Sistemas de integração podem contribuir para aumento de renda e diminuição da degradação do solo
quarta-feira, março 08, 2017
Para fazer melhor aproveitamento da mesma área com associação de diferentes culturas, um novo conceito que tem sido difundido no Brasil é o sistema de integração que envolve a produção de grãos, fibras, madeiras, energia, leite ou carne no mesmo espaço, em plantios de rotação, consorciação e/ou sucessão. Esse sistema funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais, como arroz, feijão, milho, soja ou sorgo e de árvores, associados a espécies forrageiras.
São várias as combinações entre os componentes agrícolas, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponíveis, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (iLPF), lavoura-pecuária (iLP), silvipastoril (SSP), ou agroflorestais (SAF). Toda essa solução tecnológica foi desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com outras instituições.
Mas afinal, o que vem a ser a ILPF? De acordo com o doutor em agronomia e pesquisador da Embrapa, Abílio Rodrigues Pacheco, a ILPF é a prática de introduzir o componente “madeira” na propriedade. “Se a sua propriedade vinha produzindo alguma coisa, você pode colocar ela para produzir mais madeira do que já produzia sem nenhum prejuízo”, diz Abílio.
Para o pesquisador, quando o produtor implanta a ILPF na propriedade pode perceber uma melhoria na rentabilidade da atividade agrícola através da entrada de recursos com a venda da madeira, que até então não existia. Além disso, outro ponto muito importante e que não pode ser desconsiderado é uma melhor mudança do ambiente produtivo.
Mas para o produtor que deseja implantar a ILPF existem alguns desafios. “Uma das coisas mais importantes que o produtor precisa considerar antes de fazer a implantação é a questão do mercado. É necessário saber se tem comprador para o seu produto. Fora isso, é enfrentar uma escala pequena e ir aprendendo de pouco a pouco para depois ir crescendo. Não se deve começar em larga escala se não tiver experiência porque a chance de fracassar é grande”, alertou o pesquisador.
Sobre a implantação da ILPF em qualquer cultura, o pesquisador pontua que basicamente quando coloca a muda no campo tem que se preocupar que essa outra cultura não venha sombrear a muda do eucalipto, considerando que a muda do eucalipto precisa de muita luz e essa outra cultura pode não concorrer com a sombra. “Temos uma experiência muito boa, mas é com a soja, que é uma cultura de porte baixo no primeiro ano e no segundo ano na outra safra, o milho, que não corre o risco de provocar sombra nas mudas do eucalipto, que é uma planta lucífera e que necessita de muita luz para crescer”, finalizou Abílio Rodrigues Pacheco, da Embrapa.
Manejo de pastagem em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Sobre o manejo de pastagem em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, o consultor e professor da Fazenda Ecológica, Jurandir Melado, diz que com a integração, contrariando antigas crenças, o que ocorre é uma cooperação ou sinergia entre as espécies, além da possibilidade de se obter vários produtos em uma mesma área ao trabalhar com diversos “andares” produtivos em vez de apenas um. Sendo assim, a palavra de ordem passou a ser “integração”.
Para Melado, quando um sistema silvipastoril é usado no lugar da monocultura de capim ou de árvores, diversas coisas positivas começam a ocorrer: o gado se beneficia da sombra das árvores, melhorando o equilíbrio e o conforto térmico que em algumas pesquisas, resultou em até 20% de aumento na produção. As árvores funcionam como verdadeiras “bombas de adubação”, retirando nutrientes de camadas profundas do solo e depositando-os na superfície através das folhas, galhos e troncos, beneficiando o solo e as outras plantas do sistema. “As árvores também se beneficiam, assim como o capim, da fertilização através dos dejetos do gado”, enfatiza o professor.
No sistema Silvipastoril, para que se tenha alta produtividade no fator “pecuária”, é indispensável que se use uma rotação racional das pastagens, que tem como ideal o Sistema de Pastoreio Voisin. O planejamento e construção dos piquetes para o manejo Voisin é então a primeira providência para um “Sistema Voisin Silvipastoril”. Depois, vem o plantio das árvores, que podem obedecer a diversos modelos, como o plantio em faixas paralelas ou no contorno interno dos piquetes, geralmente em três linhas de árvores. Para que os piquetes de pastagem possam ser utilizados pelo gado enquanto as mudas das árvores se desenvolvem, é necessário que as plantas sejam protegidas da ação do gado, com cercas elétricas temporárias.
Um prático sistema de piquetes móveis consta da utilização de sete lances de cercas elétricas móveis, formando dois piquetes. Quando o segundo piquete estiver em utilização, as três cercas móveis exclusivas do primeiro piquete são movimentadas formando um novo piquete contíguo ao segundo. Os bebedouros e cochos de sal acompanham os piquetes móveis pela área de cultura/pastoreio.
Espécies florestais e distribuição espacial para a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Em relação às espécies florestais e a distribuição espacial para a integração lavoura-pecuária-floresta, o pesquisador e gestor do Núcleo Temático de Produção Vegetal e Pastagens da Embrapa Gado de Leite, Marcelo Dia Müller, acredita que a escolha da espécie florestal, assim como a distribuição e densidade de árvores no sistema, irá depender, primeiramente, de um diagnóstico da propriedade. “É necessário se conhecer os aspectos da condição edafoclimática da área, a hidrologia, o nível tecnológico e o sistema de produção adotados na propriedade, assim como o objetivo de uso do recurso florestal, dentre outros”, pontua Muller.
Para o pesquisador, o componente florestal pode ter duas principais vertentes: uma diz respeito ao uso madeireiro, com o objetivo de obtenção de produtos madeireiros (madeira nobre para serraria, madeira para lenha/carvão, fabricação de mourões, postes, construções rurais, etc) e a outra se refere ao uso como recurso forrageiro, onde o componente florestal é utilizado como parte da dieta animal”.
Muller destaca ainda que grande parte dos sistemas tem adotado como prioridade o uso do componente florestal como recurso madeireiro, visando à diversificação da renda. “A escolha da espécie florestal deve considerar aspectos tais como a adaptação ecológica à região, velocidade de crescimento, arquitetura da copa, características de fuste desejáveis para a produção madeireira e, principalmente, nível de conhecimento técnico a respeito da espécie. A velocidade de crescimento irá ditar a época em que será possível utilizar a área para o pastejo. Assim, quanto mais rápido o crescimento, mais cedo será possível o uso da área de pastagem para a produção animal, minimizando os custos com relação à arquitetura de copa”, enfatiza.
Já em relação à forma de disposição das árvores no sistema de arranjo de plantio, é importante considerar alguns fatores, como a declividade do terreno, o sistema de manejo florestal a ser adotado, o tipo de produto florestal esperado, o sistema de colheita adotado e o uso de plantio mecanizado a lavoura-pasto nas entrelinhas das árvores. “A declividade do terreno irá determinar a necessidade ou não de plantio em nível. Áreas mais acidentadas requerem a adoção de práticas de conservação, dentre elas o plantio em nível. Nas áreas mecanizáveis deve-se levar em conta as dimensões das máquinas que irão ser empregadas no plantio da lavoura-pasto nas entrelinhas das árvores, a fim de se otimizar o plantio. Os espaçamentos mais adequados são aqueles que proporcionam densidades de plantio variando de 200 a 450 árvores por hectare”, alertou Müller.
Fonte: Reportagem publicada na revista Campo Vivo – Edição 32
São várias as combinações entre os componentes agrícolas, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponíveis, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (iLPF), lavoura-pecuária (iLP), silvipastoril (SSP), ou agroflorestais (SAF). Toda essa solução tecnológica foi desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com outras instituições.
Mas afinal, o que vem a ser a ILPF? De acordo com o doutor em agronomia e pesquisador da Embrapa, Abílio Rodrigues Pacheco, a ILPF é a prática de introduzir o componente “madeira” na propriedade. “Se a sua propriedade vinha produzindo alguma coisa, você pode colocar ela para produzir mais madeira do que já produzia sem nenhum prejuízo”, diz Abílio.
Para o pesquisador, quando o produtor implanta a ILPF na propriedade pode perceber uma melhoria na rentabilidade da atividade agrícola através da entrada de recursos com a venda da madeira, que até então não existia. Além disso, outro ponto muito importante e que não pode ser desconsiderado é uma melhor mudança do ambiente produtivo.
Mas para o produtor que deseja implantar a ILPF existem alguns desafios. “Uma das coisas mais importantes que o produtor precisa considerar antes de fazer a implantação é a questão do mercado. É necessário saber se tem comprador para o seu produto. Fora isso, é enfrentar uma escala pequena e ir aprendendo de pouco a pouco para depois ir crescendo. Não se deve começar em larga escala se não tiver experiência porque a chance de fracassar é grande”, alertou o pesquisador.
Sobre a implantação da ILPF em qualquer cultura, o pesquisador pontua que basicamente quando coloca a muda no campo tem que se preocupar que essa outra cultura não venha sombrear a muda do eucalipto, considerando que a muda do eucalipto precisa de muita luz e essa outra cultura pode não concorrer com a sombra. “Temos uma experiência muito boa, mas é com a soja, que é uma cultura de porte baixo no primeiro ano e no segundo ano na outra safra, o milho, que não corre o risco de provocar sombra nas mudas do eucalipto, que é uma planta lucífera e que necessita de muita luz para crescer”, finalizou Abílio Rodrigues Pacheco, da Embrapa.
Manejo de pastagem em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Sobre o manejo de pastagem em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, o consultor e professor da Fazenda Ecológica, Jurandir Melado, diz que com a integração, contrariando antigas crenças, o que ocorre é uma cooperação ou sinergia entre as espécies, além da possibilidade de se obter vários produtos em uma mesma área ao trabalhar com diversos “andares” produtivos em vez de apenas um. Sendo assim, a palavra de ordem passou a ser “integração”.
Para Melado, quando um sistema silvipastoril é usado no lugar da monocultura de capim ou de árvores, diversas coisas positivas começam a ocorrer: o gado se beneficia da sombra das árvores, melhorando o equilíbrio e o conforto térmico que em algumas pesquisas, resultou em até 20% de aumento na produção. As árvores funcionam como verdadeiras “bombas de adubação”, retirando nutrientes de camadas profundas do solo e depositando-os na superfície através das folhas, galhos e troncos, beneficiando o solo e as outras plantas do sistema. “As árvores também se beneficiam, assim como o capim, da fertilização através dos dejetos do gado”, enfatiza o professor.
No sistema Silvipastoril, para que se tenha alta produtividade no fator “pecuária”, é indispensável que se use uma rotação racional das pastagens, que tem como ideal o Sistema de Pastoreio Voisin. O planejamento e construção dos piquetes para o manejo Voisin é então a primeira providência para um “Sistema Voisin Silvipastoril”. Depois, vem o plantio das árvores, que podem obedecer a diversos modelos, como o plantio em faixas paralelas ou no contorno interno dos piquetes, geralmente em três linhas de árvores. Para que os piquetes de pastagem possam ser utilizados pelo gado enquanto as mudas das árvores se desenvolvem, é necessário que as plantas sejam protegidas da ação do gado, com cercas elétricas temporárias.
Um prático sistema de piquetes móveis consta da utilização de sete lances de cercas elétricas móveis, formando dois piquetes. Quando o segundo piquete estiver em utilização, as três cercas móveis exclusivas do primeiro piquete são movimentadas formando um novo piquete contíguo ao segundo. Os bebedouros e cochos de sal acompanham os piquetes móveis pela área de cultura/pastoreio.
Espécies florestais e distribuição espacial para a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Em relação às espécies florestais e a distribuição espacial para a integração lavoura-pecuária-floresta, o pesquisador e gestor do Núcleo Temático de Produção Vegetal e Pastagens da Embrapa Gado de Leite, Marcelo Dia Müller, acredita que a escolha da espécie florestal, assim como a distribuição e densidade de árvores no sistema, irá depender, primeiramente, de um diagnóstico da propriedade. “É necessário se conhecer os aspectos da condição edafoclimática da área, a hidrologia, o nível tecnológico e o sistema de produção adotados na propriedade, assim como o objetivo de uso do recurso florestal, dentre outros”, pontua Muller.
Para o pesquisador, o componente florestal pode ter duas principais vertentes: uma diz respeito ao uso madeireiro, com o objetivo de obtenção de produtos madeireiros (madeira nobre para serraria, madeira para lenha/carvão, fabricação de mourões, postes, construções rurais, etc) e a outra se refere ao uso como recurso forrageiro, onde o componente florestal é utilizado como parte da dieta animal”.
Muller destaca ainda que grande parte dos sistemas tem adotado como prioridade o uso do componente florestal como recurso madeireiro, visando à diversificação da renda. “A escolha da espécie florestal deve considerar aspectos tais como a adaptação ecológica à região, velocidade de crescimento, arquitetura da copa, características de fuste desejáveis para a produção madeireira e, principalmente, nível de conhecimento técnico a respeito da espécie. A velocidade de crescimento irá ditar a época em que será possível utilizar a área para o pastejo. Assim, quanto mais rápido o crescimento, mais cedo será possível o uso da área de pastagem para a produção animal, minimizando os custos com relação à arquitetura de copa”, enfatiza.
Já em relação à forma de disposição das árvores no sistema de arranjo de plantio, é importante considerar alguns fatores, como a declividade do terreno, o sistema de manejo florestal a ser adotado, o tipo de produto florestal esperado, o sistema de colheita adotado e o uso de plantio mecanizado a lavoura-pasto nas entrelinhas das árvores. “A declividade do terreno irá determinar a necessidade ou não de plantio em nível. Áreas mais acidentadas requerem a adoção de práticas de conservação, dentre elas o plantio em nível. Nas áreas mecanizáveis deve-se levar em conta as dimensões das máquinas que irão ser empregadas no plantio da lavoura-pasto nas entrelinhas das árvores, a fim de se otimizar o plantio. Os espaçamentos mais adequados são aqueles que proporcionam densidades de plantio variando de 200 a 450 árvores por hectare”, alertou Müller.
Fonte: Reportagem publicada na revista Campo Vivo – Edição 32
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