Na era negacionista de Trump, cenário de deslocados por clima vira realidade
quarta-feira, junho 28, 2017
A tempestade tropical "Cindy" voltou a lembrar recentemente aos moradores do delta do Mississipi que eles podem se tornar os primeiros deslocados por causa do clima em um país onde vozes eminentes negam a existência do aquecimento global.
Grand Isle, no estado da Louisiana, última faixa de terra do delta do
Mississipi, foi abalada na semana passada por uma das primeiras grandes
tempestades da temporada de furacões, e no condado de Terrebonne, bombas
e diques tiveram que ser usadas a todo vapor para drenar terrenos
inundados.
David Carmadelle, prefeita de Grand Isle, alertou que as ondas
provocadas por "Cindy" roubaram 10 metros de uma ilha de pouco mais de
um quilômetro de largura, e essa perda de terra se soma aos 50 metros
ganhos pelo mar nas últimas tempestades que atingiram a cidade.
A contagem regressiva que muitas áreas costeiras dos Estados Unidos
experimentam já chegou a zero em outros casos, como o de Shishmaref, no
Alasca, ou o de Isle de Jean Charles, um povoado do Bayou da Louisiana
que desde os anos 60 viu 98% de seu território submergir.
No último verão, os moradores de Shishmaref, uma cidade do Alasca de
pouco mais de 500 habitantes em frente ao estreito de Bering, votaram a
favor de deixar a ilha que ocuparam há mais de 400 anos e cuja economia
gira em torno da pesca.
O ártico se aquece em uma velocidade muito maior que a do resto do
planeta, e o gelo, do qual dependem para pescar e caçar, cada vez dura
menos tempo, abrindo caminho para uma maior erosão do mar.
No sul, Isle de Jean Charles foi uma das primeiras regiões do país a
receber dinheiro de uma iniciativa federal para ajudar comunidades
afetadas pelo aquecimento global a ficar em áreas seguras.
Os US$ 52 milhões repassados durante o governo de Barack Obama em 2016
servirão para criar uma espécie de urbanização na qual os moradores de
um local prestes a desaparecer possam manter sua proximidade, raízes e
identidade.
As dezenas de famílias que começaram a fazer planos para deixar seus
lares devido ao aumento do nível do mar formam o primeiro grupo de
deslocados pelo clima, e este número pode se multiplicar nos próximos
anos nos Estados Unidos e no resto do planeta.
A cidade de Nova York solicitou os mesmos fundos que permitiram aos
moradores de Isle de Jean Charles se mudarem diante de um inevitável
futuro em que o nível das águas ameaçará uma das cidades mais povoadas
do mundo.
A mudança climática, que cada vez afeta um maior número de americanos,
pode ser um dos maiores desafios do presidente Donald Trump, que, apesar
disso, chegou a negar a existência do aquecimento global.
"Não há pessoa ou cientista renomado que duvide que estamos criando um
problema por causa da mudança climática", afirmou recentemente à
emissora "CNN" o ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que
ressaltou que a postura de Trump em função do aquecimento global é
"vergonhosa".
Trump decidiu neste mês tirar os Estados Unidos - segundo maior emissor
de gases do efeito estufa do mundo após a China - do histórico Acordo
do Clima de Paris, algo que eleva as preocupações das comunidades mais
expostas ao impacto do aquecimento global.
No dia em que Trump anunciou sua decisão de deixar um acordo do qual
participam quase todas as nações do planeta, o governador do Alasca,
Bill Walker, lamentou a decisão citando, inclusive, que em seu estado
"há comunidades que estão sendo literalmente tragadas pelas águas".
Fonte: Terra
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