Embrapa Pantanal e parceiros abordam o tema com produtores rurais da região
Pesquisador Felipe Ribeiro conversa com produtores rurais, técnicos e estudantes da área ambiental em Corumbá – Foto de Nicoli Dichoff |
“Quando a gente fala em atender ao Código Florestal, a primeira pergunta que eu tenho ouvido do produtor é: isso vai custar caro?”. É dessa forma que Felipe Ribeiro, pesquisador da Embrapa Cerrados, começa a conversar com os técnicos, estudantes e produtores rurais dos assentamentos próximos à região de Corumbá (MS), sobre restauração ecológica – um dos pontos chave abordados pelo Código Florestal brasileiro. O diálogo aconteceu durante o curso “Técnicas de coleta e conservação de sementes florestais, produção de mudas e restauração ecológica – bioma Pantanal”, promovido pela Embrapa Pantanal no assentamento Taquaral, próximo à fronteira com a Bolívia.
Com as premissas de preservar florestas e biomas brasileiros, levar a sustentabilidade à produção agrícola e atender a questões sociais sem prejudicar o meio ambiente, o Código Florestal define a restauração ecológica como “o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído”. Dessa forma, as ações de restauração ambiental são ferramentas importantes para recuperar ambientes, aproximando-os de seu estado original, segundo Felipe. “Uma das preocupações que o Código Florestal tem é de usar a coleta de sementes e a produção de mudas como meios de atendê-lo, usando-as para fazer a recuperação e restauração dessas áreas”, afirma.
Para os diferentes projetos de recuperação, o pesquisador ressalta a importância da análise e planejamento por parte do produtor. “O que ele quer trazer de volta? Que tipo de vegetação? Quando ele tem essa decisão tomada, ele tem que saber se o solo está degradado ou não (…). Depois, ele tem que descobrir se há pasto por perto – porque se tiver pastagens, existe o gado que pode comer essas plantas e ele tem que eliminar essa variável. Terceiro, é preciso saber se há risco de incêndio no local para não fazer o plantio e perdê-lo depois”, diz Felipe.
Porém, como os biomas brasileiros têm características distintas, é preciso analisar as peculiaridades de cada um antes de iniciar os projetos de recuperação. No Pantanal, por exemplo, os ambientes podem variar bastante de uma propriedade para outra. “Primeiro, é preciso entender que o Pantanal é complexo no sentido de ter diferentes paisagens. Então, se nós vamos recuperar, temos que entender o que queremos recuperar, quais espécies ocorriam naturalmente nesse ambiente. Depois, é preciso disponibilizar para o produtor os “ingredientes”: que espécies podem ser “misturadas” com as técnicas adequadas – sejam elas a produção de mudas, semeadura direta (propagação sexuada) ou a propagação assexuada (vegetativa)”.
Outra condição importante a se considerar, segundo Felipe, é a quantidade de recursos financeiros que o produtor pode gastar no processo. Porém, é nesse momento que o pesquisador responde à pergunta que ele mesmo fez no início da discussão: os gastos necessários para a restauração ecológica são, na verdade, investimentos. “O produtor tem que ter um aproveitamento completo da propriedade dele. Se ele entende que pode ganhar dinheiro plantando soja, algodão ou pastagem para o gado, ele também precisa saber que pode ganhar dinheiro com a natureza”, diz Felipe. “Quando esse produtor toma a decisão sobre o que planta, ele pode escolher quais são as espécies que ele considera importantes, pode fazer um enriquecimento da área dele com plantas de potencial econômico, como o pequi, o jatobá, a macaúba. São espécies com o potencial de fazer com que o produtor ganhe dinheiro futuramente”.
Seu Antônio Francisco de Oliveira, produtor rural do assentamento Tamarineiro 1, próximo a Corumbá, mora há 25 anos na região. Com o foco de sua propriedade na pecuária, ele afirma ter se interessado pela recuperação ambiental ao observar o ambiente em que vive e trabalha. “Eu percebo que tem mudado a nossa vegetação. Ela tem se degradado. O próprio pasto tem um período de vida muito curto e as vacas leiteiras sempre perecem. Aí, é preciso preencher a alimentação delas com ração, por exemplo”. Com 57 anos de idade e cursando o 5º semestre de Licenciamento em Educação no Campo na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGV), seu Antônio afirma com convicção: “o foco hoje é realmente a natureza, a sua recuperação. É isso o que a gente vive. É disso que a gente depende”.
Fonte: Jornal Agora MS
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