A falta de incorporação de conhecimento técnico-científico nas explorações agrícolas e o domínio da distribuição no mercado dos bens alimentares são as duas principais limitações ao desenvolvimento da agricultura sustentável na região. O problema não está, pois, só na produção. Esta é a opinião do engenheiro agrónomo Ricardo Vicente, que foi partilhada num debate promovido pelo BE, dia 22 de Abril, onde este abordou o tema “Agricultura sustentável e mercados alternativos”.
Antes mesmo de identificar as principais
limitações à prática de uma agricultura sustentável, Ricardo Vicente,
que durante seis anos trabalhou com agricultores da região, quis fazer
com o público um “tratamento de choque inicial”, pondo-o a par do cenário actual do sector agrícola em Portugal e no mundo.
Enquanto nos anos 60 e 70 havia regiões do país em que mais de metade da população vivia da agricultura, hoje não há nenhuma em que mais de 10% trabalhe neste sector. “Houve uma grande perda da importância da agricultura como ramo empregador e a tendência é decrescente. Actualmente quem espera que a agricultura consiga voltar a gerar os mesmos níveis de emprego está completamente enganado”, frisou o engenheiro agrónomo.
Outra realidade está relacionada com a diferença da produtividade do trabalho que existe no sector agrícola. Por exemplo, a relação da produtividade do trabalho entre a agricultura manual e menos produtiva do mundo e a agricultura mecanizada e monitorizada mais produtiva é de 1:2000. Isto significa que um agricultor bem equipado, com explorações bem dimensionadas e localizadas nas melhores terras produz, por ano, mais duas mil toneladas que um agricultor nas piores condições de trabalho. “É sobre este cenário que depois existe um mercado de alimentos global, liberalizado e com pouca regulamentação, o que deixa muitos agricultores desprotegidos”, realçou o especialista.
Enquanto nos anos 60 e 70 havia regiões do país em que mais de metade da população vivia da agricultura, hoje não há nenhuma em que mais de 10% trabalhe neste sector. “Houve uma grande perda da importância da agricultura como ramo empregador e a tendência é decrescente. Actualmente quem espera que a agricultura consiga voltar a gerar os mesmos níveis de emprego está completamente enganado”, frisou o engenheiro agrónomo.
Outra realidade está relacionada com a diferença da produtividade do trabalho que existe no sector agrícola. Por exemplo, a relação da produtividade do trabalho entre a agricultura manual e menos produtiva do mundo e a agricultura mecanizada e monitorizada mais produtiva é de 1:2000. Isto significa que um agricultor bem equipado, com explorações bem dimensionadas e localizadas nas melhores terras produz, por ano, mais duas mil toneladas que um agricultor nas piores condições de trabalho. “É sobre este cenário que depois existe um mercado de alimentos global, liberalizado e com pouca regulamentação, o que deixa muitos agricultores desprotegidos”, realçou o especialista.
Os principais problemas
Independentemente de uma exploração agrícola ser pequena ou de grande dimensão, biológica ou industrial, há actualmente um “enorme défice de conhecimento técnico-científico nas práticas agrícolas”,
explicou Ricardo Vicente, acrescentando que é necessário existir um
equilíbrio entre este factor, as tecnologias de produção e as
tecnologias pós-colheita para maximizar os investimentos dos
agricultores.
O engenheiro agrónomo deu o exemplo dos produtores de tomate para consumo em fresco, que chegam a investir mais de 200 mil euros por hectare em tecnologia de produção (e já existem em Portugal muitas explorações com dimensões entre cinco a 10 hectares), mas que depois pecam pelo acompanhamento técnico. “Temos sistemas de rega com potencial para controlar ao minuto todos os débitos de adubo e água, mas os produtores têm falta de técnicos para acompanhar e rentabilizar o uso destes equipamentos”, disse Ricardo Vicente. O resultado é muitas vezes aplicar a mesma solução nutritiva a culturas que se encontram em fases de desenvolvimento diferentes.
As abóboras também servem de exemplo: “actualmente há um investimento grande em tecnologias de produção, mas um enorme défice no que respeita às tecnologias pós-colheita, principalmente ao nível do armazenamento, o que provoca perdas anuais de 30 a 60% da produção”.
O outro principal entrave ao desenvolvimento da agricultura sustentável na região é a cartelização do mercado dos bens alimentares, ou seja, o predomínio do tecido distribuidor. Em Portugal a grande distribuição ocupa 75% deste mercado e quase metade pertence às cadeias Pingo Doce e Continente. Nesta teia de aranha, o agricultor sai prejudicado pois vê reduzidas as suas margens de lucro, uma vez que a distribuição tem maior capacidade para tabelar os preços dos produtos.
“O produto agrícola assume o seu menor valor no momento da produção e o maior quando é vendido ao consumidor. Até aqui tudo bem. O que não é normal é que os acréscimos de valor sejam maiores à medida que se avança na distribuição e não no momento em que o produto é criado”, explicou Ricardo Vicente.
Para ilustrar esta realidade, o agrónomo valeu-se de dados relativos ao preço de alguns hortícolas no dia 9 de Junho de 2015 em A dos Cunhados (Torres Vedras). Todos os produtores venderam o seu tomate a menos de 60 cêntimos o quilo, mas no mesmo dia o Continente vendia-o ao consumidor por 1,79 euros. Já a couve-lombarda foi comprada aos agricultores por oito cêntimos o quilo, mas vendida nesta cadeia de hipermercados por 79 cêntimos.
“Estas margens são abusivas e fazem com que os agricultores não tenham depois condições de investir em conhecimento técnico-científico ou não tenham a qualidade de vida que merecem”, alertou Ricardo Vicente, acrescentando que as grandes superfícies contribuíram muito mais para eliminar emprego do que o inverso. Isto porque acabaram com muitos mercados locais e pequenas produções agrícolas.
Esta política tem ainda consequências para a qualidade dos alimentos que o consumidor encontra nas prateleiras dos supermercados, pois muitos agricultores optam por exportar os seus melhores produtos (uma vez que conseguem praticar preços mais apetecíveis), deixando para as cadeias portuguesas os de menor qualidade.
Há depois um conjunto de impactos ambientais que também são reflexo desta lógica de mercado e da falta de investimento em conhecimento técnico-científico. “Promovem-se as agriculturas intensivas com base na monocultura, havendo maior risco de pragas e doenças, o que leva ao maior uso de adubos e pesticidas. Isto provoca a contaminação dos lençóis freáticos e dos solos, perda de biodiversidade e aumento dos consumos energéticos”, salientou Ricardo Vicente.
O engenheiro agrónomo deu o exemplo dos produtores de tomate para consumo em fresco, que chegam a investir mais de 200 mil euros por hectare em tecnologia de produção (e já existem em Portugal muitas explorações com dimensões entre cinco a 10 hectares), mas que depois pecam pelo acompanhamento técnico. “Temos sistemas de rega com potencial para controlar ao minuto todos os débitos de adubo e água, mas os produtores têm falta de técnicos para acompanhar e rentabilizar o uso destes equipamentos”, disse Ricardo Vicente. O resultado é muitas vezes aplicar a mesma solução nutritiva a culturas que se encontram em fases de desenvolvimento diferentes.
As abóboras também servem de exemplo: “actualmente há um investimento grande em tecnologias de produção, mas um enorme défice no que respeita às tecnologias pós-colheita, principalmente ao nível do armazenamento, o que provoca perdas anuais de 30 a 60% da produção”.
O outro principal entrave ao desenvolvimento da agricultura sustentável na região é a cartelização do mercado dos bens alimentares, ou seja, o predomínio do tecido distribuidor. Em Portugal a grande distribuição ocupa 75% deste mercado e quase metade pertence às cadeias Pingo Doce e Continente. Nesta teia de aranha, o agricultor sai prejudicado pois vê reduzidas as suas margens de lucro, uma vez que a distribuição tem maior capacidade para tabelar os preços dos produtos.
“O produto agrícola assume o seu menor valor no momento da produção e o maior quando é vendido ao consumidor. Até aqui tudo bem. O que não é normal é que os acréscimos de valor sejam maiores à medida que se avança na distribuição e não no momento em que o produto é criado”, explicou Ricardo Vicente.
Para ilustrar esta realidade, o agrónomo valeu-se de dados relativos ao preço de alguns hortícolas no dia 9 de Junho de 2015 em A dos Cunhados (Torres Vedras). Todos os produtores venderam o seu tomate a menos de 60 cêntimos o quilo, mas no mesmo dia o Continente vendia-o ao consumidor por 1,79 euros. Já a couve-lombarda foi comprada aos agricultores por oito cêntimos o quilo, mas vendida nesta cadeia de hipermercados por 79 cêntimos.
“Estas margens são abusivas e fazem com que os agricultores não tenham depois condições de investir em conhecimento técnico-científico ou não tenham a qualidade de vida que merecem”, alertou Ricardo Vicente, acrescentando que as grandes superfícies contribuíram muito mais para eliminar emprego do que o inverso. Isto porque acabaram com muitos mercados locais e pequenas produções agrícolas.
Esta política tem ainda consequências para a qualidade dos alimentos que o consumidor encontra nas prateleiras dos supermercados, pois muitos agricultores optam por exportar os seus melhores produtos (uma vez que conseguem praticar preços mais apetecíveis), deixando para as cadeias portuguesas os de menor qualidade.
Há depois um conjunto de impactos ambientais que também são reflexo desta lógica de mercado e da falta de investimento em conhecimento técnico-científico. “Promovem-se as agriculturas intensivas com base na monocultura, havendo maior risco de pragas e doenças, o que leva ao maior uso de adubos e pesticidas. Isto provoca a contaminação dos lençóis freáticos e dos solos, perda de biodiversidade e aumento dos consumos energéticos”, salientou Ricardo Vicente.
Possíveis soluções
Identificados os problemas, quais as
soluções? Ricardo Vicente sugeriu um conjunto de medidas que podem desde
logo ser incentivadas pelas autarquias. Como a promoção dos mercados de
proximidade, que permitem não só ao produtor ter mais poder negocial no
que respeita aos preços como reduzir o consumo energético (o ciclo
distributivo fica mais reduzido), a criação de gabinetes de apoio
gratuito à agricultura familiar sustentável em articulação com centros
de investigação ou a aposta nas hortas urbanas. O agrónomo sugeriu ainda
que se façam mais campanhas de sensibilização que apelem ao consumo
local ou que se crie uma rede de mercearias nas cidades com marcas de
abastecimento local.
Fonte: Gazeta Caldas
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