Alimentação 100% biológica em 2050 só é possível com alterações na dieta - estudo
quinta-feira, novembro 16, 2017
Alimentar
a população mundial com produção agrícola 100% biológica em 2050 só
seria possível com o aumento da percentagem de áreas cultivadas ou com
alterações na dieta das populações, indica um estudo divulgado hoje na
revista científica Nature.
Para
obter estas conclusões, os investigadores responsáveis pelo estudo
basearam-se em modelos que estimam uma população de mais de nove mil
milhões de pessoas em 2050 e um aumento necessário de 50% na produção
agrícola para alimentar o planeta nessa altura, refere a Nature em
comunicado.
De acordo com o
estudo, para atingir esse objetivo em 2050 sem modificar o comportamento
alimentar dos humanos, seria necessário aumentar de 13% para 33% as
áreas cultivadas e o desmatamento passar de 8% para 15%, visto que a
agricultura biológica gera menos rendimentos do que a agricultura
tradicional.
Apesar dos
impactos ambientais positivos dos alimentos biológicos, como o facto de
não utilizarem pesticidas, os investigadores consideram que essa solução
é "insustentável".
Por
esse motivo, passaram a analisar outros cenários possíveis, variando a
percentagem de agricultura biológica de parcial para total, juntamente
com a adoção de algumas mudanças no comportamento alimentar,
nomeadamente uma dieta com menos carne.
"A
conversão para a agricultura biológica poderia atender à procura
alimentar mundial, de forma sustentável, mas apenas se o desperdício de
alimentos e a produção de carne forem reduzidos", acrescenta o
comunicado da Nature, notando que os resultados podem ser diferentes
tendo em conta especificidades regionais.
Segundo
os investigadores, só seria possível obter 100% de produtos agrícolas
biológicos sem aumentar a área cultivada se houvesse uma redução de 50%
no desperdício de alimentos e a eliminação total das culturas destinadas
à alimentação animal.
O
resultado dessas medidas passariam por uma menor criação de gado
destinado à alimentação e uma diminuição de 38% para 11% no consumo de
proteína animal consumida pelos humanos.
Embora
não indiquem qual seria o melhor cenário entre os apresentados, os
investigadores sugerem que a implementação "parcial e combinada" de
ambos poderia levar a "um futuro alimentar mais sustentável".
Estes resultados, no entanto, foram recebidos com algumas dúvidas por outros investigadores.
Os
modelos utilizados no estudo, "simplistas em comparação com a vida
real", contêm "muitas hipóteses que podem ou não ser verdadeiras",
argumentou Les Firbank, investigador da Universidade de Leeds, no Reino
Unido, na área agrícola.
Considerou, contudo, que os mesmos são "realistas o suficiente para ajudar a desenvolver políticas".
Segundo
Martine Barons, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, com essas
estratégias, a alimentação do ser humano seria significativamente
diferente do que é hoje, com muito pouca carne de qualquer tipo e um
grande aumento no consumo de vegetais".
"Como lidar com essa mudança?", questionou-se, evocando alterações nas normas culturais e sociais.
Fonte: DN
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