Estados Unidos, China e Brasil ratificam o Acordo de Paris, mas sociedade segue ignorando os efeitos e consequências mundiais das mudanças climáticas
Realizada no mesmo dia da cassação de Cunha, ratificação do Acordo de Paris por Michel Temer perdeu espaço nos noticiários | Beto Barata/PR/Fotos Públicas |
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A chancela brasileira ocorreu semanas depois que os Estados Unidos e a China, os dois maiores emissores responsáveis pelo agravamento do aquecimento global no planeta, também assinassem seus compromissos.
Tratam-se de sinais positivos que deverão redundar em ações concretas para reduzirmos o galopante aumento na temperatura do planeta? Talvez sim, mas com algumas ressalvas.
Ao participar da cerimônia de assinatura do Brasil, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, afirmou que o ato representou um primeiro e importante passo. Por outro lado, alertou que é necessária uma ação efetiva, capaz de mudar os rumos das políticas públicas brasileiras em relação à agenda do clima.
É neste ponto que residem os maiores desafios não só para o Brasil, mas em qualquer outra parte do mundo, para que todos participem efetivamente desses esforços, já que as consequências das alterações climáticas afetam a todos, indistintamente.
Se na COP 21 havia de seus participantes (majoritariamente representantes de governos, empresas, cientistas e ONGs) uma unânime compreensão sobre os malefícios do aquecimento global, não é menos verdade que, para os cidadãos residentes em todos esses países e continentes, o tema ainda é visto quase como ficção científica.
Não que as pessoas deixem de sentir seus efeitos no dia a dia. Muitos até afirmam em suas redes de relacionamento que secas, enchentes e ondas de calor, entre outros, tenham em sua origem as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global.
Mas de fato, o que as pessoas estão dispostas a fazer, apoiar, interagir a esse respeito? Em geral o que se vê é: absolutamente nada.
Ainda que, por um lado, falte exatamente clareza sobre como atuar numa questão tão complexa e universal, não é menos verdade a ausência ensurdecedora de informações mais palatáveis que envolvam definitivamente as pessoas para a importância e consequências do aquecimento global.
Parte da responsabilidade é de nós, jornalistas, ao não “chamar” as pessoas para uma maior discussão sobre o tema. Infelizmente, no mesmo dia que Temer assinou o compromisso brasileiro, a principal notícia foi a cassação do deputado Eduardo Cunha. Não há o que dizer sobre o destaque desse fato, mas, ao mesmo tempo, será possível que não exista espaço para também enfatizar a importância do ato climático?
O processo eleitoral ao longo do tempo e a indigência de seus candidatos tem representado outro fator de distanciamento dos cidadãos para estabelecer um debate construtivo com a sociedade. Seria importante que tivéssemos mais autoridades públicas no âmbito municipal, por exemplo, capazes de enxergar um pouco mais além do que asfaltamento de ruas ou a construção de um posto de saúde.
Bom lembrar que as previsões sobre o aquecimento do planeta tem superado as expectativas até dos mais pessimistas. Recentemente, foi divulgado que julho foi o mês mais quente já registrado desde que esse tipo de análise começou a ser feita, há 137 anos. Trata-se da décima quinta alta consecutiva de aumento constante da temperatura média global.
Com frequência, somos brindados com informações de pesquisadores e cientistas sobre os efeitos danosos do aquecimento para a agricultura, as florestas e a biodiversidade – e suas perdas catastróficas e irreversíveis.
Mesmo que Brasil, Estados Unidos e China tenham dado esse importante sinal para a humanidade, sem o envolvimento de todos dificilmente iremos alcançar os resultados almejados. Então, fica aí o convite: vamos falar mais sobre o clima?
Fonte: CartaCapital - Reinaldo Canto
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