Integração garante produção sustentável na Caatinga
segunda-feira, dezembro 31, 2018
Com a foice nas mãos, a agricultora Regina de Sousa, 50, prepara a terra para um novo plantio. A moradora do Sítio Areias, na localidade de Boqueirão, a cerca de 15 quilômetros da sede de Sobral, aproveita as chuvas de pré-estação que têm banhado a região Norte, nesses últimos dias de dezembro, para renovar o roçado.
As culturas são bem diversificadas: hortaliças, milho, feijão, melancia, melão, e outros cultivos dividem o mesmo espaço com árvores nativas, caprinos, ovinos e aves. E essa mesma estrutura se repete entre outros produtores que encontraram no sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e nos sistemas agroflorestais, um jeito eficiente de diversificar as atividades de suas propriedades. Com isso, conseguiram aumentar o faturamento da atividade, sem impactar o meio ambiente, adotando um manejo mais sustentável. Com a ILPF é possível, ainda, recuperar áreas degradadas e combater a desertificação.
Projeto
Desde 2012, os produtores das comunidade Sítio Areias utilizam, com sucesso, a prática de sistemas de produção agroflorestais com a criação de bovinos, caprinos, ovinos e suínos; a lavoura de milho e feijão; além da produção agrícola de verduras e ervas medicinais. A implantação do sistema mudou hábitos antigos, considerados nocivos para a terra. "Desde que começou o projeto, trazido pela Embrapa, não há mais queimada aqui na região. Todo o trabalho é feito sem derrubar nenhuma árvore nativa também. Antes, nós não tínhamos essa preocupação com o meio ambiente. A destruição era grande. Agora tratamos a terra melhor, e retiramos do que precisamos sem degradar", ensina Regina de Sousa que, assim como outros agricultores, está obtendo maior produtividade em suas lavouras mudando apenas a velha prática baseada no uso do fogo para uma produção ambientalmente sustentável.
Sustentabilidade
Criado para fortalecer o desenvolvimento rural sustentável, tendo entre as muitas linhas de atuação, a transição agroecológica, o projeto Sustentare, da Embrapa Caprinos e Ovinos, atua nas comunidades com a construção coletiva de conhecimentos.
"A gente ajusta o projeto às necessidades de cada agricultor, decidindo em grupo, que tipo de árvores são importantes para o sistema, levando em consideração suas funções, como por exemplo, de conservação do solo e da água, ou uma função produtiva, levando em consideração as demandas por alimentos e geração de renda", explica Francisco Éden Fernandes, analista da Embrapa e um dos idealizadores do projeto.
Ainda segundo Éden Fernandes, "nesses sistemas agroflorestais, em conformidade com as demandas, vão se adequando os componentes que farão parte dessa estrutura. Se o agricultor tem uma maior tradição de criador, ele mantém em seu terreno, árvores nativas que fornecem a forragem para os animais.
No caso da tradição de culturas agrícolas, o sistema é montado para também atender às necessidades de cada família. Além do equilíbrio que a estrutura garante, a interação entre a comunidade tem sido bem maior", afirma o analista, ao lado de Jorge Farias, parceiro de projeto e pesquisador na área de Agricultura Familiar. "Para se manter firme, o trabalho conta com a coletividade", pontua Farias.
Ampliação
Além de Sobral, o Sustentare tem sido mantido com sucesso nos municípios de Forquilha e Tamboril, também na região Norte cearense, caminhando para uma terceira fase, a ser iniciada no próximo ano com o fortalecimento de outras comunidades que buscam o desenvolvimento rural sustentável.
Para Francisca Rodrigues, presidente da Associação Comunitária do Sítio Areias, "muitas áreas tiveram que ser reconstruídas, por conta da destruição causada desde a época dos nossos antepassados. A mudança foi lenta, mas trouxe bons frutos. Dentro desse projeto, outro ponto positivo foi a criação da nossa casa de sementes, que trouxe autonomia na hora do plantio do milho, do feijão e de uma variedade de plantas nativas", acrescentou.
Produção Integrada
A Embrapa também tem realizado o experimento em Ibaretama, no Sertão Central, onde estão sendo usadas duas áreas cedidas por um produtor. Em uma delas, com 1,5 hectare, foram plantadas linhas de sabiá (árvore da Caatinga) para composição de floresta, além de feijão caupi, milheto, sorgo e girassol.
Nesta área, os resultados do plantio foram utilizados de forma diversificada: o feijão foi aproveitado para colheita, sorgo e girassol foram usados para silagem aos animais, e o milheto serviu para compor a cobertura vegetal do solo, condição importante em áreas menos férteis.
Fonte: Diário do Nordeste
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