Integração Lavoura, Pecuária e Floresta é alternativa sustentável para o agronegócio
quarta-feira, agosto 24, 2022
O Brasil tem o maior rebanho comercial de bovinocultura de corte do mundo, consistindo no maior exportador e segundo maior produtor. Consequência de seu tamanho, a pecuária apresenta uma considerável participação nas emissões nacionais.
De acordo com relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano passado, o Brasil ocupa o 3º lugar de maior emissor de carbono no mundo, ficando atrás somente da China e da Índia. Os dados mostram ainda que, em 2019, 31% do total das emissões de gases de efeito estufa, ou 16,5 bilhões de toneladas, se originaram na pecuária. O aumento de emissões de carbono na pecuária foi de 17% em comparação com os últimos 30 anos.
Nesse contexto, o sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) apresenta-se como uma estratégia viável para a compensação dessas emissões pelo setor agropecuário. Com a implementação desse sistema, é possível conciliar produtividade com sustentabilidade.
O que é ILPF?
Conforme definição da Embrapa, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) trata-se da utilização de diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área, podendo ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades.
O sistema ILPF tem como objetivo otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade em uma mesma área, usando melhor os insumos, diversificando a produção e gerando mais renda e emprego. Tudo isso, de maneira sustentável, com baixa emissão ou mitigação de gases de efeito estufa.
Benefícios ambientais e econômicos do ILPF
O crescimento da implementação do sistema ILPF no Brasil nos últimos anos se dá pelos benefícios tecnológicos, ambientais e socioeconômicos que seu uso pode promover. São eles:
Tecnológicos
- A manutenção da capacidade produtiva das pastagens em patamares sustentáveis;
- O aumento da oferta de alimentos de melhor qualidade para os animais (especialmente na seca) como pastagem, grãos, silagens e fenos com menor custo de produção;
- A troca da planta forrageira por espécies mais produtivas;
- o aumento da fertilidade do solo com redução da erosão e da infestação de plantas daninhas;
- A melhoria do bem-estar animal devido ao maior conforto térmico;
- O componente florestal/arbóreo melhora as condições climáticas e o aumento da umidade do ar;
- O aumento da matéria orgânica no solo, que melhora os atributos físicos, químicos e biológicos do solo;
Ecológicos e ambientais
- A diminuição do risco de erosão e melhoria da qualidade da água;
- A mitigação dos gases do efeito estufa, resultante da maior capacidade de sequestro de carbono;
- A melhoria do aproveitamento da água e dos nutrientes do solo;
Econômicos e sociais
- O aumento da produção anual de alimentos com custo mínimo;
- A geração de emprego e renda no campo;
- O aumento da oferta de alimentos de qualidade;
- O estímulo à qualificação profissional;
- A melhoria da qualidade de vida do produtor e da sua família;
- O aumento da renda dos empreendimentos rurais.
A Macaúba no sistema ILPF
A larga ocorrência em território brasileiro, a robustez, a alta produtividade e a versatilidade da Macaúba (Acrocomia aculeata) lhe conferem um grande potencial para viabilizar novos negócios, gerando emprego e renda, e, ao mesmo tempo, aumentando a oferta de serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono e recuperação de áreas degradadas.
O plantio consorciado de Macaúba com pastagem tem potencial para conciliar a recuperação de áreas devastadas ou subaproveitadas com o aumento da produtividade. Desse modo, alia-se a produção de leite e carne e cria-se ainda uma nova fonte de renda, por meio dos produtos e coprodutos provenientes do cultivo da Macaúba, além de introduzir uma cultura florestal nativa, contribuindo com a regeneração e o reflorestamento de áreas de pastagens degradadas.
“Todo lugar que coletamos material para pesquisa sobre a Macaúba era áreas de pastagens. A Macaúba está naturalmente no pasto, dando frutos. O pasto embaixo do pé de Macaúba é mais verde do que o pasto no entorno dele. O boi já está acostumado a conviver e se alimentar dos frutos da Macaúba”, comenta o Professor Sérgio Motoike, líder de pesquisas sobre Macaúba na Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Ademais, de forma indireta, o plantio da Macaúba em consórcio com a pecuária e outras culturas pode reduzir as pressões pelo desmatamento de áreas de florestas tropicais e em vários outros biomas para a expansão de monoculturas para fins alimentícios ou energéticos.
Orientado pelo Professor Sérgio Motoike, o pesquisador Sebastián Giraldo Montoya demonstrou, em seu estudo intitulado “Ecofisiologia e produtividade de Brachiaria decumbens em sistema silvipastoril com a Macaúba”, publicado em 2016, que o consórcio entre Macaúba e Capim-braquiária se equipara ao tradicional consórcio entre eucalipto e forrageira, principalmente, em relação ao sequestro de carbono, provando-se apto à exploração agrícola sustentável e responsável com o meio ambiental. Do ponto de vista pecuário, a presença da Macaúba é capaz de oferecer locais ideais para o descanso, ócio e ruminação dos animais, mantendo a produtividade de carne e leite.
Além disso, a expectativa é que o balanço de carbono em áreas ocupadas somente com animais e pasto passe de negativo para nulo em pastagens com consórcio com a Macaúba. Segundo estudo intitulado “Acúmulo de biomassa e carbono em cultivo de Macaúba”, publicado pelo pesquisador Sandro Lúcio Silva Moreira, o cultivo da palmeira com 9 anos de idade é capaz de estocar 226,17 t CO2e. ha-1.
Estudos em andamento
Sobre o cultivo da Macaúba em consórcio com a pecuária e com outras culturas, há trabalhos significativos em andamento na Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de iniciativas privadas como a Soleum, por exemplo.
A Soleum, empresa que produz matérias-primas sustentáveis e possui como carro chefe a Macaúba, também realiza pesquisas nessa área. Em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e o Projeto Rural Sustentável, a Soleum vem realizando plantios de Macaúba em consórcio com milho, mandioca e girassol em seu centro técnico-científico.
Igualmente em parceria com a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) vem sendo realizados plantios consorciados de Macaúba com soja, em uma área de pastagem abandonada há mais de 15 anos com capim-colonião (Panicum Maximum Jacq).
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