Instituto quer medir demanda de negócios socioambientais no Brasil
terça-feira, agosto 13, 2019
Em 2018, Conexsus mapeou cerca de mil empreendimentos e agora quer estimular a geração de negócios especialmente em grandes centros
Em 2018, o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) mapeou cerca de mil negócios considerados socioambientais pelo Brasil: são associações de pequenos produtores, cooperativas de agricultores familiares, que produzam segundo critérios de sustentabilidade e boas práticas. Agora, a organização sem fins lucrativos quer identificar a demanda e as oportunidades para eles nos centros de consumo.
Desde junho, está aberta a iniciativa Negócios pela Terra. É, segundo o Conexsus, o primeiro mapeamento de demanda para negócios comunitários socioambientais. A coleta de informações está sendo feita pela internet. Depois devem ser promovidos encontros, com a expectativa de, até o final do ano, gerar negócios.
Para quem ainda não tem seus produtos inseridos nos grandes centros, a ideia é dar uma oportunidade de se organizar e chegar até esses locais. Para quem já fornece para além das suas regiões, mesmo que em pequena escala, pode ser uma forma de ampliar a atuação. A proposta é identificar quem vende, compra e investe e oferecer o suporte para que se relacionem e negociem.
“Conhecer o consumidor ajuda. Como trabalhamos um pouco longe do público, quanto mais conhecê-lo, começamos a descobrir ideias novas para atender o que ele está procurando”, avalia Adalberto Santos, diretor da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros, Assentados e Guias Turísticos do Cerrado, sediada em Goiás. A Coopcerrado é responsável pela marca de produtos naturais e orgânicos Empório do Cerrado.
Segundo Adalberto, a cooperativa está organizada em Goiás, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Mato Grosso e reúne cerca de 4,5 mil famílias. Todos são pequenos produtores. Ele mesmo concilia extrativismo e cultivos de hortaliças, gergelim e pimenta em uma área de 15 hectares, onde também diz ter algumas galinhas e cabeças de gado de leite.
O cooperativismo foi a forma que os participantes do que chama de rede encontraram para estimular a produção e gerar uma renda que, sozinho, o pequeno, muitas vezes, não consegue. “Organizar em rede é mais fácil, ainda mais para trabalhar com o extrativismo. Depois surgiram demandas de produção voltadas para o setor de orgânicos. Então, fomos buscar a certificação”, conta Adalberto.
No Empório do Cerrado, o principal produto é a castanha do baru. Mas têm também ervas e temperos, molhos, farinhas, sementes e chás. No site da marca, um mapa indica pontos de venda em pelo menos 12 Estados e no Distrito Federal. Adalberto afirma que os negócios vêm crescendo e, mesmo como dificuldades enfrentadas do ano passado para cá, a expectativa é positiva. “Estamos vendo uma boa saída de mercado para os nossos negócios. Acreditamos que, neste ano, vamos nos ajeitar para, no próximo, dar uma alavancada.”
A participação em rodadas de negócios, diz ele, ajuda a conseguir novas parcerias. Mas há problemas de logística. Com cooperados em diversos estados, chegar aos produtores, muitas vezes, é difícil. Acesso a crédito para produção e capital de giro é outro gargalo, de acordo com o diretor da Coopcerrado.
Avaliação sistêmica
Carina Pimenta, diretora operacional do Instituto Conexões Sustentáveis, defende que negócios como o Empório do Cerrado, como tantos outros espalhados pelo país, devem ser olhados de forma sistêmica. “Há um campo enorme de informação que falta dar a eles para que surjam conexões e sinergias. Esperamos que seja um momento de engajamento”, avalia.
O Conexsus foi fundado em 2016, em Belém (PA). No site oficial, afirma ter a missão de “acelerar a transição para a economia de baixo carbono e contribuir para o fortalecimento da resiliência territorial, com a valorização dos ativos socioambientais, a conservação da sociobiodiversidade e a melhoria da qualidade de vida de populações vulneráveis”.
A proposta para aproximar mais quem está vendendo de quem está comprando também é o trabalho em rede. A entidade é formada por empreendedores sociais com atuação em diversas áreas. Além de perceber as dificuldades dos próprios negócios de natureza socioambiental, identificaram um vácuo de organizações para articular suas relações com os demais agentes do mercado. Daí surgiu o trabalho.
Hoje, são mais de 40 associados em Belém (PA), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) Curitiba (PR) e ramificações nos Estados Unidos e Europa. Através de parcerias com instituições públicas e privadas, visam incentivar práticas consideradas sustentáveis, viabilizar alternativas de investimentos e criar o que chamam de arranjos de negócios, sempre sob o conceito de “impacto socioambiental”.
O mapeamento dos negócios socioambientais feito em 2018 foi uma parte do projeto. Ainda em dezembro do ano passado, o Conexsus anunciou a realização de uma jornada de aceleração, iniciada no primeiro semestre deste ano, com 21 beneficiários, entre eles a Coopcerrado. O estudo da demanda é a mais nova etapa. “Queremos propor uma nova forma de negócios. Engajar as entidades à demanda real das empresas e conciliar isso com uma oferta que já existe”, explica Carina.
Para viabilizar o estudo de demanda, foi feito um pré-mapeamento com cerca de 30 empresas para identificar os principais gargalos. Muitas vezes, o volume que um comprador procura não se encaixa com a escala do fornecedor. Dificuldades logísticas, gestão e acesso a crédito são comuns, diz ela. Há ainda quem precise de assessoria especializada, por exemplo, para formatar o produto final.
Entender o que o consumidor precisa é importante para gerar negócios e, por consequência, renda. “A oferta é o grande desafio na escala e no acesso ao mercado”, diz ela. “A regularização ambiental é uma oportunidade de negócio”, acrescenta.
A coleta das informações do Negócios pela Terra estava prevista para terminar na próxima quarta-feira (14/8), mas será prorrogada até o dia 30 de agosto. A meta inicial é conhecer a demanda de pelo menos 200 empresas. Em setembro, será feito o cruzamento de dados. E de setembro a novembro, estão previstas rodadas de negócios com empresas de todo o país. A intenção, inicialmente, é ter ao menos 10 parcerias comerciais fechadas.
fonte: Revista Globo Rural
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