Pesquisador fala sobre sistemas de integração na Câmara dos Deputados
segunda-feira, dezembro 26, 2016
Durante seminário, João K destacou os benefícios dos sistemas de integração - Foto: Breno Lobato |
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O pesquisador lembrou que os sistemas ILP e ILPF já ocupam 11,5 milhões de hectares no Brasil, segundo estudo realizado pelo Kleffmann Group, "e a tendência é que vão cobrir todas as nossas áreas degradadas", completou. Ele apontou oito evoluções do setor agropecuário do País e contribuições ao cinturão tropical do planeta: introdução e melhoramento de forrageiras tropicais; introdução e melhoramento do gado Nelore e outras raças bovinas; tropicalização da soja e fixação biológica de nitrogênio; domínio na correção de acidez e adubação dos solos tropicais; novas e eficientes cultivares; Sistema Plantio Direto tropical; safra e safrinha num mesmo período de chuvas; além dos sistemas de integração, que reúnem as conquistas tecnológicas anteriores.
"Ao invés de nos chamarem de país degradador, deviam nos chamar de país altamente inovador e conservador (do meio ambiente). Temos o mais ousado e eficiente agropecuarista do planeta", disse, apontando dados de evolução da área cultivada, que não aumentou significativamente entre 1975 e 2010, enquanto houve elevados incrementos de produção e de produtividade nas principais culturas anuais no País. "O Brasil é o maior exemplo do mundo em termos de evolução de produtividade e produção. No tocante à produção de carne, é a mesma coisa. Evoluímos na produção de bovinos, aves e suínos", afirmou.
João K apontou ainda as diferenças entre o desempenho dos produtores que adotam tecnologias e boas práticas e as médias nacionais de produtividade nas culturas agrícolas. "Vejam o salto que podemos dar, em cada espécie cultivada, só em relação ao uso correto das tecnologias que já estão prontas, muitas delas há muito tempo", observou.
Benefícios
Ao falar dos benefícios proporcionados pelos sistemas ILP e ILPF, o pesquisador comentou sobre algumas particularidades. A adoção dos sistemas de integração pode recuperar áreas degradadas a custo zero, com a lavoura pagando os custos da recuperação; manter pastagens produtivas, hoje um grande desafio da pecuária brasileira diante das grandes áreas com pastos degradados; aumentar a produtividade e produção por unidade de área; reduzir riscos; mitigar os efeitos dos veranicos devido à cobertura do solo; reduzir impactos ao meio ambiente; e gerar empregos – segundo João K, cada 150 hectares de área com sistemas de integração geram um novo posto de trabalho com qualidade de vida.
O pesquisador comentou sobre alguns casos de sucesso com a adoção dos sistemas de integração. A Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), passou a adotar os sistemas de integração a partir de 2006 para recuperar pastagens degradadas e hoje apresenta uma produção diversificada e crescente. Em 12 meses, a fazenda consegue colher 62 sacas de soja/ha, imediatamente depois semeando milho consorciado com capim e colhendo 120 sacas/ha do grão. Com o milho colhido, o gado é colocado na área e se alimenta da forragem. Em seguida, o gado é retirado, e no local é formada palhada para o plantio direto e matéria orgânica no solo. "A fazenda transformou uma área literalmente degradada com um processo altamente produtivo", explicou.
O exemplo mais recente apresentado por João K é o da Fazenda Campina, em Caiuá (SP), também com solos arenosos (8% a 12% de argila), que implantou a ILPF há três anos. O sistema permitiu reduzir a área de pastagem em 400 hectares, aumentar o rebanho em 1 mil cabeças e o peso da desmama em 20 quilos, além de reduzir em um ano a idade da cria do gado Nelore em função da melhor qualidade da forragem. "Mesmo com 29 dias de veranico, colhemos 39 sacas/ha de soja, 82 sacas/ha de milho, quatro cabeças de gado/ha e mais palhada", detalhou.
Diante do desafio de recuperar cerca de 100 milhões de pastagens degradadas no País, 50% delas em solos arenosos distribuídos em todos os Estados, o pesquisador apontou a oportunidade de transformar o Brasil no maior celeiro do mundo. "Seremos responsáveis por 40% da produção de alimentos para o mundo. Estamos prontos para produzir", disse.
O pesquisador salientou que os sistemas de integração permitem quatro a cinco safras (se a floresta for considerada) em 12 meses apenas com a água da chuva. "Os nossos dois principais objetivos são potencializar o Sistema Plantio Direto e produzir um boi barato e precoce", afirmou, destacando o sinergismo entre a braquiária, que reestrutura o solo, e a lavoura, que se torna mais produtiva. Outros benefícios dessa interação apontados foram a incorporação de matéria orgânica; a melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; a reciclagem de nutrientes; a prevenção de fungos do solo; e a redução da aplicação de defensivos agrícolas.
João K citou diversas opções em sistemas de integração, como o Sistema Barreirão, o Sistema Santa Brígida e o Sistema Santa Fé, consórcios que permitem a recuperação do solo, introdução de leguminosas no sistema, produção de palha para plantio direto e forragem para os animais no período de seca. Há sistemas de sucessão de culturas, que mantêm o solo com vegetação durante todo o ano; e sistemas de rotação de culturas, constituídos por lavoura no período chuvoso, bovinos na entressafra, transição e bovinos por dois a três anos. Outras modalidades realizam a sobressemeadura de forrageira sobre a lavoura, ganhando assim 40 dias de período chuvoso no Brasil Central. O pesquisador lembrou ainda que há maquinário agrícola disponível para os diferentes perfis de produtores que desejam adotar os sistemas de integração.
Meio ambiente
Os sistemas ILP e ILPF são também benéficos ao meio ambiente, conforme explicou João K. Como eles mantêm o solo vegetado durante o ano todo, há a captação de o gás carbônico, um dos gases de efeito estufa (GEE). Além disso, por permitirem o encurtamento do período de abate dos bovinos de cinco anos para dois anos e meio, menos gás metano, outro GEE, é emitido pelos animais. "Portanto, a ILP e a ILPF são sistemas que privilegiam altamente o meio ambiente", afirmou.
Ele apresentou gráfico sobre a evolução da fertilidade do solo e da produção de matéria orgânica do solo na Fazenda Santa Brígida, apontando o crescimento ao longo dos anos com ILP e ILPF. "Sem matéria orgânica, esqueçam agricultura nos trópicos. Não haveria retenção de água. Por isso, ela é o nosso grande insumo", explicou, em seguida associando à evolução das produções de soja, milho, animais e carne em sistemas de integração.
Outro gráfico mostrado indicava a mensuração da recarga do lençol freático em sistemas de integração e no Cerrado nativo. "Num sistema integração bem feito, a recarga do lençol freático é muito mais eficiente que no Cerrado nativo", apontou.
Sobre o componente florestal, o pesquisador informou que há alguns modelos de introdução no sistema, como os de renques. Se entre os lavoureiros a floresta tem pouca aceitação, uma alternativa de uso das árvores é como quebra-vento, já que o vento é o principal agente que seca os pastos. "Hoje já existem propriedades com mais de 50 quilômetros de quebra-vento em divisões de pastos e corredores. Vai produzir dinheiro e benefício para o todo", explicou. Outro benefício da floresta no sistema de integração é o conforto animal. Segundo João K, a sombra das árvores chega a proporcionar 22% a mais no ganho de peso dos bovinos.
Com todas essas características, os sistemas ILP e ILPF representam uma estratégia de intensificação sustentável do uso da terra. "À medida que entraram o milho safrinha, o capim, o boi e a árvore, nós não paramos mais. É a agropecuária sem parar. Não existem mais férias: é a mão-de-obra e o maquinário produzindo o ano todo", ressaltou.
Ao final, o pesquisador lembrou que os sistemas de integração já estão presentes em todo o País e se encontram em expansão. "Tem opção para todo mundo, seja pecuarista ou lavoureiro, pequeno, médio ou grande. Ela permite adaptações locais e tudo que o produtor quiser", comentou.
Sobre os sistemas de integração
Os sistemas de integração envolvem a produção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou carne na mesma área, em plantios em rotação, consorciação e/ou sucessão. O sistema funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais (arroz, feijão, milho, soja ou sorgo) e de árvores, associado a espécies forrageiras (braquiária ou panicum). Há várias possibilidades de combinação entre os componentes agrícola, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponível, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuária (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF).
Para acelerar a ampla adoção dos sistemas de integração por produtores rurais como parte de um esforço visando à intensificação sustentável da agricultura brasileira, foi criada em 2012 a Rede Fomento ILPF. Formada pela parceria entre as empresas Cocamar, Dow AgroScience, John Deere, Parker, Syngenta e a Embrapa, que a co-financiam, a Rede apoia uma rede com 97 Unidades de Referencia Tecnológica distribuídas em todos os biomas brasileiros e que envolve a participação de 19 unidades de pesquisa da Embrapa.
Fonte: Breno Lobato - Embrapa Cerrados
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