62% das empresas do setor automobilístico já têm uma estratégia de sustentabilidade estruturada
terça-feira, março 17, 2020
As exigências dos consumidores transformaram a sustentabilidade num fator
estratégico para o sector automóvel, revela o novo estudo do Capgemini Research
Institute, ao qual a Revista Cargo teve acesso.
O estudo também sublinha que o sector automóvel é o que lidera o
cumprimento dos critérios de sustentabilidade em todo o mundo. Apesar disso,
dos 74% dos fabricantes inquiridos que têm uma estratégia para os carros
eléctricos, apenas 56% a integraram numa abordagem sustentável. Também os
níveis de investimento, de execução e de governação da sustentabilidade
continuam muito aquém dos objetivos definidos pelo Acordo de Paris.
O estudo, intitulado, The Automotive Industry in the Era of Sustainability, revela
que a indústria automóvel deve corrigir um défice de cerca de 20% nos seus atuais
investimentos, para estar em linha com os objetivos definidos
internacionalmente. Apenas 9% das 500 empresas do sector automóvel inquiridas
no âmbito deste estudo, está em condições de poder ser classificada como high-performing
sustainability leaders. As restantes 91% das empresas nem sequer alcançou
ainda o nível de maturidade no que diz respeito à sustentabilidade.
Principais conclusões do novo estudo
A sustentabilidade tem vindo a ganhar relevância na indústria automóvel,
tanto no que diz respeito à temática em si, como enquanto prioridade
estratégica. Uma larga maioria (62%) das empresas do sector inquiridas pelo estudo
afirmou que «dispõe de uma estratégia estruturada de desenvolvimento da
sustentabilidade com objetivos e prazos bem definidos», e apenas 8% revelou que
ainda estava a preparar o desenvolvimento de uma estratégia nesta área. De uma
forma geral, os especialistas em sustentabilidade em todo o mundo afirmaram que
o sector automóvel está à frente das outras indústrias (46%), ou a par (19%) em
matéria de sustentabilidade.
O número de eventos organizados com temas sobre a sustentabilidade mais
do que duplicou entre 2015 e 2019, passando de 142 para 320, respectivamente.
Há, contudo, variações significativas entre os países no que diz respeito às
iniciativas sobre sustentabilidade que estão em curso. A Alemanha e os EUA são
os dois países que lideram o cumprimento dos aspectos prioritários, incluindo o
«apoio e a promoção da economia circular» e os «processos industriais
sustentáveis», enquanto os outros países estão muito atrás deles, incluindo no
que diz respeito à «mobilidade e serviços digitais», ao «fornecimento de
metais, materiais e produtos amigos do ambiente», e também na «computação
sustentável», que inclui aspectos como o consumo de energia dos centros de
dados.
Um grande número de empresas não possui uma abordagem à sustentabilidade
que seja holística e bem gerida. Apesar dos claros avanços do sector, existem
algumas deficiências no foco para a melhoria da sustentabilidade.
O estudo analisa a evolução de 14 iniciativas únicas que abarcam todos
os aspectos da cadeia de valor automóvel, desde as relacionadas com o
«desenvolvimento sustentável de Produtos de I&D», até ao «apoio à economia
circular». O nível de esforço das várias iniciativas é irregular: 52% das
empresas está a trabalhar em programas de economia circular, mas apenas 8%
dizem respeito à sustentabilidade nas TI. Existem também diferenças no que diz
respeito à atribuição de responsabilidades e competências, já que apenas 41%
das empresas possui um órgão central dedicado à supervisão dos objetivos de
sustentabilidade e apenas 45% envolve os seus gestores de topo nesta atividade.
A nível mundial, apenas 19% das empresas têm pelo menos quatro objetivos
quantificáveis correspondentes às áreas identificadas como as de grande impacto
no desempenho da sua abordagem à sustentabilidade. Além disso, as atuais
despesas correntes dos fabricantes automóveis em medidas de proteção do
ambiente estão longe dos objetivos definidos internacionalmente para a
sustentabilidade: a diferença está estimada em 50 mil milhões de dólares. O
estudo também se debruça sobre a análise dos programas de sustentabilidade do
sector e do que estes precisam para ser bem-sucedidos, concluindo que é
necessário dar uma maior ênfase ao tema da sustentabilidade para que a
transição para os carros eléctricos seja realmente efetiva.
Emissões de GEE no topo das metas de sustentabilidade do sector
automóvel
Um dos aspectos mais críticos para os programas de sustentabilidade na
indústria automóvel é a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Os
carros eléctricos têm um impacto positivo muito significativo neste âmbito.
Para que este impacto se estenda a todo o ciclo de vida dos carros eléctricos,
é essencial que a eletricidade de que se alimentam proceda de uma fonte de
energia renovável. Porém, e de acordo com o estudo da Capgemini, apenas 15% dos
fabricantes automóveis tem previsto vir a implementar infra-estruturas de
carregamento dos carros eléctricos alimentadas com eletricidade produzida a
partir de fontes renováveis.
Adicionalmente, a produção de baterias gera uma pegada de carbono maior
do que a resultante dos combustíveis fósseis e as limitadas reservas de lítio e
de outros metais raros, exigem que os fabricantes produzam carros eléctricos
sustentáveis. A economia circular (essencial para ajudar a prolongar a vida
útil dos veículos e das peças sobressalentes), bem como novos modelos de
negócio, serão fatores críticos para que os carros eléctricos alcancem todo o
seu potencial de sustentabilidade. As empresas do sector automóvel devem por
isso aumentar a sua participação na economia circular.
Uma das formas mais eficazes das empresas do sector automóvel melhorarem
os níveis de sustentabilidade é adotarem um sistema de economia circular. Este
sistema aplica-se a várias áreas essenciais da sustentabilidade, desde a cadeia
de abastecimento à reciclagem, passando pela política de compras e pelo
pós-venda. Destacadas marcas do sector já demonstraram o quão eficaz pode ser
este sistema: a Michelin reutiliza 85% dos pneus velhos recauchutando-os na sua
fábrica do Reino Unido (o que contribui para a emissão de menos 60kg de carbono
por pneu); já a GM gerou mil milhões de dólares com a venda de resíduos
recicláveis.
No entanto, e segundo estudo da Capgemini, ainda falta muito para que os
fabricantes do sector automóvel integrem totalmente um modelo de economia
circular. As empresas inquiridas pelo estudo disseram que apenas 32% da sua
cadeia de abastecimento contribui atualmente para a economia circular.
Espera-se, contudo, que esta percentagem aumente para os 51% nos próximos cinco
anos.
Regista-se igualmente uma discrepância significativa entre as
iniciativas da economia circular que são mais conhecidas (75% recicla um
«volume considerável» de resíduos industriais e 71% incentiva a utilização de
peças e componentes renovados junto dos utilizadores finais) e as menos
conhecidas: só 51% está a fazer investimentos na infraestrutura e em
competências capazes de garantir a reutilização de componentes antigos ou de
sucata, e apenas 36% estabeleceram colaborações para darem uma segunda vida às
baterias dos carros eléctricos.
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