Como a sustentabilidade e o agronegócio podem ser aliados?
terça-feira, junho 23, 2020
Durante um certo tempo, falar em cuidados com o meio ambiente e as atividades da agricultura na mesma frase pareciam quase o oposto uma da outra. Os tempos mudaram e, com a conscientização, as técnicas de cultivo também. Para o bem tanto de clientes, que consomem produtos mais saudáveis, quanto de produtores, que com as certificações “verdes” conseguem receber valores maiores ou acessar mercados mais exigentes, agronegócio e sustentabilidade precisam caminhar juntos.
A propriedade de Carlos Roberto Della Libera na Serra do Roncador, Mato Grosso, é uma referência nesse sentido. Com mais de 20 fontes de água, a integração entre lavoura, criação de animais e florestas é feita de forma a potencializar os recursos uma das outras. “A fazenda aqui é grande, mas eu toco como se fossem várias pequenas. A fazenda tem muitas nascentes e tenho que preservar. Ao preservar, percebi que os animais ficavam mais saudáveis ao fazer o pastoreio em pastagens arborizadas. Na hora do calor, ele vai embaixo da árvore, onde o conforto térmico é melhor”.
Ciente disso, Carlos decidiu plantar acácias para recuperar um trecho degradado do solo — mas conseguiu mais do que terra fértil ou sombra para o gado. As árvores atraíram muitas abelhas, e o agricultor viu a oportunidade de produzir mel. Hoje, a Casa Roncador produz duas floradas ao ano e exporta até para a Suíça. “É responsabilidade de quem dirige detectar as potencialidades da terra e melhorar, até. Percebi que é melhor, muito mais fácil, você trabalhar ao lado da natureza do que contra. A natureza te ajuda, ela não vai te atrapalhar. A população, a juventude toda, está valorizando os produtos sustentáveis, os produtos orgânicos. Isso é uma percepção, e penso em como é que a gente pode inserir a fazenda no mundo”. diz.
Por experiência prática, o agrônomo Ricardo Schiavinatto também passou a compartilhar da perspectiva de manter a natureza como aliada. “A gente comprou a propriedade, mas ela não tinha nada no começo. Era árida. Estava desmatada, degradada, solos com erosão, muito sapé, rabo de burro, pastos degradados. Uma das coisas importantes para poder fazer essa mudança, de resolver o problema de erosão, assoreamento de córrego, foi o plantio das árvores. Hoje a gente chama de ecologia da paisagem”, explica.
O processo de conversão da produção começou em 1997. Atualmente, a fazenda Nata da Serra é referência na área. “Na agricultura orgânica, você tem uma relação de tudo acontecendo. Quando eu entendo isso, é preciso cuidar do solo. Faço as correções corretas, adubações orgânicas. A gente sempre olha o lado ruim, mas fui entendendo que existem outros insetos. Na natureza, a maior parte dos insetos são benéficos. Você tem o que a gente chama de controle biológico: se a joaninha come ovo de uma praga, você não vai ter essa doença”, diz. “Você acaba utilizando a própria natureza, o que já existe, de uma forma sustentável. Isso também é tecnologia”.
Ricardo recebe pesquisadores e visitantes de todo o Brasil, e a propriedade em Serra Negra, interior de São Paulo, é considerada unidade de demonstração pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Os cursos e as técnicas que são divulgadas ali servem de base não só para o pequeno produtor, mas têm a chance de influenciar o futuro do agronegócio no País.
“Eu tenho amigos que fizeram faculdade comigo e hoje são grandes produtores no Centro-Oeste brasileiro. E eles estão usando tecnologias que já são sedimentadas dentro da agricultura orgânica para melhorarem a produção de soja, milho e algodão em alta escala. A utilização de fungos para controle de pragas, a utilização de adubação com pó de rocha. Eu acho que a agricultura está aí para isso. Para ser uma semente para mudar a sociedade”.
Quem também se engaja em busca de um mundo melhor é Diego Saldanha, cuja história encontramos em Curitiba. O vendedor movimenta 200 caixas de frutas por semana, mas ainda dedica seu tempo para atuar na limpeza dos rios da região onde mora. A ecobarreira do Rio Atuba já coletou mais de 3 toneladas de lixo. “Começou aqui no rio que fez parte da minha infância, está se espalhando pelo Brasil e outros lugares do mundo. Eu trabalho com a natureza por amor, e também porque eu quero demonstrar para os meus filhos que eles podem crescer com uma consciência ambiental melhor do que a praticada por nós”, diz.
Fonte: Portal G1
0 comentários
Agradecemos seu comentário! Volte sempre :)