Marina Grossi: 'Sustentabilidade não é custo, mas investimento e lucro'
quinta-feira, junho 30, 2016
Presidente do CEBDS afirma que a crise política e econômica não é justificativa para as empresas deixarem de lado a preocupação com o meio ambiente
Marina Grossi, presidente do CEBDS (Foto: divulgação/CEBDS) |
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ÉPOCA – Nos últimos anos, muitas empresas aumentaram seus investimentos em iniciativas ambientais. Com a crise econômica, é comum que esses investimentos sejam cortados. Qual a consequência disso para as empresas e para a sociedade?
Marina Grossi – Neste momento, empresas, cidadãos e governo estão repensando seus gastos e priorizando ações e iniciativas que têm para si maior importância estratégica. Nesse sentido, é imprescindível que as empresas consigam enxergar a oportunidade gerada por ações em sustentabilidade, ainda mais nestes momentos de crise. Ao fazer isso, as empresas estarão agregando valor a suas iniciativas, e a área pode ganhar não só novos investimentos, mas também foco dos gestores e atenção para ações mais emblemáticas.
ÉPOCA – Por que as empresas devem priorizar a sustentabilidade, mesmo em anos de crise?
Marina – Muitas empresas já começaram a entender que sustentabilidade não é custo, e sim investimento e lucro. Os retornos são de médio e longo prazos, mas os benefícios em reputação e competitividade são notáveis. A sustentabilidade tem grande função para aprimorar a percepção de riscos anteriormente internalizados no custo da empresa. Por exemplo, a baixa preocupação ambiental que gera o aumento de despesas em multas ou a diminuição da credibilidade.
ÉPOCA – Qual é o papel das empresas no combate aos impactos ambientais?
Marina – O setor empresarial é grande aliado no combate aos impactos ambientais. Também é papel dele promover ações de conservação e recuperação da biodiversidade e recursos hídricos, gestão e redução de emissões de gases de efeito estufa, efluentes e resíduos. Além disso, o próprio setor empresarial é responsável por dar à sociedade soluções tecnológicas para alcançar as metas de combate aos impactos ambientais.
ÉPOCA – Já existem no Brasil uma consciência e preferência do consumidor por produtos de empresas que respeitem o meio ambiente e se preocupem com procedimentos de sustentabilidade?
Marina – De forma embrionária, mas já perceptível. A busca pela transparência de informações é uma realidade cada vez mais presente. O Instituto Akatu, uma organização não governamental que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, afirma que o consumidor já está atento a empresas envolvidas em escândalos relacionados a direitos humanos como trabalho escravo, maus-tratos de animais e outras questões pontuais. Ainda assim, é importante mencionar que há um longo caminho para que, de fato, a sustentabilidade passe a ser incorporada como um valor intrínseco no processo de escolha.
ÉPOCA – Essa consciência do consumidor é importante? A senhora acha que ela tem algum impacto no comportamento das empresas?
Marina – Os consumidores são fator de pressão importante e têm capacidade de redirecionar o comportamento das empresas. No momento em que houver de fato essa mudança, em que o consumidor não se orientar somente pelo preço do produto, mas também com tantas outras questões sobre seu processo produtivo, pós-uso e todas as questões que permeiam essa compra, esse comportamento orientará uma nova forma de fazer negócios. Enquanto não chegamos a esse momento, indicativos pontuais, como boicotes esporádicos em determinadas ações ou posturas das empresas, já podem ser observados.
ÉPOCA – Supondo que uma empresa realmente não tenha mais de onde cortar gastos e precise reduzir seus investimentos em políticas de sustentabilidade. Existe uma maneira ideal de fazer essa redução?
Marina – Não há fórmula para uma recessão. Cada empresa vai se adequar de acordo com suas prioridades e as peculiaridades de seu mercado e setor. Se o marketing da empresa não estiver conectado com sua forma de fazer negócio, ele será cortado. Se a área de sustentabilidade serve tão somente para propaganda, idem. A sustentabilidade, como sempre afirmamos, não deve ser um “anexo”, mas sim paulatinamente internalizada na estratégia da empresa, o que faria de sua exclusão ponto de perda de lucratividade no médio e longo prazos. As empresas precisam entender o risco que correm ao reduzir investimentos nessa área.
ÉPOCA – A senhora acredita que a crise econômica pode piorar a crise ecológica?
Marina – Potencialmente, sim, mas isso seria um grande erro. Quando a economia se desacelera, novas fontes de renda são visadas por diferentes estratos da sociedade – seja em nível individual, com pessoas cortando ilegalmente árvores para venda; seja em nível corporativo, com empresas mais preocupadas com o lucro imediato do que com sua sustentabilidade futura e preterindo a segunda pela primeira; seja em nível governamental, com a flexibilização de diversas proteções socioambientais com a justificativa de aquecimento da economia. Não é possível sair da crise se insistirmos nessas soluções de curtíssimo prazo.
ÉPOCA – Muitas das grandes empresas parecem já ter aprendido a importância do cuidado com o meio ambiente. Em meio a uma crise econômica, com tantas preocupações financeiras urgentes, qual seria o caminho para despertar a consciência e o interesse por sustentabilidade nos pequenos e médios empresários?
Marina – De forma correlata às grandes: mostrando claramente qual o impacto real dessa conscientização para o dia a dia de seu negócio. Os pequenos e médios empresários têm de se atentar tanto às consequências de alterações ambientais, que provavelmente os atingirão com mais força, já que sua capacidade adaptativa é menor, quanto ao impacto que sua presença tem localmente. Por exemplo, a regularização do uso da água de uma pequena fábrica trará menor chance de multas ou outros custos e possivelmente maior capacidade de eficiência de sua operação.
>> Os vencedores do prêmio nos anos passados
Fonte: Época | NATÁLIA SPINACÉ
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