Pesquisas analisam desafios agrícolas, alimentares e ambientais de América Latina e Caribe
quinta-feira, setembro 12, 2019
Noventa por cento do território da América Latina e do Caribe podem ser considerados rurais. Foto: Lianne Milton |
Como será a América Latina e o Caribe com dois graus a mais de temperatura? Quais são os novos padrões alimentares na região? Qual é a situação atual das mulheres e dos povos indígenas? Quais são as tendências de migração, recursos naturais e desenvolvimento territorial? Como a agricultura da região deve mudar para atender à demanda global por alimentos?
Essas muitas outras perguntas são abordadas pelos autores da Série 2030 Alimentos, Agricultura e Desenvolvimento Rural na América Latina e no Caribe, apresentada nesta terça-feira (10) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Instituto do Instituto de Estudos do Peru (IEP).
Trata-se de uma coleção de 33 documentos elaborados por mais de 90 especialistas, que analisaram minuciosamente os principais desafios da região e propuseram formas inovadoras de enfrentá-los.
“Pela primeira vez na História, a maior parte das inovações que afetam o mundo rural está sendo feita por atores que não estão no mundo rural e que não têm uma relação direta com ele. Estamos em um novo cenário completamente diferente de transformações tecnológicas radicais”, explicou Julio Berdegué, representante regional da FAO, durante a apresentação da série 2030.
Segundo Berdegué, um dos documentos da série destaca que 4 mil startups relacionadas ao setor agrícola são inauguradas todos os dias na China. “Como será o futuro da agricultura em um mundo dessa natureza? É hora de repensar todas as questões relacionadas ao mundo rural e à alimentação”, afirmou.
Desenvolvimento rural é chave para futuro da região
Um dos principais aspectos do mundo rural, destacado por vários autores, é a enorme riqueza das áreas rurais: de acordo com o documento “Estado e Perspectivas dos Recursos Naturais e Ecossistemas”, a região possui capital natural (terra, florestas) e recursos não renováveis (petróleo, gás e minerais) que contribuem com 17% do crescimento de sua riqueza. É a segunda região global com a maior contribuição do capital natural para sua riqueza.
Noventa por cento do território da América Latina e do Caribe podem ser considerados rurais, explica o documento “Desenvolvimento Rural Sustentável”, fato impressionante que destaca imediatamente sua importância. “O setor agrícola é o principal setor exportador de bens da região”, explicou Martín Piñeiro, diretor da Comissão de Assuntos Agrícolas do Conselho Argentino de Relações Internacionais.
Trabalhar com esses territórios é fundamental porque, das 169 metas estabelecidas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 78% têm o mundo rural como cenário, pelo menos parcialmente, e uma em cada cinco metas é exclusiva ou fundamentalmente rural, conforme explicado no documento de resumo da série “Transformação Rural: Pensando o Futuro da América Latina e do Caribe”.
“O rural na América Latina e no Caribe é de importância planetária. Alimentamos uma parte importante do planeta. O mundo rural não é apenas agricultura, mineração e florestas, mas é essencial enfrentar as mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade”, explicou Carolina Trivelli, principal pesquisadora do IEP.
Recursos naturais e mudanças climáticas
A região possui a maior reserva de solos aráveis do mundo (576 milhões de hectares, equivalente a 30% do total mundial); 30% das reservas de água renovável do planeta; 25% das florestas; 46% das florestas tropicais; e 30% da biodiversidade mundial, explicou o documento “Inovação, Agregação de Valor e Diferenciação”, que analisou as estratégias para o setor agroalimentar.
Mas todos esses recursos devem ser utilizados e tratados à luz das mudanças climáticas. Segundo a pesquisa “Situação Rural na América Latina e no Caribe”, com 2 graus de aquecimento, projeta-se que todos os países da região excedam dois graus Celsius do aumento médio da temperatura por volta de 2050.
Mudanças nos sistemas alimentares e desafios sociais
O documento que analisou os novos padrões alimentares destacou que a maior quantidade e variedade de alimentos na região permitiu reduzir com sucesso o número de populações subnutridas, passando de 62,6 milhões para 39,3 milhões entre 2000 e 2017, um declínio que excede quase quatro vezes a média mundial, segundo seus autores.
O inverso dessa mudança ocorreu na obesidade: a taxa de excesso de peso em adultos aumentou mais de 20 pontos percentuais, de 33,3% para 57,7%, entre 1975 e 2015. No mesmo período, a taxa da obesidade em adultos triplicou, passando de 7,8% para 23,6%.
O aumento da pobreza — que cresceu dois pontos percentuais após 20 anos de redução sustentada, de 46,7% para 48,6% —, aliado às mudanças climáticas, à insegurança e à violência estão impulsionando a migração na região, segundo a pesquisa “A Agenda 2030 e a Transformação dos Territórios Rurais: Um Desafio para as Instituições Latino-Americanas”.
“Os migrantes de América Latina e Caribe são estimados em 28,5 milhões de pessoas, representando 4,8% de sua população total. Desde 1970, o peso dos migrantes intra-regionais aumentou de 24% para 63% do total de migrantes na região em 2010”, explicou Fernando Soto-Baquero no documento “Migração e Desenvolvimento Rural”.
Fonte: Nações Unidas
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