A
implementação de uma política setorial para o desenvolvimento de
biocombustíveis, especialmente o bioquerosene de aviação, deve ser uma
meta prioritária do governo brasileiro, tendo em vista os
atuais compromissos relativos à redução de emissões de gases de efeito
estufa no âmbito nacional e internacional, bem como os benefícios
sociais, ambientais e econômicos resultantes da produção em grande
escala deste tipo de combustível.
A ABEAR (Associação Brasileira das
Empresas Aéreas) entende como premissa dessa estratégia fazer com que o
preço do bioquerosene de aviação seja viável economicamente, de
forma a não acarretar impacto no preço dos bilhetes para o usuário
final, além de permitir que o insumo seja produzido num volume que possa
suprir as necessidades de operação das companhias ao longo dos próximos
anos.
O Brasil tem plenas condições de ser protagonista global na questão do bioquerosene.
O país reúne condições extremamente favoráveis para produção desta
modalidade de combustível, com diferencial competitivo e potencial de
ganho de escala, seja pelo tamanho do setor aéreo, pela eficiência e
sustentabilidade do agronegócio brasileiro ou pelo fato de não haver
concorrência com a produção alimentícia.
Segundo o anuário da Agência Nacional de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a capacidade instalada
nacional de produção de biocombustíveis é próxima a 100 bilhões de
litros por ano, sendo sete bilhões de litros de biodiesel, mais de 90
bilhões de litros de etanol e nada de bioquerosene. No entanto, há
evidências de rotas tecnológicas para a produção de bioquerosene de
aviação no país, com viabilidade econômica e financeira, aproveitando a
experiência já desenvolvida neste tipo de atividade.
Atualmente o Brasil comercializa sete bilhões de litros de querosene de aviação de origem fóssil por ano (Plano de Ação para Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa da Aviação Civil Brasileira – Secretaria de Aviação Civil/2015),
dos quais 25% são importados. A partir da constatação de que o
resultado financeiro das empresas aéreas apresenta uma margem
extremamente pequena e que os gastos com combustível significam em média
26% da matriz de custos de um operador aéreo (2016), conclui-se
naturalmente que não há como absorver novos aumentos do preço dos
combustíveis.
Apoio e financiamento para a pesquisa
Para dar
sustentação às atividades de pesquisa e desenvolvimento necessários para
uma produção sustentável do bioquerosene, é preciso buscar fontes de
financiamento tais como o Fundo Nacional de Aviação Civil e outros vinculados a este objetivo.
Como parte dos esforços para viabilizar o
bioquerosene, a aviação comercial acompanha o desenvolvimento do
Renovabio, programa do governo federal que busca expandir a produção de
biocombustíveis no país. Neste sentido, o setor de aviação propõe
ajustes no referido programa que garantam as atuais bases de custo da
indústria aérea e criem instrumentos para fomentar a consolidação de
bioquerosene de aviação em todo o território nacional.
Metas a alcançar
Desde 2010, os 192 países pertencentes à OACI, agência da ONU responsável pelo desenvolvimento seguro e ordenado do setor, estabeleceram metas para redução das emissões de gases de efeito estufa para aviação civil internacional. Tais metas, fixadas para 2020 e 2050, deverão ser alcançadas a partir da utilização de diferentes
mecanismos, dentre eles um sistema de compensação de emissões por meio
de aquisição de créditos de carbono, denominado CORSIA (Carbon Offset and Reduction Scheme for International Aviation).
A compensação de emissões terá três etapas de implantação, sendo duas de adesão voluntária (2021 a 2023 e 2024 a 2026) e uma de adesão obrigatória,
entre 2027 e 2035. Na prática, tal política internacional fará com que o
combustível passe a ser onerado pela obrigatoriedade de aquisição de
créditos de carbono, o que amplia ainda mais a importância e a
oportunidade para a viabilização de uma estrutura de produção e
distribuição de combustíveis aeronáuticos sustentáveis no Brasil.
É importante notar que a OACI entende que
as emissões da aviação são difusas e de caráter global. O que
possibilitará a contabilização das reduções resultantes da utilização de
querosene de origem renovável em voos domésticos como parte das metas
do CORSIA.
A OACI, em seus estudos, considera
que o CORSIA se manterá ativo somente até 2035, pois qualquer
sistemática de aquisição de créditos de carbono é uma solução
temporária. Além disso, os estudos indicam que somente a
utilização intensiva de querosene de origem renovável vai garantir a
perenidade da neutralização de emissões da indústria.
Adicionalmente, é necessário levar
em conta que também existem os nossos desafios internos, definidos nas
Contribuições Nacionalmente Determinadas (da sigla em inglês NDC), firmadas no âmbito da 21ª Conferência das Partes da UNFCCC (United Nations Framework Climate Change Convention), realizada em dezembro de 2015, em Paris.
São compromissos ainda mais agressivos do que os determinados pela OACI e válidos para todo o setor produtivo nacional, incluindo o modal de transporte, já que a NDC brasileira determina metas de redução de emissões de 37% até 2025 e de 43% até 2030, com base nos níveis de 2005.
São compromissos ainda mais agressivos do que os determinados pela OACI e válidos para todo o setor produtivo nacional, incluindo o modal de transporte, já que a NDC brasileira determina metas de redução de emissões de 37% até 2025 e de 43% até 2030, com base nos níveis de 2005.
Todos estes dados apresentados
indicam, portanto, a necessidade de se atribuir aos biocombustíveis em
geral, e ao bioquerosene de aviação em particular, status de política de
Estado, devido às fortes demandas estabelecidas e aos amplos benefícios
que seu desenvolvimento trará tanto no cenário doméstico quanto
internacional.
Fonte: Panorama
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