Motivos que apontam a insensatez de Trump ao querer ocultar a ação do homem nas mudanças
sexta-feira, agosto 11, 2017
O Brasil não está na
lista dos países mais vulneráveis aos eventos extremos causados pelas
mudanças climáticas. Esta é a boa notícia... estamos mesmo merecendo
alguma... Dados mais recentes, do ano passado, encontrados no relatório anual da empresa global de análise de risco Verisk Maplecroft
mostram que 18 dos 20 países que correm grandes riscos, quer seja por
conta de seca, tormentas ou elevação dos oceanos, estão na África
Subsaariana e Ásia. No Oriente Médio, o Kuwait testemunhou o que poderia
ser a maior temperatura já registrada na Terra em julho de 2016 (54
°C), enquanto a região que compreende Israel, Palestina, Jordânia,
Líbano e Síria - está sofrendo com a pior seca em 900 anos.
Assim
mesmo, sem estar na linha de fogo, tenho certeza de que muitos
brasileiros que se sentem mais afetados pela questão das mudanças
climáticas, certamente se incomodaram com a “última de Mr. Trump”. O
presidente da nação mais rica e poderosa decidiu rever um relatório feito por cientistas antes
que fosse publicado, provavelmente para coibir informações que levem as
pessoas a perceberem a gravidade da situação que a humanidade está
enfrentando. Segundo os cientistas de 13 agências federais, há um grau
muito alto de confiança, entre eles, de que a mudança climática está
relacionada à atividade humana. Mas, pelo menos até agora (nunca se sabe
se um novo posicionamento será divulgado via redes sociais, como é de
seu estilo), Trump tem se posicionado como cético do clima.
Não
é “apenas” (por favor, atentem para as aspas) para salvar a
biodiversidade e tentar livrar os oceanos do processo galopante de
acidificação que se acredita serem importantes os relatórios como esse
que acaba de ser descoberto pelo “The New York Times”. É também para
nortear políticas públicas eficazes que possam diminuir os impactos do
aquecimento global às pessoas, sobretudo às mais vulneráveis. Segundo a
Verisk Maplecroft descobriu, depois de muitas pesquisas, há ainda um
incômodo link entre mudanças climáticas, insegurança alimentar e a
amplificação de riscos de conflitos civis em 32 países, “incluindo os
mercados emergentes de Bangladesh, Etiópia, Índia, Nigéria e Filipinas”.
São dados publicados na sétima edição do Atlas de Riscos Ambientais e
Mudanças Climáticas (CCERA) lançado pela Maplecroft.
O
Atlas fornece dados de risco comparáveis para 198 países em 26 questões
distintas, incluindo vulnerabilidade às mudanças climáticas e segurança
alimentar. Assim também as emissões, os serviços ecossistêmicos,
desastres naturais e regulação refletem as descobertas dos cientistas
que identificaram as mudanças do clima como um "multiplicador de
ameaças, o que aumenta o risco de conflitos e agitações”.
O
relatório avalia a sensibilidade das populações, a exposição física dos
países e a capacidade governamental de se adaptar às mudanças
climáticas nos próximos 30 anos. Bangladesh é o que está em situação de
maior risco, seguido por Serra Leoa, Sudão do Sul, Nigéria, Chade,
Haiti, Etiópia, Filipinas, República Centro-Africana e Eritreia.
Camboja, Índia, Miamar, Paquistãoe Moçambique também apresentam a
categoria "risco extremo".
Uma
característica que une essas economias, identificada pelo Atlas, é que
todas dependem fortemente da agricultura, com 65% de sua população
economicamente ativa empregada no setor. E 28% de sua produção econômica
global dependem das receitas agrícolas.
Segundo
a Maplecroft, a mudança dos padrões climáticos já está impactando a
produção de alimentos, aumentando a pobreza, migração e estabilidade
social -- fatores que aumentam significativamente o risco de conflitos e
de instabilidade em estados frágeis e emergentes.
Não
é outra a conclusão dos cientistas do Intergovernmental Panel on
Climate Change (IPCC), da ONU. Segundo eles, nos próximos 30 anos os
produtores rurais vão perceber declínio em campos de trigo, arroz e
milho, o que vai causar insegurança alimentar em regiões que,
justamente, precisam mais desses alimentos. É só fazer os links e
perceber que este cenário é particularmente significativo para os 32
países mais vulneráveis apontados pela Verisk Maplecroft, onde já são
altos os níveis de pobreza, de migração, onde a violência, o conflito já
existem, e onde a segurança alimentar já está comprometida também por
causa dos eventos climáticos extremos.
Tudo
isso, que já está ruim, ainda pode piorar, segundo os estudiosos que se
debruçaram em dados para elaborar esse relatório. São dados
importantes, recorrentemente desprezados por governantes que não dão
nenhuma, ou quase nenhuma, atenção às mudanças climáticas.
Diante
do descaso recorrente, a sociedade civil tenta fazer seu papel, que é
denunciar, exigir direitos. Aqui no Brasil, onde o governo Temer tem dado sinais inequívocos de desmonte
da legislação que tenta proteger a natureza contra impactos mais sérios
da industrialização, já há uma convocação, pelas redes sociais, através
do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social do Rio de Janeiro para
a Marcha Popular pelo Clima que vai se realizar em novembro na cidade.
“Queremos
o respeito por todos os seres humanos e por todas as demais formas de
vida de nosso planeta, nos levantamos contra as atividades econômicas
que, em nome de uma suposta ideia de desenvolvimento, estão
irresponsavelmente destruindo nossa "casa comum", expropriando a
população das periferias das cidades, indígenas, quilombolas,
camponeses, caiçaras e demais povos tradicionais de suas terras, de modo
cada vez mais acelerado, violento e irreversível. A marcha tem como um
dos seus principais objetivos, incluir a questão das mudanças climáticas
globais e suas implicações locais como pautas absolutamente
prioritárias na agenda pública, bem como a busca por justiça social e
ambiental”, diz o texto convocatório.
Fonte: G1
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