Áreas cobertas por vegetação natural podem ser exploradas de forma sustentável e têm potencial para gerar renda
Você sabia que pode produzir riqueza em sua área de reserva legal? E que os ganhos por hectare podem chegar a ser seis vezes maiores do que aqueles gerados em uma área de pecuária extensiva? Esse foi o resultado a que chegaram os autores do artigo Finding the money for tropical forest restoration (“Encontrando o dinheiro para a restauração de florestas tropicais”, em tradução livre), veiculado em 2012 no periódico Unasylva, uma publicação da FAO.Curta nossa página no Facebook para ficar por dentro das novidades do mercado da Macaúba!
De acordo com Ingo Isernhagen, biólogo e pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, os números continuam sendo atuais e são relevantes para pensar a conservação dentro de modelos com retorno financeiro. “Hoje, o produtor pode olhar para a sua área de reserva legal como uma poupança verde, em que vai investir para ter uma compensação ao longo do tempo”, afirma.
Um mundo de oportunidades - No caso do artigo escrito pelos professores brasileiros – Pedro Brancalion e Ricardo Rodrigues, da Universidade de São Paulo (USP), Bernardo Strassburg, do Instituto Internacional para Sustentabilidade (ISS), e Ricardo Viani da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) –, a renda alternativa à produção pecuária de baixa produtividade viria de atividades que já são adotadas em áreas de Mata Atlântica em recuperação no país.
Alguns exemplos: a venda de madeira para uso nobre, intermediário e lenha; coleta de sementes de açaí e comercialização da polpa; plantio de culturas anuais nas entrelinhas da floresta nos primeiros anos de restauração; pagamento por serviços ambientais e produção de água; além da venda de créditos de carbono.
“Para chegar a esse número, de rendimento até seis vezes maior, eles consideraram, então, um horizonte de 30 anos, que abarca o período de investimentos e retorno somado ao potencial de todas as atividades juntas”, explica Isernhagen. De acordo com ele, no dia a dia da propriedade, é possível que ao colocar em prática duas ou três dessas opções o produtor encontre uma forma interessante de garantir uma renda extra.
Além das sugestões citadas no artigo, Isernhagen lembra do potencial de cultivo de espécies herbáceas, para fins cosméticos ou medicinais. Da possibilidade de produzir castanhas, seja a castanha-do-brasil ou castanha-de-caju, e óleos, como o de copaíba, cuja árvore é nativa da Amazônia. Outra possibilidade é até investir na apicultura. “Quando você tem bastante luminosidade, isso eleva a produção de flores e frutos, e o mel é um produto de valor agregado”, afirma o pesquisador.
No longo prazo, o que ele vislumbra é a possibilidade de escalonar a renda proveniente das atividades na área de reserva legal. “No começo você pode ter uma cultura anual nas entrelinhas, depois partir para a produção de polpa de frutas, fazer um desbaste de árvores para vender como lenha e, com o passar do tempo, ter alguma produção de madeira”, diz.
Ações práticas - Para chegar a ter bons resultados, no entanto, o produtor precisa implementar um manejo na área, segundo o que o próprio pesquisador tem constatado a campo, em Mato Grosso e Rondônia. Ao todo, são cinco os experimentos em curso nessa linha com coordenação da Embrapa. Um em Canarana e outro em Campo Novo do Parecis, no bioma Cerrado; um terceiro em Sinop, região de transição entre Cerrado e a Amazônia; um quarto em Guarantã do Norte, na Amazônia; e um quinto em Vilhena, no Estado de Rondônia. Em todos os locais, estão sendo avaliados diferentes métodos de restauração da vegetação, como a semeadura direta, semeadura a lanço, plantio de mudas e regeneração natural.
Métodos de reconstituição - Isernhagen afirma que o melhor manejo vai depender dos objetivos do produtor, mas que de modo geral se pode fazer uma combinação dos métodos de reconstituição. “Se o produtor só quer ficar regularizado, ele pode adotar a regeneração natural e preencher os vazios na mata com semeadura e plantio de mudas”, diz.
Agora, mesmo que queira acrescentar uma finalidade econômica à reserva legal, segundo ele, vale a pena dar tempo para que a área vá se recuperando sozinha. “A regeneração natural tem uma plasticidade maior, porque trabalha com as espécies que ocorrem na região”. No caso da Mata Atlântica, um período de dois anos seria suficiente para avaliar esse potencial. “Havendo muito vazio ou pouca riqueza de espécies na área, esse é o momento de começar a intervir”, diz o pesquisador.
Nos experimentos, ele também observou que em propriedades que antes eram destinadas à agricultura a regeneração natural costuma não ter o efeito desejado. “A passagem periódica de máquinas, a aplicação de defensivos, são fatores que afetam o banco de sementes do solo”, explica, o que não se aplica, via de regra, para áreas onde se praticava a pecuária extensiva.
O plantio de mudas, por sua vez, assim como a semeadura em linha, são indicados para maior controle das espécies implantadas e facilitação do manejo de combate a invasoras nos primeiros anos. Em ambos os casos, o pesquisador alerta para a necessidade de conhecer a procedência do material escolhido e adquirir produtos de qualidade.
“Hoje, ainda estamos defasados em termos de produção de mudas e sementes de nativas, e provavelmente é um obstáculo que o produtor vai encontrar”, diz. Os melhores resultados nesse sentido, segundo ele, foram obtidos no município de Canarana, onde o abastecimento do insumo foi feito pela Rede de Sementes do Xingu.
Outro manejo necessário, dependendo da espécie de árvore adotada, é a desrama – que pode ter seu custo inicial compensado no longo prazo.
A reserva legal - De acordo com o Código Florestal Brasileiro, a reserva legal caracteriza-se por ser uma área coberta por vegetação natural em que se pode explorar o manejo florestal sustentável.
O percentual da propriedade que deve ser reservado varia de acordo com o bioma, e é de 80% em áreas de floresta na Amazônia Legal; 35% em Cerrado na Amazônia Legal e 20% nos demais biomas brasileiros.
Fonte: Portal DBO
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