Com mudança climática, Brasil precisa repensar agronegócio, dizem especialistas
segunda-feira, agosto 09, 2021
Diante do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado na manhã desta segunda-feira (9), especialistas ouvidos pela CNN concordam que o papel que o Brasil precisa assumir diante do cenário de crise ambiental inclui mudanças na maneira como é conduzido o agronegócio.
As razões não são apenas ecológicas — são também econômicas. Conforme o físico Paulo Artaxo, pesquisador na Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores referências mundiais sobre aquecimento global, o relatório indica que no “Brasil central o aumento da temperatura pode chegar a 4 ou 5°C nas próximas décadas”. “São mudanças muito fortes que podem inviabilizar o agronegócio como temos hoje”, ressalta. “O Brasil precisa olhar com muito cuidado as conclusões do relatório do IPCC.”
O 6º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC - AR6) sinaliza, de fato, impactos alarmantes para o setor agropecuário. O documento traz cenários preocupantes de mudanças do clima, evidenciando ainda mais a vulnerabilidade do setor. Ressaltamos que o setor agropecuário é um dos mais vulneráveis à mudança do clima. Cenários de aumento de seca, chuvas mais intensas, aumentos ou diminuição de temperatura podem levar a perdas de produção e comprometer diretamente a segurança alimentar nacional e global, gerando prejuízos socioeconômicos incalculáveis.
Desde 2010, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vem trabalhando intensivamente nas questões de mitigação de gases de efeito estufa (GEE) no setor agropecuário. Conforme publicação científica da Embrapa, o setor já alcançou as suas metas de mitigação[1]. Deve-se ressaltar que os valores apresentados nesse documento serão revistos, com a atualização das áreas de recuperação de pastagens degradadas. Neste caso, levantamento realizado pela UFG/Lapig.
Além da mitigação, a parceria entre o setor público e privado resultou em produtos certificados, sempre com base científica, como a Carne Carbono Neutro, já no mercado. Nesta, todas as emissões dos animais (que hoje representam a maior parte das emissões do setor agropecuária no Inventário Nacional) são neutralizadas pelas pastagens e pelo componente florestal, no modelo de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) – uma das tecnologias fomentadas pelo Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC) que completou 10 anos em 2020.Essas tecnologias, foram apresentadas ao presidente da COP26, Mr. Alok Sharma, na semana passada, por ocasião da sua visita ao Brasil. O mesmo ressaltou que a agropecuária brasileira tem tecnologias pioneiras em mitigação e sustentabilidade que deveriam ser seguidas por outros países
Além de manter todas as tecnologias mitigadoras já fomentadas nos seus primeiros dez anos, o ABC+ Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+ 2020-2030) incluirá novas, que serão colocadas em consulta pública ainda neste mês. O objetivo dessas tecnologias é evitar e mitigar ainda mais as emissões de GEE do setor. Além disso, como já nos seus primeiros dez anos, as tecnologias permitem que o Brasil multiplique a sua produção de alimentos nas áreas já ocupadas atualmente com pastagem, agricultura ou floresta plantada.
O Mapa tem atuado para que as propriedades rurais sigam as normas definidas pelo Código Florestal - por meio do Cadastro Ambiental Rural (CAR) - e conta com programas que mostram os benefícios da preservação ambiental para a produção agropecuária. Destacam-se, entre outros pontos, acesso a créditos especiais aos produtores que adotam determinadas tecnologias, bem como a previsão de aumento de produtividade.
Os resultados do relatório do IPCC reforçam uma das estratégias fortalecidas no ABC+ - a necessidade do setor mitigar e também se adaptar frente aos desafios futuros em termos de emergência climática. A adaptação é um dos principais elementos estruturantes da política pública. As ações dos próximos dez anos do ABC+ também darão ênfase no aumento da capacidade adaptativa dos sistemas agropecuários frente as mudanças do clima, reduzindo sua vulnerabilidade e garantindo a produção de alimentos a humanidade.
Ainda que a agropecuária tenha um papel considerável para remoção de GEE da atmosfera, seu papel na segurança alimentar, atrelada a sua vulnerabilidade frente às mudanças do clima, deve ser considerado. Por isso, o ABC+ continuará seus esforços para estimular a adoção de tecnologias de baixa emissão de carbono, apoiando na mitigação de GEE e também no reforço da melhoria da produtividade e da sustentabilidade ambiental.
Fonte: CNN Brasil
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)