Nível do mar pode aumentar em até 1 metro neste século
sexta-feira, setembro 27, 2019
Embarcação navega no mar Ártico entre placas de gelo |
Mesmo se temperatura for contida, corais estão condenados; relatório divulgado nesta quarta-feira alerta para deslocamento de milhões de pessoas
É uma parte de nós que vamos perder”, afirma Kabay Tamu, 28. Quando o mar inundar sua pequena ilha de corais, sua terra e cultura correm o risco de desaparecer, assim como outras em todo planeta. Tamu é um morador de Warraber, pequena ilha de quase 40 hectares e de menos de 300 habitantes entre a Austrália e Papua Nova Guiné. “Vemos claramente os efeitos da mudança climática, o aumento do nível do mar, a erosão que leva nossa terra, com a qual temos uma profunda conexão cultural e espiritual”, relata Tamu por telefone à AFP.
O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), publicado nesta quarta-feira, 25, destaca que, até 2100, se nada for feito, o aumento do nível do mar pode alcançar até 1 m de altura; isso pode acarretar a retirada de milhões de moradores de áreas costeiras e ilhas.
Com o aquecimento da água, oceanos se tornarão mais ácidos, alterando a vida marinha; ainda que se limite o aquecimento a 1,5°C, os recifes de coral já estão quase todos condenados. E o degelo do permafrost (camada permanente de gelo) vai liberar mais de 1.500 gigatoneladas de gases de efeito estufa – quase o dobro do carbono que atualmente está na atmosfera. Até o fim deste século, a frequência de ondas de calor marinhas pode aumentar em 50 vezes, chegando a uma variação de 3°C a 4°C.
O documento traz ainda a possibilidade de que algumas ilhas se tornem inabitáveis. Não necessariamente porque ficarão debaixo d’água, e sim porque as repetidas inundações contaminarão a água doce. “Diante desta perspectiva sombria, cada um tem uma escolha pessoal”, destaca Tamu. Para ele e sua família, partir não é uma opção. “Perderíamos nossa cultura”, justifica, ao mencionar as terras sagradas onde seu povo, que vive na ilha há milhares de anos, pratica diversas cerimônias e rituais.
A questão dos deslocamentos de moradores relacionada com a mudança climática é abordada nos aspectos prático, político, econômico e logístico. “Mas, no que diz respeito ao aumento do nível do mar, devemos reconhecer que é uma questão totalmente diferente”, destaca Bina Desai, do Observatório de Situações de Deslocamento Interno (IDMC).
“Não há retorno. É uma realocação, não apenas física, mas também cultural e espiritual”, prossegue, ao citar a resistência de alguns à ideia de “partir sem seus antepassados”, enterrados no local.
Fonte: O Tempo
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