Produtores brasileiros lucram alto com
tipos especiais; cada 60 quilos hoje vale R$ 460.
Pequeno produtor rural, Gabriel Antônio Madeira, 62, sempre produziu
café em Nova Resende (MG). Na última safra, seguiu o ritual de colher suas 200
sacas nas montanhas e destiná-las à cooperativa.
Foi, porém, surpreendido ao descobrir, por acaso, um lote de cafés
especiais em meio à sua produção. Em vez dos cerca de R$ 460 atuais pela saca,
vendeu cada uma por R$ 2.750. Uma saca tem 60 quilos.
Mas nem sempre é na surpresa que os badalados exemplares de cafés
vendidos no exterior são encontrados nos campos brasileiros.
Cada vez mais produtores buscam o café perfeito, com acidez, doçura e corpo ideais para agradar ao paladar do consumidor estrangeiro, principal destino da bebida de alta qualidade produzida no país.
É o caso do cafeicultor Sebastião Afonso da Silva, 56, de Cristina (MG).
Por dois anos seguidos, ele foi premiado em concursos nacionais e viu o preço
da saca vencedora chegar a até R$ 9.384.
Com produção de até 3.500 sacas em quatro propriedades nas montanhas
mineiras, Silva consegue obter a alta qualidade a partir de uma série de
requisitos, que incluem adubação correta, análise laboratorial do solo para
correção de falhas e cuidados pós-colheita, que vão da preparação dos terrenos
à alta higiene.
Quanto maior a altitude da lavoura, maior a chance de o café ter
qualidade.
A produção é destinada a uma cooperativa em Carmo de Minas, que a
comercializa para o exterior.
"Enquanto o café commodity está na faixa de R$ 400, consigo de R$ 1.000 a R$ 2.000 em média na saca. Exporto para 18 países, direto para cafeterias no exterior", diz ele, que tem 80% de sua produção formada por cafés especiais."
Esse cenário de alta rentabilidade tem atraído cada vez mais produtores
para sofisticar a produção no campo.
Segundo estimativas da BSCA (Associação Brasileira de Cafés Especiais),
a produção evoluiu em média 15% nos últimos anos e alcançou 8,5 milhões de
sacas em 2017.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) projeta que a safra total
de 2018 deve ficar em 58 milhões de sacas no Brasil.
Das 8,5 milhões de sacas especiais, a BSCA estima que cerca de 7,7
milhões serão exportadas, especialmente para Estados Unidos, Japão e países da
Europa.
"Virou um mercado de gente grande já. Tem sido um luxo para o
consumidor que tem aprendido a tomar café e tem sido barato", diz o
especialista Silvio Leite, degustador e presidente de júri internacional de
café.
Em sua avaliação, a qualidade atual do café especial brasileiro teve
início com melhoras genéticas ocorridas nos últimos 20 anos e o aprendizado dos
cafeicultores com o pós-colheita.
"Há cafés fabulosos no sul de Minas, em Varginha, Chapada Diamantina, cafés de origens que jamais alguém imaginou."
A Cooxupé, maior cooperativa do país, de Guaxupé, criou em 2009 uma
empresa para comercializar cafés finos, especiais e certificados.
Lotes com potencial são identificados na classificação às cegas e passam
por nova análise posterior.
Em 2017, 400 dos 13 mil cooperados tinham lotes de alta qualidade.
"Num universo de 6 milhões de sacas, é possível crescermos mais no
café especial ainda", diz o cafeicultor Osvaldo Bachião Filho, diretor da
SMC, empresa criada pela Cooxupé.
Para este ano, a empresa projeta comercializar 100 mil sacas, ante
as 80 mil de anos anteriores.
Fonte: Folha de S.Paulo
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