Entidade global de normais contábeis discute padronização de relatório de sustentabilidade
terça-feira, dezembro 08, 2020
A Fundação IFRS, órgão que está por trás das normas internacionais de contabilidade, avalia a possibilidade de criar um padrão para os relatórios de sustentabilidade das empresas. A entidade privada, sediada em Londres, recebe até o fim deste mês sugestões sobre o tema.
Alexsandro Broedel, curador da Fundação IFRS, diz que o objetivo da consulta é compreender se empresas, associações e reguladores do mercado veem a necessidade da criação de padrões globais, se essas entidades acreditam que a fundação deve desempenhar um papel nisso e qual deve ser o escopo da atuação.
“Notamos um problema com a existência de muitas fontes de normas, de padrões de sustentabilidade, o que dá um trabalho grande para as companhias, devido à necessidade de estar em conformidade com vários conjuntos de normas diferentes”, disse Broedel.
A maneira como a fundação deve atuar é um dos pontos que deve gerar mais discussões. Na consulta pública, uma das possibilidades levantadas é a criação de um novo conselho — semelhante ao Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb, na sigla em inglês), que edita as normas seguidas por mais de 100 países — voltado apenas para questões de sustentabilidade.
Outra dúvida é se a questão climática deve ser priorizada, num primeiro momento, e se os padrões devem levar em consideração o impacto ambiental especificamente na companhia ou também os efeitos das decisões das empresas na sociedade como um todo.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diz que não se opõe à participação da Fundação IFRS no desenvolvimento de padrões de relatórios sustentabilidade, mas que “acredita que alguns desafios devem ser solucionados primeiro”. “Temos a preocupação de que a criação de um conselho de normas de sustentabilidade possa ofuscar o Iasb (International Accounting Standards Board), ao prejudicar a capacidade de recebimento de financiamentos”, segundo um trecho da carta enviada à Fundação IFRS.
Ao Valor, Paulo Roberto Ferreira, superintendente de normas contábeis e de auditoria da CVM, que assina a carta, disse que, caso seja criado um novo conselho, o IFRS deve evitar a utilização comum dos recursos humanos e financeiros com o Iasb.
“Concordamos e reconhecemos os esforços da IFRS, mas sugerimos cuidado na estruturação dessa atuação para que a Fundação não seja só mais um órgão emissor de normas de sustentabilidade, mas sim que ela seja a referência”, afirma. A CVM também sugere que o órgão não se limite apenas às questões de sustentabilidade, mas que contemple todos os aspectos de responsabilidades ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).
O Instituto Brasileiro de Auditores (Ibracon) concorda com a criação de normas pela Fundação IFRS, mas diz que elas devem ser emitidas de forma que estabeleçam métricas mensuráveis para executar procedimentos de auditoria. O Ibracon também defende que a questão climática não seja priorizada num primeiro momento. “Entendemos que esse tipo de assunto não pode ser dividido e que a análise deve ser integrada, holística. Por isso, sugerimos que o novo board não comece atuando em uma única frente, mas sim, de forma integrada”, afirma em nota.
Para Eduardo Lucano, presidente da Abrasca, o mercado deve ter ganhos com a criação de um padrão único de relatório sobre práticas de sustentabilidade, mas as empresas irão precisar de um certo tempo de adaptação.
Fonte: Valor Investe
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)