Brasil precisa superar barreiras para se tornar referência em bioquerosene
terça-feira, setembro 01, 2015
Cultivo de pinhão-manso pela Embrapa: abundância de plantas que podem servir de matéria-prima para o bioquerosene é uma das vantagens do Brasil em relação a outros países
O Brasil tem pesquisa de ponta, extensa área de cultivo e riqueza de matéria-prima para fabricação de bioquerosene. Além disso, lidera o ranking mundial de uso da biomassa na produção de energia e acumula experiência na implementação do programa do etanol há décadas. Isso não significa, contudo, que a rota que levará a um céu mais verde está livre de turbulências. Afinal, mesmo quando as matérias-primas estiverem prontas para cultivo em escala comercial, será preciso resolver gargalos de infraestrutura aeroportuária e de logística.
Os principais desafios para mitigar a pegada de carbono do setor aéreo foram publicados em um documento divulgado há dois anos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela Universidade de Campinas (Unicamp), pela Boeing e pela Embraer. Fruto de workshops ocorridos em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal, o relatório Plano de voo para biocombustíveis de aviação no Brasil: plano de ação avalia pontos cruciais para colocar o país na rota da indústria de energia limpa para a aviação, em um momento em que o setor estabelece metas de redução das emissões de CO2 na atmosfera.
Um dos desafios destacados pelo relatório é a falta de tecnologia de refino e de conversão da biomassa em combustível. "Se pensar em quem seria capaz de se tornar um fornecedor mundial, o Brasil teria plena condição. Temos mercado local capaz de consumir a produção, matéria-prima, pesquisa de ponta, um clima privilegiado, cultura de combustíveis renováveis... A única coisa que não temos são as tecnologias de conversão", observa Pedro Scorza, assessor técnico para combustíveis renováveis da Gol e diretor de biocombustíveis da aviação da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).
Custos
Diferentes matérias-primas exigem equipamentos e substâncias diversas para a geração do combustível. No caso das espécies vegetais oleoginosas, como macaúba e pinhão-manso, apontadas como fontes em potencial a longo prazo, os custos de conversão são mais caros que os utilizados com materiais fósseis. Uma solução possível apontada pelo plano de ação é integrar as plantas de refino a usinas já existentes, o que reduziria o custo da conversão do óleo vegetal em hidrocarbonetos. O relatório também destaca que, para o bioquerosene ser viável, não basta pensar no custo da produção: é preciso levar em conta o valor da tecnologia de conversão daquela matéria-prima.
Outra questão importante é o transporte do biocombustível para os aeroportos. "Entre 75% e 80% do custo do combustível é logística. Se tiver a biomassa certa, mas ela estiver longe de cada mercado, nunca vai funcionar. O desafio da competitividade de preço só será superado quando houver biomassa e logística", destaca Scorza. Esse é um dos motivos pelos quais os pesquisadores de matérias-primas defendem múltiplas fontes de bioquerosene, respeitando as vocações regionais, além do melhoramento genético das espécies para que se adaptem ao clima e ao solo das diferentes regiões. "Você vai fazer bioquerosene no sul do país para mandar para o norte? Você não vai viajar quatro mil quilômetros com um negócio desse. Então, qual é a matéria-prima que está lá? Qual é o processo que está lá para converter a matéria-prima e ter o material disponível lá no norte, no sul, no centro-oeste?", exemplifica Guy de Capdeville, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia.
Políticas públicas
Da pesquisa de matérias-primas à organização da distribuição, todos os pontos que envolvem a produção e a adoção de bioquerosene no Brasil dependem de uma agenda política, observa o relatório coordenado pela Unicamp. "Como em outras tecnologias inovadoras, o desenvolvimento de biocombustíveis para a aviação depende fortemente de mecanismos de apoio e de políticas públicas apropriadas", diz o documento, ressaltando que as exigências de qualidade do setor aeronáutico exigirão um custo extra na produção. "Políticas de biocombustíveis de longo prazo, que integrem os combustíveis para todas as modalidades de transporte motorizado e reconheçam a necessidade particular da aviação de alternativas sustentáveis de combustível, terão de ser estabelecidas para tornar o biocombustível para aviação economicamente viável."
Fonte: Correio Braziliense - retirado de Ubrabio
O Brasil tem pesquisa de ponta, extensa área de cultivo e riqueza de matéria-prima para fabricação de bioquerosene. Além disso, lidera o ranking mundial de uso da biomassa na produção de energia e acumula experiência na implementação do programa do etanol há décadas. Isso não significa, contudo, que a rota que levará a um céu mais verde está livre de turbulências. Afinal, mesmo quando as matérias-primas estiverem prontas para cultivo em escala comercial, será preciso resolver gargalos de infraestrutura aeroportuária e de logística.
Os principais desafios para mitigar a pegada de carbono do setor aéreo foram publicados em um documento divulgado há dois anos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pela Universidade de Campinas (Unicamp), pela Boeing e pela Embraer. Fruto de workshops ocorridos em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal, o relatório Plano de voo para biocombustíveis de aviação no Brasil: plano de ação avalia pontos cruciais para colocar o país na rota da indústria de energia limpa para a aviação, em um momento em que o setor estabelece metas de redução das emissões de CO2 na atmosfera.
Um dos desafios destacados pelo relatório é a falta de tecnologia de refino e de conversão da biomassa em combustível. "Se pensar em quem seria capaz de se tornar um fornecedor mundial, o Brasil teria plena condição. Temos mercado local capaz de consumir a produção, matéria-prima, pesquisa de ponta, um clima privilegiado, cultura de combustíveis renováveis... A única coisa que não temos são as tecnologias de conversão", observa Pedro Scorza, assessor técnico para combustíveis renováveis da Gol e diretor de biocombustíveis da aviação da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).
Custos
Diferentes matérias-primas exigem equipamentos e substâncias diversas para a geração do combustível. No caso das espécies vegetais oleoginosas, como macaúba e pinhão-manso, apontadas como fontes em potencial a longo prazo, os custos de conversão são mais caros que os utilizados com materiais fósseis. Uma solução possível apontada pelo plano de ação é integrar as plantas de refino a usinas já existentes, o que reduziria o custo da conversão do óleo vegetal em hidrocarbonetos. O relatório também destaca que, para o bioquerosene ser viável, não basta pensar no custo da produção: é preciso levar em conta o valor da tecnologia de conversão daquela matéria-prima.
Outra questão importante é o transporte do biocombustível para os aeroportos. "Entre 75% e 80% do custo do combustível é logística. Se tiver a biomassa certa, mas ela estiver longe de cada mercado, nunca vai funcionar. O desafio da competitividade de preço só será superado quando houver biomassa e logística", destaca Scorza. Esse é um dos motivos pelos quais os pesquisadores de matérias-primas defendem múltiplas fontes de bioquerosene, respeitando as vocações regionais, além do melhoramento genético das espécies para que se adaptem ao clima e ao solo das diferentes regiões. "Você vai fazer bioquerosene no sul do país para mandar para o norte? Você não vai viajar quatro mil quilômetros com um negócio desse. Então, qual é a matéria-prima que está lá? Qual é o processo que está lá para converter a matéria-prima e ter o material disponível lá no norte, no sul, no centro-oeste?", exemplifica Guy de Capdeville, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia.
Políticas públicas
Da pesquisa de matérias-primas à organização da distribuição, todos os pontos que envolvem a produção e a adoção de bioquerosene no Brasil dependem de uma agenda política, observa o relatório coordenado pela Unicamp. "Como em outras tecnologias inovadoras, o desenvolvimento de biocombustíveis para a aviação depende fortemente de mecanismos de apoio e de políticas públicas apropriadas", diz o documento, ressaltando que as exigências de qualidade do setor aeronáutico exigirão um custo extra na produção. "Políticas de biocombustíveis de longo prazo, que integrem os combustíveis para todas as modalidades de transporte motorizado e reconheçam a necessidade particular da aviação de alternativas sustentáveis de combustível, terão de ser estabelecidas para tornar o biocombustível para aviação economicamente viável."
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