Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja e Luiz Fernando Veroneis, estudante de graduação
O controle das doenças constitui um importante fator de produção de soja. Nos primórdios do seu cultivo no Brasil, as doenças foram consideradas um mal menor, mas sua importância cresceu, culminando com o surgimento da ferrugem-asiática, a mais devastadora das doenças da cultura, cuja presença foi detectada em março de 2001, no Paraná e se alastrou rapidamente, visto que o fungo causador da doença é facilmente dispersado pelo vento.
Nas safras de 2001-2002 e 2002-2003 a doença já infestava lavouras de soja das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte do País e muitos sojicultores só se aperceberam do dano potencial da doença quando ela já sinalizava para perdas que poderiam ser totais. Para piorar, havia poucos agrotóxicos capazes de controlar a doença e as empresas fabricantes de fungicidas não estavam preparadas para atender a súbita demanda.
Uma parceria público-privada, denominada Consórcio Antiferrugem, reuniu especialistas em doenças de soja, consultores e técnicos da extensão rural de todo o Brasil e representantes das empresas fabricantes de fungicidas. A primeira missão foi realizar o levantamento das informações existentes na literatura mundial, as quais foram organizadas em uma palestra padrão, com cujas informações foram treinados técnicos multiplicadores, que treinaram outros técnicos, que, por sua vez, treinaram os produtores sobre o reconhecimento da doença e os métodos para controlá-la. A coordenação do Consórcio Antiferrugem ficou a cargo da Embrapa Soja. Em reuniões anuais eram discutidos resultados de pesquisa e as estratégias de controle da doença.
Na reunião de 2005 foi proposto o estabelecimento do vazio sanitário nos Estados produtores de soja, um período em que não deveria haver plantas vivas de soja no campo. Essas plantas mantinham o fungo causador da ferrugem de uma safra para outra, resultando na ocorrência da doença nos primeiros estádios da cultura, fazendo com que as aplicações de fungicidas fossem iniciadas mais cedo, aumentando o custo de produção, sem de fato controlar a doença efetivamente em muitas situações. Atualmente, doze Estados e o Distrito Federal têm o vazio sanitário normatizado.
Essa medida proíbe o estabelecimento de lavouras de soja na entressafra, num período não inferior a 60 dias. Na literatura há relato de sobrevivência do fungo de no máximo 55 dias em folhas mantidas à sombra. O período maior, de 90 dias, é uma garantia extra adotada na maioria dos estados. Durante o período do vazio sanitário, além da proibição de semeaduras, não é tolerada a existência de plantas voluntárias (guaxas ou tigueras) nascidas da germinação de grãos não recolhidos pela colhedora ou perdidos pelos caminhões de transporte desde os centros de produção até os centros de processamento e/ou de exportação.
O período do vazio obrigatório não acontece na mesma data em todo o território nacional, porque a data de semeadura não é a mesma em todos os estados. Na grande região produtora do Sul e Centro-Oeste, o vazio começa em 15 de junho, termina em 15 de setembro e dura 90 dias (exceção do Paraná, que começa em 10 de junho e termina em 10 de setembro e da Bahia, que definiu um período maior, de 99 dias). Em outras regiões (Norte e Nordeste) o início pode ser 15 e agosto ou 15 de setembro, com duração de 60 ou 90 dias.
A ferrugem-asiática é a mais destrutiva doença a atacar a soja no Brasil e, diferente de outras doenças já enfrentadas pela cultura, não foi ainda possível controlá-la efetivamente com cultivares resistentes. Existem no mercado algumas cultivares tolerantes que representam uma ferramenta importante no manejo da doença, já que a evolução da doença é mais lenta do que nas cultivares suscetíveis, mas não dispensam o uso de fungicidas, embora possam reduzir significativamente o número de pulverizações necessárias. O controle químico também enfrenta limitações, já que os fungicidas têm perdido eficiência por causa da resistência do fungo causador da ferrugem aos mesmos.
Nesse contexto, o vazio sanitário torna-se uma medida de extrema importância porque pode contribuir para a ocorrência tardia da doença, principalmente naquelas lavouras semeadas no início da época recomendada, reduzindo o risco de perdas de produtividade e fazendo com que o número de aplicações de fungicidas seja menor, o que pode resultar na preservação da eficiência desses produtos por mais tempo.
Fonte: Blog da Embrapa Soja
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