Tecnologia permite avanço da soja sem desmatar
segunda-feira, janeiro 18, 2021
O Brasil se tornou líder mundial na produção de soja. Na safra 2019/20 foram 125 milhões de toneladas da oleaginosa em grão e nesta a projeção é de mais de 133 milhões de toneladas. A soja ocupa cerca de 37 milhões de hectares. Esse desempenho gerou a recente polêmica sobre a origem da soja estar ancorada no desmatamento, como afirmou o presidente francês.
Um estudo desenvolvido pela Embrapa em 2019 mostrou como o desenvolvimento de tecnologias próprias permite ao Brasil produzir o grão de forma sustentável, sem pressionar as áreas florestais, mesmo considerando os cenários de aumento da demanda pelo grão nos próximos anos. Intitulado "O aumento da produção de soja brasileira representa uma ameaça para a floresta amazônica?", o estudo analisa se as perspectivas de aumento da demanda global podem causar maior pressão sobre a floresta amazônica, como tem sido sugerido no ambiente internacional.
Plantio direto, recuperação de pastagens e ILPF
Muitas destas soluções foram criadas pela própria Embrapa e parceiros, que cumprem ampla agenda de pesquisas voltadas para a oleaginosa. Segundo Alexandre Nepomuceno, chefe-geral do Centro Nacional de Pesquisas de Soja do Brasil (Embrapa Soja), alguns exemplos que unem alta tecnologia e práticas sustentáveis na agricultura brasileira, são técnicas como o plantio direto, que tem permitido o aumento da produção por unidade de área, ao mesmo tempo preservando a água, os nutrientes e o sequestro de carbono do solo.
A recuperação de áreas, como pastagens degradadas, também permitiu o aumento da produção. “Ainda há muito espaço para o Brasil continuar ajudando a alimentar o planeta sem pressionar as áreas de preservação ambiental. A preservação das matas nativas também é estratégica para o agronegócio brasileiro nos aspectos social, econômico e ambiental”, explica Nepomuceno.
Segundo Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, e um dos autores do estudo, o Brasil tem desenhado sistematicamente vários cenários internacionais de demanda no mercado de soja para as próximas décadas e desenvolvido estratégias para atingir esses cenários de forma sustentável. “O cultivo da soja no bioma Amazônia está absolutamente fora de qualquer cenário de expansão do volume de soja produzido no país, não só por questões ambientais e restrições legais, mas também por questões econômicas, logísticas, técnicas e financeiras” , aponta.
Além de preservar a floresta como patrimônio nacional, o Brasil tem domínio tecnológico para dobrar a produção atual em áreas que já estão cultivando soja ou recuperando áreas de pastagens degradadas. “Os aumentos da produção brasileira nos últimos anos estão diretamente associados às novas recomendações de manejo das culturas, ao potencial genético das cultivares e às novas perspectivas abertas pela combinação de áreas degradadas de pastagens em sistemas mais eficientes por meio da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)”, explica. “O crescimento do volume de produção está muito mais baseado no aumento da produtividade do que no aumento da área plantada”, destaca.
Estudo diz que Amazônia não é viável economicamente
O estudo realizado por pesquisadores da Embrapa também comparou dados sobre o desmatamento na região amazônica e a expansão da área destinada à produção de soja no período de 2005 a 2018. Segundo os autores do estudo, além do país ter uma das mais rigorosas legislações ambientais no mundo, a própria iniciativa privada estabeleceu compromissos rígidos com a preservação do bioma amazônico. “A exploração dessas áreas para soja não é adequada ambiental e nem economicamente”, explica Gazzoni.
O estudo também exemplifica como, nas últimas décadas, o Brasil aumentou sua produção agrícola. Entre os exemplos apontados pelo crescimento sustentável da produção, estão as tecnologias que permitiram o beneficiamento de pastagens por meio da inserção da agricultura na recuperação do solo, incluindo o iLPF, estimado em 11,5 M ha em 2016. Outra inovação na agricultura tropical foi a intensificação agrícola processo, ou seja, a utilização de dois, às vezes três, ciclos de cultivo por ano, na mesma área, o que implica na redução da área necessária para a mesma produção agrícola.
O pesquisador Marco Nogueira, também autor do estudo, destaca que o sistema produtivo brasileiro está ancorado em tecnologias que respeitam o meio ambiente. “Entre eles estão a fixação biológica de nitrogênio (que dispensa fertilizante de nitrogênio e, portanto, reduz as emissões de gases de efeito estufa e a contaminação das águas subterrâneas com nitratos), plantio direto (que conserva o solo, retém água e fixa carbono), técnicas de manejo integrado de pragas e doenças, que formam um conjunto de tecnologias que ainda reduzem a emissão de carbono na atmosfera ”, exemplifica.
Fonte: Portal Agrolink
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