Os biocombustíveis, explicados
segunda-feira, junho 20, 2022
Os biocombustíveis existem há mais tempo do que os carros, mas a gasolina e o gasóleo baratos têm mantido estas opções à margem. Os picos nos preços do petróleo e, mais recentemente, os esforços globais para evitar os piores efeitos das alterações climáticas, deram nova urgência à procura de combustíveis limpos e renováveis.
As nossas viagens por terra, mar e ar representam quase um quarto das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, e os transportes são ainda fortemente dependentes dos combustíveis fósseis. O conceito por detrás do biocombustível baseia-se na substituição dos combustíveis tradicionais por combustíveis elaborados com material vegetal ou outras matérias-primas renováveis.
Mas utilizar terras agrícolas para produzir combustível em vez de alimentos traz os seus próprios desafios, e as soluções baseadas em resíduos ou outras matérias-primas ainda não conseguem competir em preço e em escala com os combustíveis convencionais. Será necessário triplicar a produção global de biocombustíveis até 2030 para cumprir os objetivos da Agência Internacional de Energia para o crescimento sustentável.
Tipos e utilizações dos biocombustíveis
Há várias formas de produzir biocombustíveis, mas geralmente recorre-se a reações químicas, fermentação e calor para destruir os amidos, açúcares e outras moléculas das plantas. Os produtos resultantes são então refinados para produzir combustível para automóveis ou outros veículos.
Grande parte da gasolina utilizada nos Estados Unidos contém um dos biocombustíveis mais comuns: o etanol. Produzido pela fermentação dos açúcares de plantas como milho ou cana-de-açúcar, o etanol contém oxigénio que ajuda o motor a queimar combustível de forma mais eficiente, reduzindo a poluição do ar. Nos EUA, onde a maioria do etanol é derivado do milho, o combustível é tipicamente 90% gasolina e 10% etanol. No Brasil, o segundo maior produtor de etanol depois dos EUA, falamos de até 27% de etanol, com a cana-de-açúcar como principal matéria-prima.
As alternativas ao gasóleo incluem biodiesel e gasóleo renovável. O biodiesel, derivado de gorduras como óleo vegetal, gordura animal e gordura doméstica, pode ser misturado com gasóleo à base de petróleo. Alguns autocarros, camiões e veículos militares nos EUA funcionam com misturas de combustível que podem chegar a ter 20% de biodiesel, mas o biodiesel puro pode ver-se comprometido pelo clima frio e pode causar problemas nos veículos mais antigos. O gasóleo renovável, um produto quimicamente diferente que pode ser derivado de gorduras ou resíduos vegetais, é considerado um combustível "drop-in", que não precisa de ser misturado com gasóleo convencional.
Também foram criados outros tipos de combustível à base de plantas, para utilização na aviação e no transporte marítimo. Mais de 150 mil voos já utilizaram biocombustível, mas a quantidade de biocombustível produzido em 2018 representou menos de 0,1% do consumo total. Também nos transportes marítimos, o nível de adoção de biocombustíveis está muito abaixo das metas estabelecidas pela Agência Internacional de Energia para 2030.
O gás natural renovável, ou biometano, é outro combustível que poderá potencialmente ser usado tanto para o transporte, como para a geração de calor e eletricidade. O gás pode ser capturado em aterros sanitários, operações pecuárias, águas residuais ou outras fontes. Este biogás capturado deve ser então mais refinado para remover água, dióxido de carbono e outros elementos presentes, de modo a cumprir os padrões necessários para abastecer veículos movidos a gás natural.
De que é feito o biocombustível?
Os biocombustíveis podem ser fabricados a partir de uma grande variedade de materiais, ou matérias-primas. Embora o milho e a cana-de-açúcar sejam matérias-primas bem estabelecidas no fabrico de etanol, o processo de cultivo, o fabrico de fertilizantes e pesticidas e o processamento das plantas em combustível consome muita energia. De facto, a energia consumida é tanta que existe um debate sobre se o etanol de milho representa realmente um benefício ambiental suficiente tendo em conta o investimento necessário.
Assim, cientistas e empresas estão em processo de explorar outros materiais com potencial para servir como combustível, sem as preocupações inerentes ao fornecimento de alimentos e ao impacto ambiental. O etanol celulósico, por exemplo, usa palha de milho, resíduos de madeira ou outros materiais vegetais que não seriam aproveitados de outra forma. Outras matérias-primas potenciais para os biocombustíveis incluem gramíneas, algas, resíduos animais, gorduras domésticas e lodo de águas residuais, mas os investigadores continuam à procura dos métodos mais eficientes e económicos para a sua transformação em combustível utilizável.
Fonte: National Geographic
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