China tem algo que polui mais do que 21 milhões de carros
segunda-feira, setembro 23, 2019
Os centros de dados, onde estão armazenados emails, fotos e vídeos da população, têm necessidades de energia brutais. A sua produção, num país que depende tanto do carvão, implica poluir tanto quanto 21 milhões de automóveis. E a necessidade de energia vai aumentar 66% nos próximos cinco anos |
Atualmente, a melhoria da qualidade do ar e a redução do CO2 está concentrada no combate aos veículos poluentes. Mas os chineses têm um tipo de empresa que polui mais do que 21 milhões de automóveis.
No ar que envolve o planeta, há dois tipos de problemas que limitam a nossa qualidade de vida e até a longevidade. Por um lado, o excesso de poluentes, especialmente evidentes nas grandes cidades, das partículas aos óxidos de azoto (NOx), passando pelo enxofre e por tudo o mais que os motores de combustão emitem. Por outro lado, a queima de combustíveis fósseis emite dióxido de carbono (CO2) que, se bem que não seja um poluente, é o principal responsável pelo efeito estufa e o aquecimento global. Estes são os motivos que levaram os diferentes países – uns a ritmo mais vigoroso do que outros, com os europeus na liderança – a declarar guerra aos combustíveis fósseis, que começou com a adoção de uma maior percentagem de fontes renováveis para a produção de energia eléctrica, colocando de lado a queima de carvão e de derivados de petróleo, e o estabelecimento de metas muito apertadas para as emissões de CO2 dos veículos.
Se esta estratégia parece correta, apesar de estar a ser exigido aos fabricantes e aos condutores um esforço extra, o curioso é que há empresas que emitem mais CO2 do que muitos milhões de veículos. Segundo a Universidade de Energia Eléctrica do Norte da China e a organização não-governamental ambiental Greenpeace, os centros de dados chineses, que armazenam fotos, vídeos e emails de todo o mundo, produzem uma quantidade de CO2 por ano equivalente à de 21 milhões de automóveis.
De acordo com o estudo, que pode ver aqui, os centros de dados chineses – com a China a rivalizar com os EUA neste domínio – produzem anualmente 99 milhões de toneladas de CO2, sensivelmente o mesmo da indústria aeronáutica, ou seja, entre 3% e 5% da energia eléctrica gerada na China. Para que não existam dúvidas, os data centres não produzem, só por si, CO2. Porém, consomem largas quantidade de energia eléctrica que tem de ser produzida. E isto num país como a China, onde o carvão ainda é um dos combustíveis mais utilizados para gerar eletricidade, atingindo 75% segundo a Greenpeace, uma vez que os chineses, apesar do forte investimento em parques solares e eólicos, não verão as energias renováveis cobrir 20% das necessidades do país antes de 2030, quando em Portugal, já hoje, ultrapassaram os 50%, com picos superiores a 60%.
As enormes emissões de CO2 geradas pela indústria dos centros de dados chineses, como o da Apple, Tencent e Alibaba, entre muitos outros, inclusivamente os do próprio Governo, são exclusivamente devidas aos meios utilizados pelo país para produzir a sua energia eléctrica. Um pouco à semelhança do estudo revelado recentemente, que acusava os carros eléctricos de emitirem tanto CO2 na Alemanha quanto um motor diesel moderno (só CO2, pois se analisarmos os poluentes, a comparação cai pela base), o que só acontece devido à elevada utilização de carvão na geração de energia, sendo este país europeu o 6º maior emissor de CO2.
Tendo em conta que o estudo menciona ainda que, nos próximos cinco anos, os centros de dados deverão incrementar em 66% as necessidades energéticas, devido à crescente quantidade de informação a armazenar, estima-se que o consumo de eletricidade atinja 267 TWh em 2023, o que é similar a toda a eletricidade consumida por países como a Austrália e quase cinco vezes mais do que a necessária a Portugal. Menos mal que, para reduzir a necessidade de energia consumida pelos centros de dados, já há empresas a refrigerar os servidores com água dos lagos e rios próximos, bem como a recorrer a electricidade produzida por parques solares e barragens construídos nas proximidades.
Fonte: Observador
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