Com demanda aquecida, soja orgânica é vendida por mais de R$ 100 a saca
segunda-feira, agosto 06, 2018
No Brasil, a produção de grãos orgânicos ainda é tímida e carece de estimativas mais detalhadas. Dados não oficiais apontam que há cerca de 300 produtores no país se dedicando ao plantio de soja e milho orgânicos, volume baixo se comparado aos milhares que atuam na produção de transgênicos.
E por que a produção de soja e milho orgânicos está começando a chamar a atenção de mais gente? Um dos motivos é o preço pago pelo produto, que segundo dados da Enexxas Agribusiness chega a ser o dobro do valor pago por grãos transgênicos. O outro fator é a crescente busca dos consumidores por alimentos mais saudáveis e com certificação de origem, apontados como tendência de mercado no mundo todo.
E quanto custa para produzir soja e milho orgânico? Onde encontrar o mercado comprador? Vale a pena ou não investir nesse negócio? O Blog conversou com especialistas no assunto e você pode acompanhar no vídeo e no bate-papo abaixo mais detalhes.
Acompanhe o bate-papo com o presidente da Enexxas Agribusiness, Rodrigo Iafelice dos Santos.
Onde estão pagando 100% a mais por soja e milho?
O mercado americano é de longe o mais importante para consumo de produtos orgânicos, já que 92% das famílias americanas consumiram algum item certificado como orgânico em 2017. Nós temos uma oportunidade para o Brasil para converter a agricultura convencional para agricultura orgânica de forma sustentável e oferecer um retorno mais interessante para os brasileiros.
Quando a gente diz que há uma oferta de prêmios de até 100% por soja e milho orgânicos é porque a demanda está aquecida e ela vem dos Estados Unidos?
É um movimento global, não é só no mercado americano. A gente passou os últimos dois anos estudando o mercado internacional. A Europa começou esse movimento há cerca de 35 anos e hoje você tem países como a Dinamarca onde 24% de todos os produtos no supermercado já são orgânicos e eles querem até 2022 ter 100% dos alimentos orgânicos e oriundos de agricultura sustentável. Ou seja, não é só o mercado americano, que de longe é o maior, mas a relação e a preocupação das novas gerações e com a qualidade e origem das comida e o impacto que isso tem na saúde humana é uma tendência que não tem mais retorno em vários países do mundo.
Produtor brasileiro que produza soja e milho orgânico que preço que ele tem? E onde tem esse preço?
Os negócios que saíram semana passada de milho para entrega em março de 2019 saíram a R$ 67 por saca, base Mato Grosso. Tem soja que saiu em Goiás para comprador de Ribeirão Preto por R$ 102 por saca. Esses prêmios que a gente está falando são reais e atuais e não são uma tendência de futuro, já são praticados há alguns anos.
E como é o custo?
O custo varia muito com clima, solo, localização. O custo, em média, para fazer um paralelo com os Estados Unidos, o com base no relatório do Rabobank de 2017 já foi 13% mais baixo que a soja e milho transgênicos. No Brasil, com base nos testes que a gente fez a gente espera que o primeiro ano tenha um custo cerca de 10 a 15% mais alto e a produtividade parecida com os atuais.
E para produzir soja ou milho orgânicos o que tem que fazer?
Tem que entrar em contato conosco, pois isso demanda uma análise específica de cada produtor, de cada perfil de solo, de cada operação. O que é importante dizer para o produtor brasileiro é que hoje a gente não tem mais limitação do ponto de vista de insumos biológicos para poder combater qualquer tipo de doença ou praga, coisa que não existia até alguns anos. O Brasil é o maior produtor de insumos biológicos do mundo, a base de bactérias, fungos, vírus, a gente está preparado para um manejo completo para enfrentar qualquer dificuldade da agricultura tropical de forma sustentável.
Em qual tempo o investimento em orgânicos dá retorno?
A regra no Brasil é que o processo de conversão leva um ano e nesse um ano você pode vender a mercadoria como não transgênica, portanto já tem um prêmio sobre a transgênica. No segundo ano pode vender para o mercado europeu e no terceiro para o mercado americano.
Como é o mercado consumidor? Há garantia de preço ao produtor?
O meu interesse pessoal nesse mercado começou pela demanda identificada no mercado internacional e pela tendência de alimentação mais saudável ao redor do mundo. Com certeza a gente vai garantir, os maiores players de comida que estamos negociando, isso inclui Nestlé, Unilever, BRF são os players que estão liderando esse movimento para poder garantir o fornecimento e a forma de financiamento para a conversão para a agricultura orgânica. Todo o processo começa da demanda, então a gente jamais vai solicitar que o produtor faça a migração para a agricultura orgânica se ele não tiver o retorno financeiro interessante.
Essa produção orgânica é para exportar soja e milho orgânicos ou frango orgânicos, por exemplo?
Os dois, o Brasil vai ser sem dúvida o fornecedor de matéria prima para ração orgânica para os grandes produtores de proteína animal do planeta, mas sendo o Brasil o maior produtor de proteína animal do planeta obviamente vamos ter mais capacidade de exportar produto com maior valor agregado e também no nicho da alimentação humana que tem valor mais alto.
E os portos estão preparados para segregar as matérias primas da orgânica para a convencional?
Primeiro, a questão logística. Comecei a trabalhar com mercadoria não transgênica em 1997 e o Brasil não estava estruturado para ter segregação de mercadoria de nicho e a gente desenvolveu a logística, São Francisco do Sul é um alternativa e tem várias outras e Imbituba como uma possibilidade e tem a possibilidade de trabalhar em contêineres em áreas totalmente segregadas para atender mercados menores.
Quantos produtores estão dedicados ao cultivo de orgânicos no Brasil?
Tem estimativa não oficial que tem cerca de 350 produtores orgânicos para grãos e hortifrúti são milhares. No Sul do Brasil tem cerca de 42 mil produtores envolvidos na agricultura orgânica.
Fonte: Canal Rural
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