"Governo é hoje a maior ameaça ao setor de biodiesel", diz Tokarski
segunda-feira, abril 25, 2022
O biodiesel pode reduzir em até 90% as emissões de gases de efeito estufa comparado com o diesel fóssil. É o que afirma o diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, que participou nesta sexta-feira (22/4) do CB.Agro — parceria entre o Correio e a TV Brasília.
Em 2021 a indústria nacional de biodiesel movimentou R$ 10,5 bilhões, o que corresponde a 2% da atividade agroindustrial.
O presidente Jair Bolsonaro aprovou uma resolução de novembro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que estabelece o teor de mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel em 10% para o ano de 2022, frustrando integrantes da indústria que esperavam uma reversão da medida. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel previa o uso de 13% de biodiesel no diesel na maior parte de 2021, o que não aconteceu também por decisão do governo, e a elevação da mistura para 14% em 2022.
Para entender a resolução e assegurar a implementação do B14, produtores de biodiesel fizeram altos investimentos da capacidade instalada da indústria. No entanto, como o aumento na mistura não aconteceu, as indústrias estão hoje com 52% de ociosidade.
“Quando o governo sinalizou, lá atrás, que ia ter uma mistura crescente, os empresários acreditaram no governo e investiram. Nós aguardamos um retorno para que a gente possa retomar imediatamente a 11% da mistura, passar para 12%, 13% e chegar, em março do ano que vem, com 15%”, pontuou Tokarski.
“Nós deveríamos aumentar imediatamente a produção de biodiesel, porque ele não é só um combustível, ele é segurança alimentar, segurança energética e desenvolvimento regional. Nós temos, em todas as regiões do Brasil, no interior, as indústrias do Biodiesel, então, estamos diversificando a matriz energética”, completou.
Poluição
No Brasil, há diversas matérias-primas potenciais para produção de biodiesel: soja, girassol, algodão, mamona, óleos residuais, dentre várias outras.
Tokarski citou uma pesquisa da OMS que aponta que, a cada ano, cerca de 51 mil brasileiros morrem por doenças decorrentes ou intensificadas pela exposição a altos níveis de poluentes. Os impactos da poluição do ar na saúde estão conectados com a incidência de mortes prematuras, doenças pulmonares e cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais.
No Brasil, há a falta de monitoramento dos índices de poluição na maior parte do país: menos de 100 dos 5.570 municípios brasileiros (1,7%) possuem sistemas de acompanhamento — a maioria encontra-se no Sudeste. Na prática, isso significa que a maior parte do Brasil não tem informações sobre as condições do ar respirado por seus cidadãos.
“Eu vejo um grande erro nesta história e é a falta de uma contabilidade socioeconômica ambiental e de saúde pública. Quando se olha apenas para o preço do biodiesel e o preço diesel na bomba, deixa-se de olhar o que está por trás disso, por exemplo, a poluição.”
Outro fator destacado pelo diretor superintendente da Ubrabio é a melhoria na qualidade do ar e redução de emissões de gases de efeito estufa. "Isso é qualidade de vida das pessoas, quanto custa para respirarmos um ar de qualidade?”, questiona.
Tokarski criticou ainda as ameaças do governo Bolsonaro em importar biodiesel de outros países na tentativa de reduzir o preço dos combustíveis no mercado interno. Enquanto isso, segundo ele, as indústrias brasileiras estão paradas e com pessoas desempregadas no país.
“Hoje, nós temos 74 mil famílias na agricultura familiar que fornecem matéria-prima para essa cadeia, favorecendo o desenvolvimento regional.”
Biocombustível do Futuro
Sobre outros biocombustíveis em processo de desenvolvimento no país, ele é taxativo. “Nós temos vários outros biocombustíveis que devem ser produzidos aqui no Brasil, por exemplo, diesel verde, o bioquerosene e outros que estão em processo de desenvolvimento. Não podemos olhar para o futuro sem valorizar o presente. Quem é o industrial que vai querer colocar outras indústrias de outros combustíveis aqui vendo que o biodiesel está num processo de estagnação e desconstrução da política pública do biodiesel frente às ameaças que foram tomadas?”
Entrevista com Tokarski:
Fonte: Correio Braziliense
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