Sustentabilidade: novo material pode baratear células solares
terça-feira, abril 21, 2020
Composto
criado por americanos tem como base o zircônio, elemento químico abundante na
natureza. Hoje, os painéis são fabricados com metais preciosos. A possibilidade
de uso quando há mudança grande de temperatura também chama a atenção.
O uso de energias
renováveis vem sendo explorado em todo o mundo, mas, por ser um
processo complexo, especialistas acreditam que levará tempo até que essas tecnologias substituam
as fontes tradicionais. Um dos desafios é ter, na produção de soluções do tipo,
elementos químicos mais baratos. Nesse sentido, pesquisadores americanos
desenvolveram um composto a partir de um elemento químico abundante na
natureza. Segundo eles, o material poderá compor a fabricação de painéis
solares. A novidade foi apresentada na última edição da revista Nature
Chemistry.
Segundo os criadores do composto, as
tecnologias atuais para a captação de energia renovável contam com metais
preciosos, como irídio e rutênio, para funcionar. “Percebemos que houve poucos
esforços no estudo dos metais mais abundantes — titânio e zircônio, por exemplo
—, porque geralmente não são tão fáceis de trabalhar. Os metais preciosos
sempre foram os elementos principais nessa área devido a suas propriedades
químicas favoráveis (…) Esperamos mudar isso”, enfatiza, em comunicado, Carsten
Milsmann, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de West
Virginia.
O composto criado por Milsmann e colegas é feito de zircônio,
encontrado em maior quantidade na natureza. Além disso, é estável em uma
variedade de condições, como ar, água e mudanças de temperatura, facilitando o
trabalho em ambientes diversos. “Como o composto pode converter luz em energia
elétrica, ele poderá ser usado na criação de painéis solares mais eficientes”,
diz o cientista.
Sensível aos corantes
Geralmente,
os painéis solares são fabricados com silício e requerem um limite mínimo de
luz para coletar e armazenar energia. Pesquisadores, porém, têm buscado
explorar materiais que sejam mais baratos e também sensíveis a corantes. Por
conta dessa última característica, moléculas coloridas podem coletar luz e
funcionar mesmo em condições de pouca luz. “O problema com a maioria dos
painéis solares é que eles não funcionam bem em dias nublados. Eles são
bastante eficientes, baratos e têm uma vida útil longa, mas precisam de
condições de luz intensa para funcionar com eficiência”, explica Milsmann.
Até o
momento, os corantes só funcionam no rutênio, mas o novo composto tem potencial
para substituí-lo. “Com esse material, podemos fazer versões sensíveis ao
corante, nas quais um composto colorido absorva luz para produzir eletricidade
em qualquer condição climática. No futuro, poderemos projetar edifícios que
produzam energia, transformando a fachada de prédios e incluindo todas as
janelas em uma usina de energia”, cogita.
Complemento
Patrícia
Lustoza de Souza, professora do Centro de Estudos em Telecomunicações (CETUC)
da PUC-Rio, destaca que o estudo é interessante por buscar novos materiais que
possam dar sustentabilidade e baixar o custo da fabricação de células solares.
“O zircônio estudado para substituir o irídio ou o rutênio seria usado na
tecnologia de células solares que usam corantes sensibilizados. Não há nada que
mostre que aumentaria a eficiência dessas células, mas poderia barateá-las ou
torná-las uma opção sustentável”, analisa.
A
especialista brasileira acredita que a tecnologia poderá competir com a de
células orgânicas na fabricação de vidros ou revestimentos, ocupando nichos na
arquitetura e na construção civil. “Não é uma tecnologia para usinas, por
exemplo”, diz. “Assim, a contribuição seria para cobrir esses nichos e dar
sustentabilidade a essa tecnologia de corantes sensibilizados pela luz solar”,
completa.
Fonte: Correio Braziliense
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