Pesquisa da Embrapa mostra que infestação pelo inseto é 38% menor em sistemas de criação silvipastoris, quando se compara com modelo convencional
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Para a pesquisadora Márcia de Sena Oliveira, tal fato pode ocorrer devido à maior diversidade e quantidade de insetos no sistema silvipastoril, o que dá indicativos de que nesse modelo as interações ecológicas contribuem para o equilíbrio populacional de ectoparasitas, como é a mosca-dos-chifres. Ela explica ainda que uma justificativa plausível seria que no bolo fecal, onde ocorre o desenvolvimento da mosca, ela encontraria mais predadores.
Além do comportamento da mosca-dos-chifres, também foram avaliadas no estudo infestações por vermes, carrapato bovino e berne em gado de corte. A análise dos dados trouxe resultados diferentes. No caso da contagem de carrapatos não houve alterações significativas entre os dois sistemas, embora os animais criados no modelo convencional tenham apresentado médias um pouco superiores. Em relação aos vermes e aos bernes, os testes nos dois sistemas mostraram médias de parasitismo semelhantes. Já para a mosca-dos-chifres, de fato, foram encontradas diferenças significativas.
Caso real
Na propriedade de Maria Fernanda Guerreiro, na cidade de Brotas, interior de São Paulo, a mosca-dos-chifres não é problema. Segundo ela, a integração da pecuária com árvores mostrou-se eficiente nesse controle. Em 2011, quando implantou o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na fazenda, Maria Fernanda arrendou cerca de 20 hectares para criação de gado. "Eu arrendei uma parte para o meu vizinho, que tem uma produção extensiva, em sol pleno e manejei os animais no sistema ILPF", conta. Na época de fazer o controle, o arrendatário foi até a propriedade, preparado para aplicar o inseticida e as vacinas nos animais.
No entanto, o vizinho não precisou usar a medicação. "A gente vê, na prática, que diminui. Não chega a não ter moscas, mas a quantidade é muito menor do que no convencional. Principalmente em uma área que eu tenho com a árvore citriodora (Corymbia citriodora). Não sei se é o cheiro, mas houve uma diminuição significativa, tanto de mosca, quanto de carrapato", afirma. Segundo ela, tirando o manejo, a categoria animal e a procedência dos animais da fazenda vizinha coincidem com a sua.
Produtividade
Segundo a pesquisadora Márcia, é importante destacar que os resultados de produtividade foram iguais tanto para o convencional como para o silvipastoril. Tal fato indica que o manejo das doenças não precisa ser diferenciado para qualquer dos parasitas estudados, especialmente em relação à mosca-dos-chifres, que teve sua população reduzida na integração da pecuária com as árvores.
Quanto ao bem-estar animal, foram verificadas vantagens no modelo integrado. "Os animais criados no silvipastoril apresentaram temperamento mais dócil e calmo, além disso ficaram mais tempo pastejando. Para o produtor é um aspecto positivo, já que ganham mais peso e produzem mais leite", conta.
Mosca-dos-chifres
Infestações pela mosca-dos-chifres, juntamente com carrapatos e infecções por vermes, estão entre as principais parasitoses bovinas. Além do prejuízo econômico para os pecuaristas, os parasitas afetam a saúde e o bem-estar animal.
Outro problema é o aumento do número de insetos resistentes aos produtos usados para o controle da mosca. "Os pecuaristas não gostam de ver as moscas em torno dos animais. Então, eles usam o inseticida de modo incorreto e sem controle, causando a resistência", explica a pesquisadora.
Essa é uma preocupação do pecuarista Henrique Strang, da Fazenda Tradição, no Município de Lavínia (SP). Para evitar os riscos de resistência, ele faz rotação de pastagens. "Procuramos não utilizar inseticidas muito agressivos, com efeitos prolongados e que possam interferir nos inimigos naturais da mosca", enfatiza o produtor que trabalha com sistema convencional. A mosca-dos-chifres parasita bovinos, bubalinos e equídeos, principalmente.
Árvores e animais
O sistema silvipastoril integra árvores, pastagem e gado na mesma área. Esses modelos têm sido boas alternativas para os produtores rurais diversificarem a produção e melhorarem a renda. Outro fator a ser considerado é que a implantação desse sistema é incentivada pelo governo federal, por ser uma tecnologia importante para redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Ao incluir árvores, o pecuarista proporciona bem-estar animal por meio de áreas sombreadas. No entanto, quando se integra o plantio de árvores com pecuária, o controle deve ser constante devido à competição por luz, água e nutrientes entre a pastagem e as espécies arbóreas.
Não existe um modelo padrão para adoção. O produtor rural deve conhecer as possibilidades e implantar a alternativa mais viável para a realidade da sua propriedade.
A pesquisa ocorreu entre 2013 e fim de 2015 na Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste.
Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste - retirado de Portal DBO
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