A Macaúba é a mais promissora entre as espécies de palmeira como fonte de matéria-prima para biocombustíveis
terça-feira, setembro 20, 2022
A mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas é um dos principais desafios que a humanidade tem enfrentado nas últimas décadas. Entre os setores que mais emitem gases de efeito estufa (GEE), o setor de transportes ganha destaque, representando cerca de um quarto de todas as emissões, além de ser o setor com o maior aumento de emissões nos últimos anos (UNEP, 2019).
Diante deste cenário, o uso dos biocombustíveis representa uma alternativa para apoiar o país rumo à transição para uma economia de baixo carbono e no combate às mudanças climáticas. Por serem em sua maioria provenientes de culturas vegetais ou de resíduos orgânicos atualmente desperdiçados, os biocombustíveis apresentam uma diminuição considerável na emissão de GEE em comparação aos combustíveis fósseis. Além disso, a biomassa que dá origem aos biocombustíveis absorve o CO2 emitido pela queima deles, possibilitando, assim, a neutralização de carbono.
Nesse contexto, diversos estudos vêm sendo realizados para atestar a viabilidade da Macaúba como matéria-prima para a produção de biocombustíveis, principalmente, devido a sua alta produtividade, com ganho em sustentabilidade.
Considerando-se uma demanda de 11,5 bilhões de litros de biodiesel em 2030 para atender às determinações do Programa Nacional de Biocombustíveis, um estudo encomendado pelo WWF-Brasil destaca que seria necessário apenas 2 milhões de hectares de Macaúba para produzir todo o biodiesel suficiente para abastecer o mercado brasileiro. Em comparação com a soja, a área necessária seria 81,8% menor, uma vez que seriam necessários 11 milhões de hectares de soja para garantir o mesmo abastecimento.
Outro dado importante é que essa espécie de palmeira, segundo a Soleum, empresa que produz matérias-primas sustentáveis e possui como carro chefe a Macaúba, consegue produzir mais de 9 toneladas de óleo por hectare, produtividade resultante de anos de estudos e pesquisa, utilizando apenas 40% da superfície produtiva da área, permitindo o plantio de outras culturas agrícolas nos demais 60% da terra.
Esses dados demonstram que a oferta de biocombustíveis sustentáveis pode ser atendida sem a ocupação de novas áreas, principalmente, por meio da inserção da Macaúba em regimes consorciados em pastagens degradadas ou subutilizadas. De acordo com o estudo do WWF-Brasil, essa estratégia tem o benefício de promover a diversificação de produtos e consequentemente a resiliência econômica das propriedades ao mesmo tempo em que aumenta o provimento de serviços ecossistêmicos, como a melhoria da estrutura do solo, o aumento da infiltração da água pluvial e a retenção de água em decorrência do sistema radicular desta espécie de palmeira. Além disso, a Macaúba também pode ser cultivada amplamente no Cerrado, principalmente consorciada com pastagens extensivas, alcançando produtividade satisfatória.
Outro fator que torna a Macaúba uma espécie promissora na cadeia de biocombustíveis são os coprodutos do seu processamento, pois eles possuem grande potencial energético, podendo resultar em menores custos de produção no processo de beneficiamento. O endocarpo (estrutura que recobre a semente), por exemplo, pode ser considerado um subproduto da cadeia de produção de biodiesel e convertido em carvão vegetal para fins energéticos, de acordo com a pesquisadora Laura Vieira Maia de Sousa, em sua pesquisa intitulada “Caracterização energética da macaúba (Acrocomia aculeata)”, publicada pela Universidade de Brasília (UnB) em 2019.
Além desse coproduto, também é possível produzir, a partir da biomassa resultante da extração do óleo, rações de excelente qualidade para a alimentação animal, além de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos diversos. Desse modo, a Macaúba pode contribuir para introduzir a agroindústria em regiões com economia pouco dinâmica e elevados indicadores de pobreza, promovendo geração de renda e empregos.
Destaca-se também o potencial da Macaúba para sequestro e estoque de carbono. Segundo estudo intitulado “Acúmulo de biomassa e carbono em cultivo de Macaúba”, publicado pelo pesquisador Sandro Lúcio Silva Moreira, o potencial da Macaúba para sequestro e estoque de carbono está associado ao fato de que apenas os frutos da palmeira são removidos para uso na indústria, ou seja, o carbono fixado nas diferentes estruturas vegetais (raízes, estipe e folhas) permanece estocado. Desse modo, pode-se sugerir que o acúmulo de carbono por essa palmeira é maior do que culturas agrícolas que são colhidas anualmente ou de outras espécies arbóreas que são colhidas com maior regularidade pela remoção total ou de grande parte de sua biomassa total. O pesquisador demonstra ainda que o cultivo de uma palmeira de Macaúba com 9 anos de idade é capaz de estocar 226,17 t CO2e. ha-1. Esse potencial contribui para que essa espécie seja considerada promissora para a produção de biocombustíveis, pois tem capacidade para compensar e zerar as emissões de carbono feitas pela cadeia de produção de biocombustíveis.
Por essa razão, a Macaúba torna-se cada vez mais atrativa, principalmente, à medida em que os mercados de carbono voluntários e obrigatórios se consolidam. Além disso, essa espécie tem atraído o interesse como matéria-prima para suprir diversas indústrias, como alimentícia, farmacêutica e cosmética. Também está sendo aplicada em plantios para a recuperação de áreas degradadas ou subutilizadas, como forma de manter a provisão de serviços ecossistêmicos e diversificar a renda dos produtores.
Tendo todas essas potencialidades da Macaúba em vista, faz-se necessária a avaliação e proposição de ações para incentivar a produção e consolidar as cadeias que utilizam essa rica espécie de palmeira, especialmente, a cadeia de biocombustíveis.
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