Produção brasileira de café vive renascimento sustentável na Amazônia
quarta-feira, abril 14, 2021
Um dos principais vetores de desmatamento na Amazônia durante a década de 1970, o café tem se convertido em uma das principais soluções para reverter um processo que, ainda hoje, ameaça o bioma.
Após 40 anos, a cultura tem se reinventado com novas variedades e técnicas de manejo que, além de gerar renda para pequenos produtores da região, tem ajudado a conter a derrubada da floresta.
“Era um plantio que era quase extrativista. Só não era extrativismo mesmo porque eram lavouras plantadas. Mas não exploravam a área de forma adequada, não tinha adubação, manejo de pragas e doenças. Eram lavouras de propagação por sementes e num perfil totalmente diferente do que a gente vê hoje”, conta o pesquisador da Embrapa Rondônia, Enrique Alves.
Quinto maior produtor de café do país e o segundo maior quando considerada apenas a espécie conilon, foi em Rondônia que a cultura ganhou força a partir da última década, inspirando outros Estados que compõem o bioma amazônico.
“Hoje, com novas variedades e novas tecnologias de manejo, além da sensibilização das famílias, já está havendo uma mudança de mentalidade não só no sentido de não abrir novas áreas, mas de aproveitar terras improdutivas junto com variedades florestais e até mesmo agrícola”, conta o engenheiro florestal, membro da equipe de projetos sociais do Instituto Centro de Vida (ICV), Jessé Lopes Carvalho.
Ele o exemplo do norte do Mato Grosso, onde o café é cultivado junto com espécies nativas, além de cacau, cupuaçu e abacate. “Hoje, essa conversão de áreas para o café em sistemas agroflorestais cria um ambiente mais agradável tanto para a cultura quanto para as famílias que estão ali trabalhando. Além disso, ajuda a reduzir o uso de pesticidas gerando agregação de valor ao produto final e diversificação da produção”, explica o engenheiro florestal.
Café da Amazônia
Foi com base nesses aspectos que o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) iniciou, em 2014, um projeto para incentivar o cultivo em sistema agroflorestal em Apuí (AM), cidade onde o a cultura vinha gradativamente dando espaço para a pecuária extensiva e predatória.
“A proposta era encontrar meios de produção que interrompessem o ciclo de expansão de novas áreas e desmatamento e quando chegamos lá vimos que no próprio café existia essa possibilidade”, relata Mariano Cenamo, diretor de novos negócios do instituto.
Mais de cinco anos depois, o que era um projeto de desenvolvimento para a região se tornou uma marca de café orgânico e agroflorestal reconhecida internacionalmente, garantindo uma renda de até R$ 5 mil por hectare aos seus produtores cadastrados.
“O café Apuí representa essa nova fase de expansão que está acontecendo na cafeicultura da Amazônia, que tem tido destaque não só na região, como também no Mato Grosso, Espírito Santo e outros Estados que têm apostado nos robustas amazônicos”, comenta o pesquisador da Embrapa Rondônia ao destacar o uso da variedade desenvolvida pela própria estatal a partir do cruzamento das espécies conilon e robusta e que hoje é usada na renovação dos cafezais da própria Apuí.
“O que estamos fazendo é readaptar o sistema de produção do café para as condições amazônicas e esse processo leva muito em conta os fatores econômicos. Não estamos produzindo em agroflorestal só porque é mais interessante do ponto de vista ambiental, mas porque o produtor também ganha mais”, observa Cenamo ao defender o sistema adotado pelo café Apuí.
Segundo ele, o modelo converteu-se em uma tendência local, ganhando cada vez mais força entre os pequenos agricultores da região. E, para compartilhar as estratégias e incentivar novos negócios, o Idesam lançou na terça-feira (13/4) a publicação Do Projeto à Empresa de Impacto: A Experiência do Café Agroflorestal, que detalha a trajetória do café Apuí.
“Nós estamos revertendo uma tendência de desmatamento e restaurando áreas degradadas. Nosso sistema não produz só café, mas também sequestro de carbono. E hoje nós vendemos esse crédito de carbono. Então, o sistema de produção agroflorestal entrega muito valor para além do café. E isso é bom para o produtor, para sociedade e para o consumidor”, completa o diretor de novos negócios do Idesam.
Fonte: Revista Globo Rural
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