Enquanto o mercado de créditos de carbono não se recupera, a pecuária aposta nos Green bonds e busca aliar melhor produtividade a projetos ambientais
Solução econômica: recuperação de pastos na fazenda Água Viva reduz a emissão de gases e aumenta a lucratividade |
Uma série de projetos pretende tirar a imagem de vilã da pecuária brasileira, acusada de ser uma das principais causadoras da emissão dos gases de efeito estufa. No centro da discussão está a possibilidade de transformar o problema em um negócio viável na emissão de créditos de carbono ou Redução Certificada de Emissões (RCE), certificados que podem ser negociados e comprovam redução de emissão de gases. A mudança é um desafio: a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) aponta a indústria global da carne como responsável pela emissão de 14,5% dos gases causadores do efeito estufa. No mercado de títulos, por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono. Mas um crédito que chegou a valer E 30 no começo da década, hoje chega a apenas E 1. “O mercado arrefeceu depois que a Convenção de Kyoto expirou, em 2012, e as metas obrigatórias de redução deixaram de existir”, afirma Pedro Moura Costa, presidente da BVRio, entidade que promove o uso de instrumentos de mercado para facilitar o cumprimento de leis ambientais e apoiar a economia verde no Brasil. Além do fim das metas obrigatórias, a crise econômica global e seus impactos, principalmente na Europa, a partir de 2009, ajudaram a minar esse mercado.
Agora, a tendência é que essa atividade volte a ficar aquecida, ainda mais depois que entrar em vigência o novo acordo negociado na 21a Conferência do Clima da ONU (COP-21), realizada no ano passado em Paris. As expectativas mais otimistas apontam que isso possa acontecer até 2020. Além disso, as metas mais rigorosas aumentam a expectativa de um mercado ainda mais movimentado do que foi entre 2005 e 2012, quando a Convenção de Kyoto estava em vigência. “Se o mercado mundial movimentou quase US$ 180 bilhões em um ano, naquela época, com uma meta de redução de 5%, imagine com a meta de redução de 70% até 2050”, diz Fábio Nogueira de Avelar Marques, diretor da Plantar Carbon, consultoria especializada em planejamento ambiental no mercado de árvores. Ele é o representante da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) na Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento multisetorial ligado ao agronegócio voltado para o desenvolvimento da economia de baixo carbono.
Um passo importante foi dado quando mais de 30 países, entre eles o Brasil, ratificaram o acordo do clima de Paris. Ao todo, mais de 175 países são signatários do documento e precisam confirmar seus termos de participação antes das metas obrigatórias serem colocadas em prática em 2020. Até lá, Costa, da BVRio, aponta outros dois mercados importantes que podem se fortalecer antes do novo boom do carbono: os green bonds (títulos com a exigência de que os recursos captados sejam aplicados em projetos sustentáveis) e a compensação das áreas de Reserva Legal em nas propriedades rurais. “A Noruega já transferiu para o Brasil US$ 1 bilhão para projetos de redução de emissões”, diz. Empresas brasileiras e governos como o da França já anunciaram a entrada no mercado dos green bonds. No país, ele afirma que o aquecimento do mercado de títulos em unidades de compensação também depende da regulamentação do novo Código Florestal, ainda não concluída.
Enquanto essas opções não se tornam realidade, os projetos de redução das emissões de carbono existentes apostam nas vantagens econômicas para convencer os produtores. Um exemplo é a parceria da americana DowSciences com a Liga Araguaia, grupo formado por 23 fazendas com 85 mil hectares no Estado de Mato Grosso. O programa, que visa recuperar pastagens e melhorar o manejo do gado, serviu para a compensação ambiental dos gases emitidos na realização dos Jogos Olímpicos Rio-2016. “Com manejo eficiente, é possível crescer sem avançar em novas áreas”, afirma Caio Penido Dalla Vecchia, um dos sócios do grupo Roncador, cuja principal fazenda, de mesmo nome, tem 150 mil hectares. Sua propriedade no município de Cocalinho (MT), a fazenda Água Viva, com dois mil hectares de pastagens, é modelo do projeto.
Reprodução Revista Dinheiro Rural |
Fonte: Leonardo Fuhrmann - Revista Dinheiro Rural
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