento ilegal e à pobreza, por exemplo, que têm uma ligação forte. "Onde houve aumento do desmatamento ilegal na Amazônia, não há melhorias na qualidade de vida das populações. Por isso atuamos no sentido de estar nessas cadeias de valor como uma ferramenta para gerar melhorias de vida e de renda com conservação florestal", afirma.
Para Bianca Darksi Silva, que atua na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamiraúa – a primeira do tipo no país, criada por decreto do governo do Amazonas –, a experiência de conciliar a conservação da biodiversidade com o desenvolvimento sustentável em uma unidade habitada também por populações humanas é um exemplo que tem dado certo.
"Atuamos principalmente em pesquisa, manejo e desenvolvimento sustentável. Fomos a primeira reserva de desenvolvimento sustentável no Brasil, modalidade que permite que pessoas habitem essas áreas protegidas. Então, em vez de criar uma grande cerca, essa iniciativa permitem a habitação ao mesmo tempo em que incentiva um ambiente protegido em harmonia entre ser humano e floresta", descreve ela, incentivando oportunidades de fortalecimento das cadeias produtivas extrativistas e de geração de renda para as comunidades tradicionais que vivem nessa região de grande biodiversidade.
Fonte: Um só Planeta
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