Startup aposta na agrofloresta com árvores nativas do Brasil para transformar mercado mundial de óleos
quarta-feira, abril 28, 2021
A produção de óleos vegetais a partir da macaúba, árvore nativa amplamente presente no território brasileiro, está prestes a se tornar uma realidade. E quem está à frente deste projeto é a S.Oleum Partners, resultado de uma join venture entre a Soleá Brasil, que desde 2007 estuda o potencial da macaúba, e a SunNRG, assessoria financeira com sólido track record no desenvolvimento e financiamento de projetos e novos negócios. A empresa aposta na agrofloresta com árvores nativas do Brasil para transformar o mercado mundial de óleos.
A S.Oleum vai estruturar e executar o projeto de extração de óleo de macaúba e de culturas agrícolas a serem implementadas nos corredores das agroflorestas, bem como a produção industrial em escala comercial de óleos vegetais avançados (com carga de carbono negativa ou muito baixa), proteína, fibras alimentares e demais biomassas, após quase 14 anos de muita pesquisa. A macaúba é um dos materiais que estão sendo trabalhados, mas existem outros 20 já mapeados e com potencial semelhante e até superior. O processo de domesticação e manejos dessas culturas é extremamente complexo e tem sido o grande diferencial do projeto.
“Nos colocamos no papel de boi de piranha e já estamos atravessando o rio. Muitos estão observando com atenção se nossa iniciativa será bem sucedida”, destaca o CEO da Soleá, Felipe Morbi, ao falar sobre o pioneirismo do negócio. A espécie nativa pode gerar matérias-primas para a produção de alimentos, bioenergia, biocombustíveis, químicos verdes, biofertilizante, hidrogênio verde, entre outros.
A S.Oleum Partners nasce para investir em sistemas de produção agroflorestal integrados a complexos industriais de altíssima tecnologia para obter o máximo de aproveitamento de todos os produtos e biomassas produzidos, no conceito zero waste. O objetivo é viabilizar a produção de alimentos e matérias-primas de alto valor agregado, em larga escala e com carga de carbono negativa ou muito baixa.
“Queremos produzir materiais com baixíssima carga de carbono para abastecer indústrias pressionadas a descarbonizar suas operações e portfólios. Nosso foco é essa integração para atender as indústrias, com acordos comerciais de longo prazo e garantia de venda do produto por 15, 20 anos”, destaca o Felip Morbi.
A operação do projeto está dividida em duas unidades de negócios, a S.Oleum Agroforestry e a S.Oleum Bioindustry. A primeira é a unidade de negócio responsável pelo desenvolvimento de sistemas agroflorestais e silvipastoris para produção de alimentos e biomassas celulósicas e oleaginosas, por meio da recuperação de áreas degradadas. Já a S.Oleum Bioindustry é a unidade de negócio que desenvolve os clusters industriais de alta tecnologia e para processamento e comercialização dos bio-produtos em escala comercial.
“Estamos gerando um forte impacto ambiental nas regiões através da restauração florestal com árvores nativas e grande cuidado com sustentabilidade. E, ainda assim, com muito mais eficiência produtiva e econômica do que a agricultura tradicional”, reforça Morbi. O executivo compara que em um hectare de macaúba é possível produzir até nove toneladas de óleo vegetal, o que representa 15 vezes mais em relação à capacidade de produção de óleo da soja, por exemplo.
Fases do projeto
A expectativa da S.Oleum Partners é realizar rodadas de valutation para, até o final deste ano, receber aportes iniciais. “Esse ano vamos concluir a fase de desenvolvimento e já ter apoio de venture capital, pois precisamos de recursos para rodar pilotos industriais e contratar o desenvolvimento da engenharia das plantas e as análises técnicas das áreas a serem adquiridas”, comenta Morbi. No primeiro semestre de 2022, a foco são as rodadas de equity com investidores, para captar os recursos para aquisição de terra, implantação das florestas e construção dos clusters industriais.
O projeto da S.Oleum envolve três etapas. Na primeira, são previstos 150 mil hectares produtivos para as agroflorestas, onde a macaúba será implantada junto a outras culturas agrícolas. Nesta fase, a previsão de duração é de cinco anos e já conta com área piloto. O objetivo inicial é dar escala comercial e implantar as indústrias de extração e cogeração de energia a partir da biomassa florestal – folhas e cachos vazios das árvores e casca e endocarpo do fruto.
Na fase dois, a ideia é implantar, ao longo de mais cinco anos, outros 500 mil hectares produtivos para atingir escala necessária para introduzir a indústria da produção de hidrogênio verde, entre outras aplicações. As rotas tecnológicas avaliadas para obtenção do hidrogênio verde são a gaseificação de biomassa e posterior reforma do gás de síntese ou a ampliação da geração de energia de biomassa para rodar plantas de eletrólise. A decisão de rota será feita após a conclusão das análises técnicas e estudos de viabilidade, já em andamento com o suporte dos principais fornecedores globais dessas tecnologias.
A aplicação dessas tecnologias só é possível devido às características das biomassas da macaúba, que tem baixíssimo teor de umidade e ausência de enxofre, além do fato de serem abundantes e não ter custos adicionais de produção, salvo o logístico de retirada dos materiais da floresta.
Outras rotas de processamento de biomassas estão em avaliação, como a liquefação hidrotérmica de biomassas celulósicas para produção de bio-óleos com alta carga de energia e baixíssima presença de oxigênio, a partir de biomassas com alto teor de umidade, como os resíduos de lavoras. Esses bio-óleos são muito valiosos na produção de biocombustíveis avançados, como o diesel e o querosene de aviação verdes, através do hidrotratamento.
Por fim, a fase 3, com a implantação de outros 1 milhão de hectares, já com consideráveis melhorias genéticas e operacionais, visto as curvas de aprendizado das fases anteriores. “Na última fase, teremos volumes que viabilizam a produção de produtos acabados sustentáveis de alto valor agregado em larguíssima escala e com competitividade de custos similares aos concorrentes fósseis, como metanol, amônia, hidrogênio e biocombustíveis e matérias-primas sustentáveis para petroquímica. Uma escala fenomenal para abastecer o mercado”, ressalta Felipe.
Pandemia pressiona empresas por descarbonização
A pandemia do coronavírus acelerou uma série de processos que já eram tendência no mercado e no mundo. A pressão por práticas sustentáveis em todos os setores no meio corporativo é um exemplo nesse sentido, o que acaba contando a favor do modelo da S.Oleum: produção com eficiência, impacto social e efeitos positivos no meio ambiente.
Conforme os últimos dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), o Brasil é considerado o sexto maior emissor de gases do efeito estufa no mundo, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos, Índia, Indonésia e Rússia. Considerando apenas o dióxido de carbono, os dados mais recentes do Global Carbon Atlas mostram que o Brasil foi responsável por 1,3% da emissão de dióxido de carbono no mundo em 2018, ou o 14º país que mais emitiu essa substância. China, Estados Unidos e Índia lideram esse ranking.
A macaúba
A macaúba é uma palmácea nativa do Brasil, adaptada a diferentes biomas e condições edafoclimáticas. É conhecida como a palmeira de maior presença no país, estando praticamente ausente apenas na região Sul. O fruto é composto por quatro partes: casca, polpa, endocarpo (parte dura em volta da semente) e amêndoa. O que atrai na planta é a elevada quantidade e qualidade dos óleos e biomassas (fontes de proteína, fibras, celulose e lignina) que essa cultura produz.
Fonte: Grow+
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