RENTÁVEL NA AGRICULTURA FAMILIAR, ALGODÃO CHAMA ATENÇÃO PELA PROPOSTA SUSTENTÁVEL
sexta-feira, abril 07, 2017
Um tecido produzido a partir da matéria prima orgânica que garante economia de água, energia e preservação do meio ambiente durante sua confecção, são estes alguns dos benefícios das roupas feitas com algodão colorido.
Tantas vantagens têm chamado a atenção de pequenos produtores familiares de Mato Grosso do Sul, uma vez que o cultivo da planta é melhor em pequenas áreas ao invés da larga escala.
Na Capital, algumas peças de roupas podem ser conferidas na 79ª edição da Expogrande. Dentro do pavilhão do Governo do Estado, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) está com um espaço para divulgação e comercialização de produtos oriundos de assentamentos e sítios tradicionais.
Com um comércio sustentável, o agricultor Vitor Carlos Neves afirma que o lucro para o pequeno produtor é interessante, o que tem atraído homens e mulheres do campo de outras duas cidades do Estado, Corumbá e São Gabriel do Oeste. “O algodão colorido é vantajoso para o agricultor familiar, porque ele vale 100% a mais do que o convencional. Hoje, a pluma do algodão branco sai por R$ 4,60 o quilo, enquanto o algodão colorido é negociado a R$ 10,00”.
A diferença de preço está justamente pelo tipo de cultivo. “O algodão colorido tem essa característica de ser adaptar melhor ao cultivo em pequenas áreas. Daí, a necessidade do trabalho com pequenos produtores interessados em aprender as técnicas de cultivo. No assentamento Itamaraty, contamos com 15 produtores e outros 15 moram em Corumbá e São Gabriel do Oeste”, explica.
Todo produtor iniciante é instruído a começar com meio hectare para só depois aumentar a área para até dois hectares. E tudo o que é colhido tem destino certo, garante Vitor. “O algodão branco você nunca sabe para quem vai vender, porque compete com os grandes cotonicultores. No algodão colorido a principal garantia é a comercialização. Tudo é vendido para a cooperativa Justa Trama”.
Em todo o País, a Justa Trama conta com cerca de 700 associados, em sete estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Ceará e Rondônia. “Os botões são feitos de sementes de Rondônia. A ideia é não usar os tradicionais botões industrializados”, detalha o agricultor.
Negócio sustentável
E o objetivo é expandir essa rede de cotonicultores orgânicos pelo Estado, garante Vitor. “Estou fechando a elaboração do projeto que já conta com a parceria do IBA [Instituto Brasileiro de Algodão]. Nosso objetivo é chegar a 90 produtores pelo Estado envolvidos com isso”, revela o agricultor que afirma ter estratégias firmadas. “Vamos contratar um técnico especializado em algodão colorido para instruir os agricultores familiares”.
O projeto conta com o apoio de instituições de renome: a Embrapa Agropecuária Oeste, município de Dourados, e a Embrapa Algodão da Paraíba. Essa última responsável pelo trabalho de melhoramento genético, iniciado nos anos 2000, para garantir resistência e maior comprimento das fibras do algodão. “Estamos conversando com a Agraer e a Semagro [Secretaria de Estado Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar] para que haja uma parceria junto ao
Governo do Estado”.
Atualmente, o algodão colorido é desenvolvido em cinco cores: marrom claro e escuro, vermelho claro e escuro e verde. A principal vantagem diante o algodão branco está no impacto ambiental, uma vez que suas fibras já nascem naturalmente coloridas. Desta forma, uma peça de roupa feita com o produto utiliza em média, apenas 10% da água gasta em uma confecção tradicional. “É um produto que não faz uso de agrotóxico. No Itamaraty, a gente faz consórcio com outras plantas como o maracujá orgânico e até com o leite [rebanho bovino]. O caroço do algodão pode servir na ração dos animais. Sem contar que a coleta do algodão é toda manual, então, não há desperdícios”, destaca Vitor.
No mundo da moda, o algodão colorido vem ganhando, inclusive, as passarelas. Em maio do ano passado, o estilista brasileiro João Pimenta foi destaque por utilizar o algodão colorido, da Paraíba, na 41ª edição do São Paulo Fashion Week. Já no mercado europeu, a matéria prima brasileira tem sido exportada para França, Japão, Estados Unidos e Alemanha.
Contudo, o agricultor familiar ressalta que o Brasil ainda dá os primeiros passos neste segmento. “No Centro-Oeste, nós somos os pioneiros no cultivo de algodão colorido e o segundo, no Brasil, ficando atrás apenas da Paraíba. Mas precisamos de mais produtores. O hospital de Porto Alegre quis substituir os lençóis convencionais pelos de algodão colorido. Mas, nem se a gente usasse as plumas de todos os produtores, iriamos dar conta do pedido. Há um mercado consumidor e queremos atendê-lo”.
Embora seja novidade no mercado, na natureza o algodão colorido é uma personagem tão antiga quanto o algodão branco. Segundo estudos da Embrapa, espécies nativas foram encontradas em escavações no Peru e Paquistão. Acredita-se que o algodão colorido seja utilizado na confecção de roupas há mais de quatro mil anos.
Mas, então fica aquele questionamento: Por que muitas pessoas ficam surpresas quando conhecem roupas de algodão colorido? A resposta é simples: o algodão colorido perdeu espaço, no século XIX, para o tradicional, algodão branco, devido as suas fibras que eram consideradas fracas para as máquinas. Isso porque este período foi marcado pelo “boom” da revolução industrial, fase em que foi maciça a troca da mão-de-obra de artesão pelos maquinários.
História de fibra
A Justa Trama foi criada a partir da Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), formada na periferia de Porto Alegre, em 1995. De lá para cá o grupo cresceu e possui uma rede.
O algodão é plantado no Ceará e no Mato Grosso do Sul, a fiação e o tecido vem de Minas. De Rondônia chegam os botões e acessórios, feitos com sementes e a confecção é criada no Rio Grande do Sul. Além da colaboração de cooperativas do Paraguai e Uruguai. “Nós já estamos com uma parceria para instruir agricultores paraguaios que se interessaram em entrar no cultivo”, conta o cotonicultor.
E do algodão colorido nada é desperdiçado. Dos retalhos são produzidos brinquedos pedagógicos feitos de sobras de tecido.
Fonte: A Crítica
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Tantas vantagens têm chamado a atenção de pequenos produtores familiares de Mato Grosso do Sul, uma vez que o cultivo da planta é melhor em pequenas áreas ao invés da larga escala.
Na Capital, algumas peças de roupas podem ser conferidas na 79ª edição da Expogrande. Dentro do pavilhão do Governo do Estado, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) está com um espaço para divulgação e comercialização de produtos oriundos de assentamentos e sítios tradicionais.
Com um comércio sustentável, o agricultor Vitor Carlos Neves afirma que o lucro para o pequeno produtor é interessante, o que tem atraído homens e mulheres do campo de outras duas cidades do Estado, Corumbá e São Gabriel do Oeste. “O algodão colorido é vantajoso para o agricultor familiar, porque ele vale 100% a mais do que o convencional. Hoje, a pluma do algodão branco sai por R$ 4,60 o quilo, enquanto o algodão colorido é negociado a R$ 10,00”.
A diferença de preço está justamente pelo tipo de cultivo. “O algodão colorido tem essa característica de ser adaptar melhor ao cultivo em pequenas áreas. Daí, a necessidade do trabalho com pequenos produtores interessados em aprender as técnicas de cultivo. No assentamento Itamaraty, contamos com 15 produtores e outros 15 moram em Corumbá e São Gabriel do Oeste”, explica.
Todo produtor iniciante é instruído a começar com meio hectare para só depois aumentar a área para até dois hectares. E tudo o que é colhido tem destino certo, garante Vitor. “O algodão branco você nunca sabe para quem vai vender, porque compete com os grandes cotonicultores. No algodão colorido a principal garantia é a comercialização. Tudo é vendido para a cooperativa Justa Trama”.
Em todo o País, a Justa Trama conta com cerca de 700 associados, em sete estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Ceará e Rondônia. “Os botões são feitos de sementes de Rondônia. A ideia é não usar os tradicionais botões industrializados”, detalha o agricultor.
Negócio sustentável
E o objetivo é expandir essa rede de cotonicultores orgânicos pelo Estado, garante Vitor. “Estou fechando a elaboração do projeto que já conta com a parceria do IBA [Instituto Brasileiro de Algodão]. Nosso objetivo é chegar a 90 produtores pelo Estado envolvidos com isso”, revela o agricultor que afirma ter estratégias firmadas. “Vamos contratar um técnico especializado em algodão colorido para instruir os agricultores familiares”.
O projeto conta com o apoio de instituições de renome: a Embrapa Agropecuária Oeste, município de Dourados, e a Embrapa Algodão da Paraíba. Essa última responsável pelo trabalho de melhoramento genético, iniciado nos anos 2000, para garantir resistência e maior comprimento das fibras do algodão. “Estamos conversando com a Agraer e a Semagro [Secretaria de Estado Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar] para que haja uma parceria junto ao
Governo do Estado”.
Atualmente, o algodão colorido é desenvolvido em cinco cores: marrom claro e escuro, vermelho claro e escuro e verde. A principal vantagem diante o algodão branco está no impacto ambiental, uma vez que suas fibras já nascem naturalmente coloridas. Desta forma, uma peça de roupa feita com o produto utiliza em média, apenas 10% da água gasta em uma confecção tradicional. “É um produto que não faz uso de agrotóxico. No Itamaraty, a gente faz consórcio com outras plantas como o maracujá orgânico e até com o leite [rebanho bovino]. O caroço do algodão pode servir na ração dos animais. Sem contar que a coleta do algodão é toda manual, então, não há desperdícios”, destaca Vitor.
No mundo da moda, o algodão colorido vem ganhando, inclusive, as passarelas. Em maio do ano passado, o estilista brasileiro João Pimenta foi destaque por utilizar o algodão colorido, da Paraíba, na 41ª edição do São Paulo Fashion Week. Já no mercado europeu, a matéria prima brasileira tem sido exportada para França, Japão, Estados Unidos e Alemanha.
Contudo, o agricultor familiar ressalta que o Brasil ainda dá os primeiros passos neste segmento. “No Centro-Oeste, nós somos os pioneiros no cultivo de algodão colorido e o segundo, no Brasil, ficando atrás apenas da Paraíba. Mas precisamos de mais produtores. O hospital de Porto Alegre quis substituir os lençóis convencionais pelos de algodão colorido. Mas, nem se a gente usasse as plumas de todos os produtores, iriamos dar conta do pedido. Há um mercado consumidor e queremos atendê-lo”.
Embora seja novidade no mercado, na natureza o algodão colorido é uma personagem tão antiga quanto o algodão branco. Segundo estudos da Embrapa, espécies nativas foram encontradas em escavações no Peru e Paquistão. Acredita-se que o algodão colorido seja utilizado na confecção de roupas há mais de quatro mil anos.
Mas, então fica aquele questionamento: Por que muitas pessoas ficam surpresas quando conhecem roupas de algodão colorido? A resposta é simples: o algodão colorido perdeu espaço, no século XIX, para o tradicional, algodão branco, devido as suas fibras que eram consideradas fracas para as máquinas. Isso porque este período foi marcado pelo “boom” da revolução industrial, fase em que foi maciça a troca da mão-de-obra de artesão pelos maquinários.
História de fibra
A Justa Trama foi criada a partir da Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), formada na periferia de Porto Alegre, em 1995. De lá para cá o grupo cresceu e possui uma rede.
O algodão é plantado no Ceará e no Mato Grosso do Sul, a fiação e o tecido vem de Minas. De Rondônia chegam os botões e acessórios, feitos com sementes e a confecção é criada no Rio Grande do Sul. Além da colaboração de cooperativas do Paraguai e Uruguai. “Nós já estamos com uma parceria para instruir agricultores paraguaios que se interessaram em entrar no cultivo”, conta o cotonicultor.
E do algodão colorido nada é desperdiçado. Dos retalhos são produzidos brinquedos pedagógicos feitos de sobras de tecido.
Fonte: A Crítica
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